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50 anos do tri: a caminhada da revolucionária Seleção Brasileira até o título contra a Itália

Lucas Holanda
Lucas Holanda
Publicado em 21/06/2020 às 7:18
Carlos Alberto Torres foi o responsável por levantar a taça de tricampeão. Foto: Acervo Estadão Conteúdo
Carlos Alberto Torres foi o responsável por levantar a taça de tricampeão. Foto: Acervo Estadão Conteúdo

A Copa do Mundo já teve 21 edições desde 1930. Entre diversos esquadrões ao longo dos anos, um conseguiu reunir tudo que outros não conseguiram. A Hungria em 1954 e a Holanda vinte anos depois marcaram época e foram finalistas, mas não venceram. Maradona levou a Argentina ao bi em 1986, mas sem tanta plasticidade coletiva. O Brasil de Carlos Alberto Parreira em 1994 foi o responsável por quebrar um tabu de 24 anos sem título da amarelinha, mas também com alguns questionamentos ofensivos. Esses são alguns exemplos de grandes times campeões do mundial, mas que por um ou outro motivo estão abaixo da Seleção Brasileira de 1970, que foi tricampeã do mundo no México.

Comandada por Zagallo, aquele time de 1970 conseguiu reunir todos os ingredientes para se tornar - quase que de forma unânime - o maior esquadrão que já ganhou uma Copa do Mundo. O Brasil de 1970 marcou época como a Hungria e trouxe conceitos modernos como a Holanda, mas diferentemente das outras duas conseguiu a taça e até mesmo um patamar altíssimo de competitividade para mudar cenários adversos - algo que faltou aos dois países europeus em algum momento. Nos 50 anos do tri completados neste domingo, a reportagem do Jornal do Commercio faz um raio x daquela campanha que rendeu o título do Mundial e também de melhor seleção da história das copas.

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A QUEDA DE SALDANHA E A CHEGADA DE ZAGALLO

O técnico que classificou o Brasil para a Copa do Mundo de 1970 e que fez boa parte da preparação não foi Zagallo, mas sim João Saldanha. Só que o Saldanha, o famoso 'João Sem Medo, não era treinador de ofício. Na verdade, até a sua morte em 1990, ele só teve duas oportunidades de trabalhar no comando de uma equipe. O Botafogo, clube onde ele era diretor e, por conta de uma demissão em 1057, Saldanha assume e fica até 1959. De lá, passa a ser um comentarista com opiniões fortes, críticas e que recebe o convite para assumir a Seleção Brasileira em fevereiro de 1969. O curioso é que o presidente da CNB da época, João Havelange, afirmou que contratou Saldanha com o intuito de que as críticas dos jornalistas diminuíssem, pois teria um deles no comando.

Com o 4-2-4 como principal esquema, Saldanha classificou o Brasil para a Copa do Mundo de 1970. Durante a campanha, o esquadrão brasileiro ficou conhecido como as 'Feras do Saldanha'. Se tecnicamente estava tudo bem, por que o treinador caiu no dia 17 de março de 1970, faltando exatos 78 dias para a Copa do Mundo? No livro 'Quem derrubou João Saldanha', publicado pelo jornalista Carlos Ferreira Vilarinho em 2010, o autor detalha toda a série de acontecimentos que culminaram na demissão do comandante.

Naqueles anos, o Brasil vivia diante de um período de ditadura militar, que havia se tornando ainda mais dura após a instituição do AI-5, em dezembro de 1969. E João Saldanha era um cara politicamente bastante ativo, militante do Partido Comunista Brasileiro, inclusive. Mesmo fazendo uma campanha com seis jogos e seis vitórias nas eliminatórias, Saldanha também foi duramente criticado por Dorival Knipel, treinador do Flamengo em 1970 e conhecido pelo apelido de Yustrich. Como resposta, segundo consta no livro publicado por Carlos Ferreira Vilarinho, o treinador da Seleção Brasileira entrou no vestiário do clube carioca com um revólver.

Além disso, problemas no campo e de relacionamentos: más apresentações diante da Argentina e do Bangu nos amistosos de preparação para a Copa do Mundo e também desentendimentos com preparadores físicos da Seleção, que não confiavam no Saldanha para conquistar o Mundial do México. Por fim, o treinador se recusou a convocar o centroavante Dario, o famoso Dadá Maravilha, indicado por Médici (presidente da época). Saldanha disparou uma frase que ficou eternizada ao longo dos anos: "Ele (Médici) escala o ministério, eu convoco a seleção", disse o técnico, que foi demitido duas semanas depois após essa declaração e substituído por João Saldanha.

Em seu livro, Carlos Ferreira Vilarinho diz que a ditadura militar também via na Seleção Brasileira uma forma de ganhar popularidade na época, visto que o futebol é uma paixão mundial. Por conta disso e pelos resultados e apresentações ruins, a cúpula militar não tinha confiança de que o Saldanha tivesse condições de levar o Brasil ao título e aí Médici ordenou que Havelange demitisse o 'João Sem Medo'. Curioso é que Zagallo não foi a primeira opção, mas só aceitou pela recusa de Dino Sani para o cargo.

CHEGADA DE ZAGALLO E A PREPARAÇÃO MODERNA PARA A COPA 

A preparação do Brasil para a Copa do Mundo de 1970 começou já no ano anterior com João Saldanha. O então técnico tinha conhecimento de aquele Mundial necessitava de uma preparação bem maior, pois a altitude seria um adversário a mais para quem não tivesse acostumado. Por conta disso, convocou Lamartine daCosta, oficial da Marinha Brasileira e que tinha sido um observador nas Olimpíadas de 1968, realizada na própria cidade do México. E nem mesmo a troca no comando da Seleção mudou a preparação do Brasil, que previa o isolamento na cidade de Guanajuato, onde o foco seria maior no físico e não na parte técnica ou tática.

