Emergências médicas devem estar preparadas para atender pacientes em crise suicida, diz psiquiatra

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 15/10/2018 às 14:32
Entre os distúrbios psiquiátricos mais comumente associados às tentativas de suicídio, está a depressão (Foto: Free Images)
Entre os distúrbios psiquiátricos mais comumente associados às tentativas de suicídio, está a depressão (Foto: Free Images) FOTO: Entre os distúrbios psiquiátricos mais comumente associados às tentativas de suicídio, está a depressão (Foto: Free Images)

Por Malu Silveira

Especial para o Casa Saudável

O que deve fazer um profissional de saúde, ao atender, no pronto-socorro, um paciente com ideações suicidas e alto risco de colocar fim à própria vida? Essa é uma situação clínica recorrente que ainda deixa muitos especialistas, principalmente os que são não familiarizados com a psiquiatria, com dúvidas quanto à abordagem terapêutica. Para tentar elucidar as questões comuns associadas ao tema, a Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr) realizou, na última semana, a roda de conversa Suicídio: uma emergência médica. Como prevenir e o que fazer na crise?”. O encontro fez parte da programação do Setembro Amarelo na capital federal.

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A psiquiatra Maria Célia Brangioni, preceptora da residência do Serviço de Atenção aos Usuários de Álcool e Outras Drogas do Hospital Universitário de Brasília (Sead/HUB) e uma das organizadoras do encontro, frisa que é essencial que as emergências médicas estejam preparadas para atender pacientes em crises suicidas. “Nesse primeiro atendimento, o principal objetivo é detectar se o comportamento do paciente indica baixo, médio ou alto risco de suicídio. É importante que o profissional faça uma abordagem estruturada, escutando o paciente e orientando a família”, frisa.

"Por proteção, entende-se que é necessário reduzir o risco imediato, se certificando de que o paciente ficará, após o atendimento, num local tranquilo e sem instrumentos perigosos", diz Maria Célia Brangioni (Foto: ABP/Divulgação)

Nos casos de baixo e médio risco, é hora de ligar o sinal amarelo. O encaminhamento para assistência especializada pode impactar positivamente em casos de novas crises. Já os casos graves precisam de intervenções terapêuticas imediatas. “É necessário procurar meios de proteger a pessoa. Por proteção, entende-se que é necessário reduzir o risco imediato, se certificando de que o paciente ficará, após o atendimento, num local tranquilo e sem instrumentos perigosos. Nessas horas, o profissional deve mostrar à família como o apoio e participação dos parentes são fundamentais”, pontua Maria Célia. A psiquiatra acrescenta que o paciente, quando em casa, deve estar sempre acompanhado.

A família, inclusive, é peça-chave desse quebra-cabeça. Os parentes, se estiverem presentes, devem ser orientados ainda nos prontos-socorros. “As crises suicidas também são estressantes para as pessoas mais próximas do paciente. Os profissionais da saúde precisam acolher os familiares, orientando-os, de maneira delicada e assertiva, sobre como lidar com o cenário”, explica a psiquiatra.

Uma vez que o paciente esteja resguardado em local seguro e encaminhado para atendimento especializado, é hora de lançar esforços rumo ao segundo passo, como enumera a psiquiatra: dar mais estabilidade emocional ao paciente. “O paciente precisa ter acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Assim, será possível tratar o transtorno, em casos de distúrbios psiquiátricos, e fortalecer a resiliência. A abordagem familiar também é importante”, diz Maria Célia.

Quando o apoio especializado estiver garantido, e o paciente atingir um quadro estável, é o momento de acompanhá-lo, certificando-se de que a ajuda chegará caso outras crises voltem a aparecer.