BBB18: Jéssica diz que "as oportunidades são iguais" para ricos e pobres e é rebatida por Gleici

Victor Augusto
Victor Augusto
Publicado em 29/03/2018 às 10:25
Jessica e Gleici debatem no BBB18 sobre exclusão social no Brasil (Imagens: Reprodução)
Jessica e Gleici debatem no BBB18 sobre exclusão social no Brasil (Imagens: Reprodução)

Uma conversa entre Jéssica e Gleici, no BBB18, terminou em um debate sobre a configuração social brasileira. Na noite dessa quarta (28), a personal trainer declarou que, para ricos e pobres, as oportunidades de ingressar na universidade são as mesmas. A acreana logo fez questão de esclarecer a situação das classes desfavorecidas no Brasil e disparou: "não é mesmo".

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"Tem pobre que caiu na droga e disse que não teve oportunidade. Mas tem rico que teve oportunidade e caiu também. Você tem que se esforçar tanto quanto um rico, pois as oportunidades são iguais. Para passar em um vestibular, a prova é a mesma, as questões são as mesmas e o preço é mesmo", analisou Jéssica.

Gleici logo rebateu, explicando sua situação, que é a mesma de muitos jovens de classe baixa que tentam ingressar no ensino superior: "Eu sei o quanto eu ralei para entrar em uma faculdade. Eu andava quase duas horas para chegar na escola no sol quente. Eu não tive uma mãe para me acordar e falar para eu ir para escola. Comecei a trabalhar com 12 anos de idade. As oportunidades não são iguais".

Logo depois, Jéssica conseguiu elaborar sua réplica: "Não são, mas o ser humano fica arranjando desculpas e não sai do lugar. É necessário ir atrás das oportunidades. Senão, Deus colocaria todo mundo no mesmo patamar". Ela logo foi rebatida pela universitária, que já voltou de dois paredões no BBB18: "Não é questão de Deus, é de políticas públicas".

Jéssica diz uma coisa, números e estudos apontam que a situação é outra:

A participante do BBB18 alega que ricos e pobres tem chances iguais. Fernando Rezende e Paulo Tafner, autores do projeto Brasil: O estado de uma nação, parecem discordar, uma vez que definem pobreza como sinônimo de exclusão social:

Uma família é considerada pobre quando a soma de seus rendimentos é insuficiente para suas necessidades básicas –alimentação, saúde, educação, moradia e transporte, entre outras necessidades fundamentais"

Rezende e Tafner, 2005

No Brasil, o parâmetro utilizado para medir o índice de exclusão social é o salário mínimo, que, na teoria, seria suficiente para prover os direitos básicos para os núcleos familiares mais comuns. Uma família é considerada pobre quando a renda por pessoa é inferior à meio salário mínimo. Segundo dados de 2002, 49 milhões de pessoas e 10 milhões de domicílios se encaixavam nessa definição. Fica difícil pagar um cursinho ou uma universidade particular com R$ 477, que ainda devem ser usados para alimentação, moradia e gastos necessários para a sobrevivência.

Educação Superior

Como a própria Gleici disse, "não é questão de Deus, é de políticas públicas". Uma evidência da afirmação da participante do BBB18 é o aumento do número de estudantes pobres na universidade. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número passou de 6,2% para 8,3% em 2016.

O estudo dos pesquisadores Carlos Góes e Daniel Duque, do Instituto Mercado Popular, chegou a conclusões surpreendentes. Segundo seus resultados, a chance de um aluno com renda per capita mensal de R$ 250 ingressar no ensino superior público é de apenas 2%.

Outro ponto a ser levado em consideração é a quebra do senso comum, que leva pessoas a acreditarem que "ricos vão pra universidade pública, pobres recorrem ao ensino superior particular. Uma pesquisa do Pnad mostra que a renda per capita familiar dos universitários na rede privada é de R$ 1.513. O número é maior que o dobro da renda per capita dos estudantes do ensino médio da rede pública, que é de R$ 611.

Pierre Bourdieu e a Violência Simbólica como legitimação das desigualdades sociais

Pierre Bourdieu foi um dos sociólogos mais importantes do século passado Pierre Bourdieu foi um dos sociólogos mais importantes do século passado. Ele é um dos mais citados em teses e pesquisas científicas dentro das Universidades

Como se pôde perceber, apesar das opiniões expostas por Jéssica no BBB18, as estatísticas e estudos apontam que as oportunidades entre pobres e ricos, dentro e fora do ambiente educacional, não são iguais. O sociólogo francês Pierre Bourdieu lançou um conceito, entre seus livros da década de 80 e 90, chamado "Violência Simbólica". Ele se encontra presente, principalmente, no livro O Poder Simbólico (1989) e mostra que pessoas pobres sofrem uma enorme desvantagem em relação às de situação financeira mais favorável.

Entre as desvantagens, além das mais óbvias, como a dificuldade de acesso a recursos, estão também as implícitas, como a linguagem. Pierre Bourdieu afirma que, nos lares de crianças de classe média ou alta, a linguagem utilizada nos diálogos familiares se aproxima mais da linguagem utilizada em sala de aula. Isso não ocorre dentro dos círculos familiares de classe baixa, que desenvolveram um vocabulário próprio e uma forma de se expressar diferente. Quando uma criança pobre frequenta uma escola ao lado de uma com maior aparato financeiro, as desvantagens começam a se tornar mais claras.

A pobre tem que se adaptar à uma linguagem que não é utilizada no seu lar e nos seus círculos de amizade, que é a do professor (que vem, na maioria dos casos, da classe média). Não só o vocabulário, que é ainda mais desconhecido para ela que para a rica, como também as expressões corporais e de oralidade lhe são estranhas. Isso faz com que o entendimento das aulas e a apropriação do assunto escolar lhe seja mais dificultoso. Enquanto uma criança aprende, a outra se preocupa em adaptar-se a um novo ambiente. Essa forma de violência não é visível, mas faz com que muitas crianças não se sintam inseridas dentro do ambiente escolar.

Essa violência vai se intensificando quando elas vão crescendo e os acessos aos produtos culturais vão se restringindo para o adolescente mais pobre. Enquanto uma tem acesso à uma variedade de livros, pode frequentar cinemas e teatros com certa frequência, a outra se vê impedida financeiramente (ou até por meio dos meios de repressão) de frequentar esses lugares. No momento de se prestar o vestibular, por exemplo, essas diferenças de repertório se fazem presentes e podem ser decisivas.

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