Fundador do WikiLeaks é ouvido pela justiça na embaixada do Equador em Londres

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 14/11/2016 às 10:44
Julian Assange não pode deixar o prédio da embaixada da Venezuela,el Londres, por motivos de segurança.  AFP PHOTO / BEN STANSALL
Julian Assange não pode deixar o prédio da embaixada da Venezuela,el Londres, por motivos de segurança. AFP PHOTO / BEN STANSALL FOTO: Julian Assange não pode deixar o prédio da embaixada da Venezuela,el Londres, por motivos de segurança. AFP PHOTO / BEN STANSALL

Por Maureen Cofflard (AFP)

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, foi ouvido nesta segunda-feira na embaixada do Equador em Londres, onde está refugiado desde 2012, por um procurador equatoriano na presença de uma magistrada sueca para responder à acusação de estupro que pesa contra ele na Suécia.

A procuradora sueca Ingrid Isgren, instrutora adjunta na investigação de Assange, chegou na embaixada pouco antes das 10h00 GMT (8h00 de Brasília), segundo um fotógrafo da AFP.

Suécia e Equador negociaram há meses as condições de seu interrogatório. O Equador impôs que um procurador equatoriano fizesse as perguntas, mesmo que sugeridas pelos investigadores suecos.

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Esta audiência "deve durar vários dias", indicou à AFP Per Samuelsson, advogado sueco de Julian Assange, que espera participar de pelo menos parte. Esta é a primeira vez que o australiano, de 45 anos, acusado de estupro desde 2010, vai dar a sua versão dos acontecimentos à justiça.

Enquanto a justiça sueca o acusa de fugir sistematicamente de suas convocações, Per Samuelsson garante que Assange "sempre quis dar a sua versão dos acontecimentos diretamente para os investigadores." "Pedimos esta audiência desde 2010", explicou. "Ele quer uma chance de limpar a sua honra (...) e espera que a investigação preliminar seja abandonada" após o interrogatório.

A justiçá deverá recolher, se Assange consentir, amostras de seu DNA, segundo a procuradoria sueca. A transcrição do interrogatório será entregue posteriormente aos magistrados suecos, que decidirão o futuro da investigação.

A procuradora sueca encarregada do caso, Marianne Ny, comemorou o fato "de a investigação preliminar poder avançar com a audiência do suspeito".

Julian Assange, fundador do Wikileaks, fala por videoconferência em Berlim. AFP / STEFFI LOOS Julian Assange, fundador do Wikileaks, fala por videoconferência em Berlim. AFP / STEFFI LOOS

Petição pelo 'perdão' de Trump

Uma primeira audiência prevista para meados de outubro com o procurador Wilson Toainga havia sido adiada a pedido de Assange, que evocava a falta de garantias sobre a "sua proteção e defesa", segundo o Equador.

O australiano permanece desde junho de 2012 na embaixada equatoriana da capital britânica, quando pediu asilo a Quito para evitar ser extraditado à Suécia.

O Ministério Público sueco quer interrogá-lo por um suposto estupro cometido em 2010, que ele nega. Ele é alvo de um mandato de prisão europeu, emitido como parte desta investigação.

Assange não quer voltar à Suécia por medo de ser extraditado aos Estados Unidos, onde é criticado pela publicação por parte do WikiLeaks em 2010 de 500.000 documentos classificados sobre Iraque e Afeganistão, assim como 250.000 comunicações diplomáticas.

Ele não deixou o local desde então, recluso em um pequeno apartamento e tendo que se contentar com algumas aparições públicas em sua varanda.

O australiano perdeu outra batalha judicial em setembro, quando, pela oitava vez em seis anos, um tribunal sueco rejeitou o recurso e confirmou o mandado de detenção europeu contra ele. Ele solicitou no final de outubro uma simples suspensão deste mandato para ir ao funeral de um amigo, o que foi recusado.

Durante a campanha presidencial americana, o WikiLeaks divulgou milhares de mensagens hackeadas de pessoas próximas a Hillary Clinton, levando John Podesta, chefe da equipe de campanha da candidata democrata a acusar Julian Assange de fazer o jogo do republicano e agora presidente eleito Donald Trump.

Uma petição, assinada por cerca de 18.000 pessoas, pede que Donald Trump conceda "perdão presidencial" a Julian Assange a o isente de perseguição nos Estados Unidos. Uma petição semelhante foi dirigida ao então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sem sucesso.