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Notas do almoço com Martorelli – um time de elite?

Ramon Andrade
Ramon Andrade
Publicado em 24/02/2016 às 11:44
Arsenal FOTO:

Arsenal

Por Álvaro Filho

Twitter: @alvarofilho

Cavalheiro como de costume, o presidente do Sport, Humberto Martorelli, recebeu a imprensa na última terça (23) para um almoço onde fez um balanço da gestão em 2015 e traçou metas para 2016. O encontro serviu também para que tópicos de sua administração fossem posto à mesa para apreciação dos comensais da crônica. Agora, com a digestão devidamente feita, vou analisar o menu do encontro, não na ordem que foram servidos, claro, afinal esse não é um blog de gastronomia, mas de futebol.

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Almoço: filé campanha de sócios acompanhado de elitização da torcida

Entre garfadas, Martorelli se orgulhou do salto de 8 para 28 mil sócios em 2015.

O que merece realmente um brinde, e aí perdoe-me a indiscrição, não apenas com suco de uva e manga. Mas tudo bem, dessa vez passa. A intenção do presidente rubro-negro é chegar a 50 mil sócios neste ano, o que diminuiria proporcionalmente a importância das cotas de TV no orçamento do clube. Do ponto de vista do futebol como negócio, o raciocínio é perfeito, pois cada vez mais os rubro-negros dependeriam menos de se curvar as emissoras A ou B atrás de recursos.

Numa conta de padaria, com 50 mil sócios e seus dependentes, mesmo se todos não fossem a todos os jogos, sobraria pouco espaço no estádio para quem não fosse associado.

É bom que se lembre que a bilheteria tem um humor que oscila bastante. É cedo, o torcedor não vai; É tarde, o torcedor não vai; Choveu, o torcedor não vai; Perdeu, o torcedor não vai; Passou na TV, o torcedor não vai; É feriado, o torcedor não vai e por aí vai, ou não vai. Só que a contabilidade do clube é fixa, faça chuva ou faça sol todo final de mês o Sport tem que desembolsar R$ 3 milhões ou mais só em salários. A lógica é depender cada vez menos das oscilações da torcida. Uma campanha de sócios fisga o torcedor e garante uma renda mensal segura.

O senão nessa lógica é que investir nos planos de sócio, uma adaptação local ao sistema de carnês tão comuns no futebol europeu, é também investir num novo padrão de torcedor, o que inevitavelmente vai terminar com a elitização da torcida do Sport, por mais que esse termo cause azia no mandatário rubro-negro.

Martorelli chegou a defender um preço alto do ingresso como estímulo à adesão às campanhas de sócio.

Ok, mas é bom lembrar que para aderir à campanha, por mais modesta que seja a faixa, exige que o torcedor reserve mensalmente parte do orçamento, o que não uma é realidade para muita gente que não têm emprego formal, com renda estável e que se possa se dar ao luxo de comprometer o que nem se tem certeza que vai ganhar. Sem falar que muitas vezes o pagamento é em débito em conta ou na fatura do cartão, aparentemente tão comuns, mas inacessível para uma imensa maioria de brasileiros.

Esse dilema, na minha modesta opinião, é o principal da gestão de Martorelli. Uma decisão estratégica, delicada, mas que precisa ser encarada.

O Sport é um dos players do cada vez mais mercantilizado futebol, onde para competir é preciso aderir à lógica capitalista vigente, que privilegia justamente, como o nome sugere, quem tem capital. Na Europa, normalmente o padrão a ser alcançado pelos brasileiros, o futebol é um entretenimento de classe média alta, de rico. Um imenso contingente da população foi alijado do processo e assiste aos jogos apenas pela TV (e por assinatura).

Um ingresso da Premier League a 50 libras, cerca de R$ 350, não é caro apenas para os brasileiros, mas para os ingleses também. No Reino Unido, foi a elitização do futebol, e não apenas os rigores da segurança, que afastou os hooligans dos estádios, a maioria dele oriundos da classe operária, que ia a campo extravasar as frustrações provocadas pelo fechamento das fábricas, que preferiam reabrir suas portas no Terceiro Mundo. Hoje, são os operadores da bolsa que tranquilamente sentam nas arquibancadas.

Repito, se é bom, ruim, correto ou não, é uma decisão que cabe apenas ao Sport. Decisão delicada e que precisa ser encarada.

Assim como a sobremesa.

O garçom tira os pratos e talheres da mesa para servi-la: "pudim de cotas de TV". Em instantes.

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