Futebol feminino não é favor. O ano é 2019 e ainda precisamos repetir isso. "Deixar" a mulher entrar no futebol não é gentileza. Débora Cecília não está no quadro de arbitragem da Federação Pernambucana de Futebol (FPF) e da Fifa por acaso. As repórteres não estão em seus postos porque são bonitinhas. Do mesmo jeito, as jogadoras não entram em campo porque pediram "por favor". Entram em campo porque precisam que elas façam um favor e assim evitem punição ao time masculino.
É isso que acontece no Sport esse ano. Depois de encerrar de um dia para o outro um time que já estava inclusive treinando para a temporada, o clube rubro-negro, às pressas, firmou parceria com o Ipojuca e colocou um time em campo nesta quarta-feira (20) diante do São Francisco-BA. Sem goleira para por em campo, uma lateral de origem, Maga, precisou ser improvisada. Só sofreu três gols. Um improviso ainda maior que o de Vadão, técnico da seleção brasileira, quando colocou a atacante Andressa Alves como lateral.
Um favor do Sport com as mulheres? Não. Desespero. Para que o time masculino não sofresse sanções. Justo o Sport, que há dois anos mostrava aos grandes rivais como formar uma equipe da modalidade. Com jogadoras que vestiam até a camisa amarelinha. E de jeito nenhum isso é culpa das atletas. As que deixaram ou as que caíram de paraquedas no manto vermelho e preto.
Um dito corte de gastos que não fez o menor sentido, já que dias depois o clube entraria (e perderia) em disputa pelo meia Diego Souza. Outras justificativas, como falta de apelo ou público na modalidade caem por terra quando observa-se os horários das partidas: dias úteis, à tarde. E também, é sempre bom uma mea-culpa por parte da imprensa, no número diminuto de informações acerca do futebol feminino.
A situação nada mais é, outra vez, do que a negação do espaço à mulher. No caso do futebol praticado por elas, sempre um "pelo menos". Pelo menos tem time, pelo menos jogou. Pelo menos recebeu um favor.