Ao todo, foram três semana em Guanajuato, onde a preparação da Seleção era constantemente criticada pela imprensa da época e também questionada por jogadores. No entanto, os treinos físicos duros e diários deram resultados. Em livro publicado pela Fifa sobre a Copa do Mundo de 1970, a entidade valorizou os resultados físicos obtidos pela equipe de Zagallo no Mundial do México. O zagueiro Brito, por exemplo, titular da campanha, foi o atleta com o melhor preparo físico naquela Copa.

Nos dois primeiros jogos do Brasil naquela campanha, a equipe de Zagallo só confirmou a vitória na segunda etapa, o que provava a tese de que aquele elenco sobrava fisicamente contra os adversários - além de tecnicamente, claro. Na semifinal contra o Uruguai, o Brasil novamente conseguiu decidir o jogo na etapa final. Na decisão contra a Itália, mesmo roteiro. Terminou o primeiro tempo empatando e, no segundo tempo, terminou goleando por 4x1.

ARRANJO PARA TODOS OS '10' E A PRESENÇA DO FALSO 9

O Zagallo treinador da Seleção Brasileira teve um pouco da imagem arranhada com a Copa do Mundo de 1998, onde o Brasil até chegou na final, mas levou um 3x0 acachapante da França e perdeu o Mundial - vale lembrar que aquele time já vinha jogando mal antes mesmo da decisão. No entanto, o Zagallo de 1970 era diferente. Era revolucionário. E mostrou isso na preparação e durante o mundial. Por mais que aquele time já tivesse uma estrutura definida por Saldanha, Zagallo incrementou novos conceitos e que até hoje são usados por grandes times no mundo.

Pelé, Rivelino, Jairzinho e Tostão: como arrumar um lugar para toda essa turma? Zagallo conseguiu. E de maneira revolucionária. Tostão, camisa 8 do Cruzeiro na época, iria assumir um papel que marcaria a história da Seleção Brasileira. Se tornaria o 'falso 9', aquele centroavante com mobilidade, que sai da área para abrir espaço para os atacantes de lado infiltrarem e também os meio-campistas. Com a inteligência de Tostão e a ideia de Zagallo, o resultado foi um sucesso, quebrando o mito de que ele e Pelé não poderiam jogar juntos. Jogaram e fizeram história lado a lado.

Outro ponto que Zagallo teve que 'quebrar a cabeça' foi com relação ao número de camisas 10 que tinha no elenco. Gérson, Rivelino, Jairzinho e Pelé usavam a camisa 10 em seus clubes. E como achar espaço para todo mundo? Zagallo conseguiu. Numa espécie de 2º volante, Gérson comandava o meio-campo com maestria, com seus lançamentos espetaculares que dialogavam muito bem com os atacantes. Já Rivelino, foi para a ponta esquerda, mas com liberdade tanto para avançar no mano a mano como dialogar por dentro. Pelé, principal referência daquela legião de craques, ficava atrás de Tostão, mas entrando na área, voltando para buscar jogo e também caindo pelas pontas.

Jairzinho, ídolo do Botafogo, foi para a ponta direita. Mas não era aquele extremo que ficava isolado apenas no lado do campo. Pelo contrário. Foi o vice-artilheiro da Copa com sete gols em seis jogos. Tinha a liberdade tanto para atuar pela ponta quanto entrar na área para finalizar, sem contar que ainda voltava para marcar e ajudar Carlos Alberto Torres, vide a decisão com a Itália. Mas nem só de ataque vivia aquele time. Era preciso equilibrar ações defensivas e ofensivas. E Zagallo conseguiu.

Do 4-2-4 extremamente ofensivo de Saldanha, Zagallo organizou a Seleção numa espécie de 4-2-3-1, com Jairzinho, Pelé, Rivelino e Tostão formando o quarteto ofensivo, que tinha muita liberdade para trocar de posição e se completavam. Na dupla de 'volantes', Clodoaldo e Gérson, dois meio-campistas que conseguiam proteger bem o sistema defensivo e ainda apresentavam conceitos modernos para a época, como a infiltração na área e também os lançamentos para os atacantes que entravam nas costas da defesa.

Em entrevista ao Jornal do Commercio, Dario, o Dadá Maravilha, disse que aquela Seleção é a maior da história e agradeceu por ter atuado no meio de tanta gente boa. "Eu acho que foi disparada a melhor de todos os tempos. Isso porque se juntou, no mínimo, seis jogadores fantásticos. Além disso, outros jogadores com bom quilate técnico e uma produção muito grande. Eu me senti muito honrado em fazer parte dessa Seleção. Convivi com Pelé, Jairzinho, Tostão, Gérson, Carlos Alberto Torres... Jogadores extraordinários. Eu fico até sentido em falar de alguns, porque eu tinha que falar de todos. O mundo se deslumbrou porque aquele time não jogava só futebol, dava espetáculo", disse Dadá.

50 anos depois, a Seleção que conquistou o tri mundial ainda está na memória e na boca de muita gente. Seja de quem acompanhou ao vivo ou de quem nasceu nesse século 21 e já viu alguns vídeos do maior esquadrão que já pisou numa Copa do Mundo. Um time que conseguiu reunir a estética, a modernidade, o equilíbrio e, claro, a vitória.

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