Além de demonstrar nossa total falta competência para gerir os problemas de violência no futebol e na nossa sociedade, a confusão dessa quarta-feira na Ilha do Retiro, durante o clássico entre Sport e Santa Cruz, demonstrou a toda a frieza, e isso não é elogio, com que nossos gestores, sejam eles do poder público ou privado, tratam o torcedor. Seguir com uma partida, seja ela qual for, com várias pessoas sendo atendidas no gramado é um total desrespeito e falta de humanidade.
Em casos como esses não interessa acordos comerciais, esportivos ou seja lá o que for. É sobre a vida de pessoas que estamos falando. É sobre a vida de mulheres, homens e crianças que talvez nunca mais voltem a um estádio por conta do ocorrido de ontem. Eles foram não só feridos, mas desrespeitados. Não tiro a razão deles se a partir de agora eles passarem a odiar o futebol. Estão certos. O tumulto da Ilha é um trauma que muitos não querem mais viver.
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Pior é saber que esse tipo de comportamento não é exclusivo do futebol. É apenas um reflexo da sociedade em que vivemos, com muros excluindo pessoas e frieza na hora que precisamos ser ainda mais humanos. Lamentável viver em tal tipo de comunidade.
Como alento, as mensagens de alguns poucos profissionais, como o técnico Nelsinho Baptista, do Sport, que demonstrou insatisfação com o seguimento do jogo. Assim como eles, muitos jogadores, para não dizer todos, não se importariam de aguardar todos os torcedores serem plenamente atendidos. Mas não, as “autoridades” do esporte preferiram seguir a partida com 22 atletas em campo, oito ambulância na beira do gramado e aproximadamente 60 pessoas sendo atendidas. Um absurdo.
Futebol não está acima da humanidade, nunca. Espero que nossos gestores do esporte reflitam sobre isso para o futuro. Ainda dá tempo de vencer não só a violência como também a frieza que toma os nossos corações na hora de se compadecer com o outro.