Na era pós-Steve Jobs, novo iPhone 5 é prova de fogo para Tim Cook

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 13/09/2012 às 12:09
Tim Cook lançou o iPhone 5 em setembro deste ano nos EUA (AFP)
Tim Cook lançou o iPhone 5 em setembro deste ano nos EUA (AFP) FOTO: Tim Cook lançou o iPhone 5 em setembro deste ano nos EUA (AFP)

Especialistas criticam pouca inovação no primeiro lançamento sem a participação direta do ex-CEO

Foto: Justin Sullivan/Getty Images/AFP

Quando apareceu nesta quarta (12), no palco do Yerba Buena Center, na Califórnia, EUA, Tim Cook, o atual CEO da Apple sabia que sua principal prova de fogo desde que assumiu o cargo, tinha chegado. Ele assumiu a chefia da maior empresa de tecnologia do mundo após a morte de um dos seus fundadores, Steve Jobs, morto em decorrência de um câncer, em outubro do ano passado. Hoje, um ano depois, ele devolve à companhia o espírito de liderança e responde às expectativas do público com o lançamento do iPhone 5.

LEIA MAIS

O novo iPhone 5: mais fino, veloz e com tela de 4 polegadas

Apple renova linha de iPods

4G do novo iPhone não deve funcionar no Brasil

O novo aparelho, anunciado nesta quarta, representa um avanço em diversos aspectos, e um novo design, o que era bastante ansiado pelos applemaníacos desde o frustrante lançamento do iPhone 4S. No entanto, críticos lembram que a empresa não conseguiu surpreender no quesito inovação, uma vez que tudo o que foi mostrado eram aperfeiçoamento de algo já existente. "Ficou um gosto de 'quero mais' no anúncio. O aparelho é bem parecido com o anterior e traz apenas melhorias em relação ao antecessor", opina o professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco, Cristiano Araújo. Para muitos, este pode ser o retrato da Apple pós-Jobs: uma companhia cada vez mais pragmática e focada na eficiência - e não tanto no espanto de algo genial.

"O principal desafio de Cook será manter a cultura de inovação da era Steve Jobs. Mas, os lançamentos nunca mais serão os mesmos", diz Soares. O designer Luis Augusto Cabral, entusiasta da Apple desde o primeiro iPhone, prevê para o futuro anúncios menos bombásticos e com espaços menores entre eles. "As melhorias virão de forma mais sutil. A expectativa agora recai em outras áreas, como o aguardado televisor da empresa", afirma.

Menos excêntrico, Tim Cook é apontado no Vale do Silício como um homem pragmático (ou burocrático, dirão alguns) (Foto: AFP)

Funcionários da Apple ouvidos pela revista Info dão conta de um clima mais leve nos corredores da empresa desde a saída de Jobs. Muitos consideram Cook como um chefe mais acessível e simpático, diferentemente de Jobs, uma pessoa que todos tinham medo de encontrar no elevador. A excentricidade do líder anterior pode ter dado um empurrão na criatividade das pessoas, por seu jeito perfeccionista e quase obsessivo, mas Cook parece ter tornado o ambiente menos opressivo.

Depois de ser alçado a um status de "semideus" pela mídia, Jobs foi relativizado após a publicação de sua biografia, ano passado. O autor Walter Isaacson mostra o ex-CEO da Apple como alguém arrogante, rude. Um tipo de pessoa que dava medo de fazer perguntas. "Enquanto Jobs era obcecado com cada mínimo detalhe dos produtos da Apple, Cook está interessado com o lado menos glamuroso das operações", diz uma reportagem do New York Times. Cook já controlava a distribuição e logística antes de assumir como CEO. Foi ele quem fechou as fábricas da Apple e mandou todas as manufaturas para a Ásia.

Recentemente, ele foi visitar - agora já como CEO - as operações asiáticas da empresa, algo nunca feito por Jobs. A atitude foi basicamente política, para driblar críticas de que funcionários de fábricas como a Foxconn estivessem sofrendo com péssimas condições de trabalho. No ano anterior, a empresa enfrentou denúncia de violações trabalhistas e até ameaça de suício por parte dos trabalhadores. Mas, ele já começa a colecionar controvérsias. Ao lado de seu lado tranquilo, convivem rumores de que seria obcecado por lucro, sem importar as consequências.

Novo iPhone 5 representa uma nova fase da Apple: poucas surpresas e inovação discreta (Divulgação)

O site ifoAppleStore, dedicado a cobrir as operações varejistas da Apple, afirmou que Tim Cook foi o responsável por demissões na rede de varejo da empresa, nos EUA. O Business Insider reforçou o rumor, afirmando que a principal estratégia da companhia agora é cortar gastos e focar lucros em lojas próprias. Ele também é apontado como um burocrata.

Outra matéria do New York Times descreve Cook como um fã de fitness, ciclismo e preocupado com a saúde. Aos 50 anos, Cook é solteiro e não é visto socializando com colegas de empresa. A revista americana Out o colocou ano passado como o gay mais poderoso dos EUA - ainda que ele nunca tenha falado no assunto. Sobre as comparações, Cook rebate, tentando firmar seu estilo próprio: "Eu nunca tentei ser Steve", disse em entrevista para o fórum D: All Things Digital, em maio deste ano. "Não é este meu objetivo de vida. Estou focado em ser um bom CEO".