Expectativa na ONU de que Trump não mine acordo do clima

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 09/11/2016 às 12:21
Estudantes americanos protestam durante a COP22 em reação à eleição de Donald Trump como presidente dos EUA. Foto: AFP / FADEL SENNA
Estudantes americanos protestam durante a COP22 em reação à eleição de Donald Trump como presidente dos EUA. Foto: AFP / FADEL SENNA FOTO: Estudantes americanos protestam durante a COP22 em reação à eleição de Donald Trump como presidente dos EUA. Foto: AFP / FADEL SENNA

Por Marlowe Hood (AFP)

Os participantes da conferência de Marrakesh, chocados com a vitória de Donald Trump, acreditam que o futuro presidente, apesar de ter negado a existência das mudanças climáticas, não minará o acordo mundial em busca de energias limpas, embora vários tenham classificado sua vitória como um desastre.

A responsável da ONU encarregada dos assuntos do clima, Patricia Espinosa, felicitou Trump - que havia classificado as mudanças climáticas como uma "farsa" e ameaçou "anular" o acordo global - por sua vitória nas presidenciais dos Estados Unidos. "Esperamos cooperar com seu governo para fazer a agenda da ação climática avançar, em benefício dos povos do mundo", disse Espinosa em uma declaração durante a COP22, que é realizada na cidade marroquina.

Trump "não pode evitar a implementação" do acordo de Paris, selado na capital francesa em dezembro passado, afirmou, por sua vez, Segolene Royal, ministra francesa de Meio Ambiente e presidente em fim de mandato do fórum da ONU.

"No momento em que 103 países que representam a emissão de 70% dos gases de efeito estufa ratificaram o acordo de Paris, ele não pode revertê-lo, diferentemente do que ele disse", afirmou Royal em declarações à rádio francesa RTL.

Hoesung Lee, diretor Intergovernmental do painél de Mudança Climática, DIretora para Clima na ONU Patricia Espinosa, presidente da COP22 Salaheddine Mezouar e ministra francesa Segolene Royal. Foto: AFP / FADEL SENNA Hoesung Lee, diretor Intergovernmental do painél de Mudança Climática, DIretora para Clima na ONU Patricia Espinosa, presidente da COP22 Salaheddine Mezouar e ministra francesa Segolene Royal. Foto: AFP / FADEL SENNA

Uma farsa

Além de descrever as mudanças climáticas como uma "farsa", obra do governo chinês, Trump disse em diversas ocasiões que "renegociaria" ou "cancelaria" o pacto aprovado por 196 países. Royal destacou que, segundo os termos do acordo, os Estados Unidos devem esperar ao menos três anos antes de poder eventualmente se retirar.

Os diplomatas e empresários focados em fazer com que a economia global evolua dos combustíveis fósseis aos renováveis esperam que o impulso que ganharam se mantenha, apesar dos pontos de vista de Trump.

"O presidente eleito Donald Trump foi a fonte de muito debate sobre as mudanças climáticas no último ano", disse em uma declaração Hilda Heine, presidente das Ilhas Marshall, atingidas recentemente por tempestades devastadoras.

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"Mas agora que a campanha eleitoral passou", acrescentou Heine em sua declaração, "espero que ele se conscientize de que as mudanças climáticas são uma ameaça para seu povo e para países inteiros que compartilham mares com os Estados Unidos, incluindo o meu", disse.

Christiana Figueres, que liderou as questões climáticas na ONU durante seis anos, até seis meses atrás, disse que Trump deve entender que abandonar rapidamente e por etapas o carvão, o petróleo e o gás "é bom para a economia dos Estados Unidos, para o emprego e o crescimento".

Alguns grupos ecologistas foram muito menos diplomáticos em suas reações ante o surpreendente resultado da eleição. "A eleição de Trump é um desastre, mas não pode ser o fim do processo internacional sobre o clima", disse May Boece, diretora-executiva do 350.org, um grupo global que trabalha a favor do desinvestimento dos combustíveis fósseis.

"Nosso trabalho se torna muito mais difícil, mas não é impossível, e nos recusamos a perder a esperança", acrescentou.