MC Carol relata primeiros casos de racismo: "Cresci com medo"

Victor Augusto
Victor Augusto
Publicado em 18/02/2019 às 8:27
MC Carol (Imagem: Reprodução / Instagram)
MC Carol (Imagem: Reprodução / Instagram)

Quem vê MC Carol cantar seu funk feminista com voz e pulso fortes pelos palcos do Brasil - funk esse que, em maio de 2018, lhe rendeu uma entrevista ao Le Monde Diplomatique - sabe que o estigma de mulher negra lhe trouxe inúmeras dificuldades.

Através de publicação feita no seu Facebook nesse sábado (16), ela exemplificou um dos primeiros casos de racismo que sofreu. Seus fãs aproveitaram o espaço e, nos comentários, também relataram casos de discriminação.

"Esse foi um dois primeiros contatos com o racismo. Na verdade o primeiro foi no primeiro dia de aula: eu fui trancada no banheiro por meninas brancas! Eu saí de casa feliz com meu avô e quando meu avô foi me buscar, eu pedi socorro, chorando. Cheguei em casa, logo no primeiro dia, não querendo nunca mais voltar naquele lugar.

Eu sai da creche da comunidade e fui para um colégio que a maioria não era de comunidade não vestiam roupas simples, não calçavam sapatos simples e não tinham mochilas simples, iguais as minhas e, eles me olhavam com nojo, implicavam com tudo, principalmente com minha mochila que as vezes eu usava por 3 anos seguidos e o meu cabelo.

Quase não haviam negros naquele colégio, eu era minoria. Os poucos negros que tinham ali já tinham uma mente racista. Eu pedia todos os dias, desdo primeiro dia, para o meu avô me transferir de colégio, para um colégio que tivesse negros, mas o ensino ali era mais forte e ali fiquei até a 5ª série. Eu sofria preconceitos dos alunos, das professoras e diretoras, sempre quando acabava o ano uma professora me jogava para outra professora. Só umas 5 pessoas me tratavam bem naquele lugar. Especialmente o porteiro seu Zé, que se metia quando tentavam me bater na saída.

MC Carol através do seu Facebook

Junto com o relato publicado no seu Facebook, MC Carol compartilhou também uma foto na qual aparece de "noivinha" de uma festa junina ao lado de um garoto. Como contou a funkeira, trata-se de uma lembrança da discriminação sofrida na infância.

Foto de MC Carol de "noiva" em uma festa junina no colégio (Imagem: Reprodução / Facebook) Foto de MC Carol de "noiva" em uma festa junina no colégio (Imagem: Reprodução / Facebook)

Vamos falar sobre esse dia da foto, todo mundo queria ser a noivinha e o noivinho, da festinha junina, e aí rolou umas perguntas de matemática português e tal, pra ver quem ia ser a noiva e o noivo. primeiro foi os meninos, e o noivo foi um garoto loiro da turma que acertou mais perguntas, e a noiva ficou entre eu e uma menina loira e no final eu ganhei.

O menino que ia ser o noivo, não gostou nem um pouco! Minha Vó com todo carinho, mesmo sem dinheiro pediu pra fazer esse vestido, Dona Graça praticamente deu o vestido, eu estava muito feliz, até chegar ao colégio e, descobrir que o noivinho não ia aparecer, porque ele queria dançar com outra menina da sala e como eu era a única menina negra da turma, eu entendi tudo.

Esse do meu lado é meu primo Dennys, eu não dancei, eu estava com vergonha e triste, mais pediram pra tirar foto só pra guardar de lembrança e essa foi a foto.

Eu cresci sofrendo racismo e gordofobia, mais o racismo sempre foi mais pesado. Eu era chamada de macaca e cabelo de bombril quase todos dias. Eu cresci com medo, medo de brancos, de entrar em “ambientes de brancos” e dps de tantos anos eu ainda tenho alguns receios, como entrar em um restaurante caro, por exemplo. Mas o meu receio faz sentindo, porque o racismo nunca esteve tão vivo. Talvez esteja mais indireto mais ainda existe.

MC Carol

LEIA TAMBÉM > Estreia de Maju Coutinho no “Jornal Nacional” foi um sucesso entre anônimos e famosos

Últimas notícias