Setembro Amarelo: 'Tudo o que envolve suicídio é uma emergência médica', alerta psiquiatra

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 02/09/2018 às 8:14
Os transtornos mentais (como distúrbios de humor e uso abusivo de substâncias psicoativas) estão presentes em quase todos os casos de suicídio (Foto ilustrativa: Freepik/Banco de Imagens)
Os transtornos mentais (como distúrbios de humor e uso abusivo de substâncias psicoativas) estão presentes em quase todos os casos de suicídio (Foto ilustrativa: Freepik/Banco de Imagens) FOTO: Os transtornos mentais (como distúrbios de humor e uso abusivo de substâncias psicoativas) estão presentes em quase todos os casos de suicídio (Foto ilustrativa: Freepik/Banco de Imagens)

Chegou o mês em que profissionais de saúde convocam a sociedade para abraçar uma mobilização que salva vidas. Conhecida como Setembro Amarelo, a campanha tem como objetivo quebrar tabus, eliminar o preconceito, prevenir mortes e fazer o seguinte alerta: “Tudo o que envolve suicídio deve ser considerado uma emergência médica”. A mensagem é dita com ênfase pelo psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, um dos diretores da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e presidente eleito da Associação Psiquiátrica da América Latina (Apal).

“Se alguém tem um pensamento suicida, tem que ser encaminhado para uma emergência médica. É preciso cuidar porque, se nada for feito, a morte certamente vai ocorrer. Também é necessário ficarmos atentos aos transtornos mentais (como distúrbios de humor e uso abusivo de substâncias psicoativas), presentes em quase todos os casos de suicídio”, frisa Antônio Geraldo.

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O psiquiatra acentua como é essencial chamar a atenção para a triste realidade: no Brasil, ocorrem diariamente 32 mortes, em média, por suicídio, segundo o Ministério da Saúde. Para mudar esse cenário, é fundamental compartilhar uma mensagem educativa: o diagnóstico precoce e o tratamento correto dos distúrbios mentais são os principais caminhos para impactar diretamente na redução desses óbitos. Infelizmente, os transtornos psiquiátricos, como depressão, nem sempre são detectados. Dessa maneira, pode-se perder uma chance de oferecer tratamento e apoio emocional a quem precisa.

"A cada 45 minutos, uma pessoa morre por suicídio. E ainda é um número subestimado. É preciso trabalhar com prevenção. Os gestores (dos serviços de saúde) também devem se envolver com esse trabalho", diz o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem)

O 1º Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, divulgado em setembro do ano passado pelo Ministério da Saúde, revela que homens jovens e idosos com mais de 70 anos formam o grupo com as mais altas taxas de suicídio. Durante o envelhecimento, foi registrada média de 8,9 mortes por 100 mil habitantes nos últimos seis anos. A média nacional é 5,5 por 100 mil. No grupo de jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é mais frequente entre os homens, cuja taxa é de 9 mortes por 100 mil habitantes. Entre as mulheres, esse índice é quase quatro vezes menor: 2,4 por 100 mil.

“Para os casos de risco de suicídio, recomendamos acionar o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que deve estar preparado para as emergências médicas”, diz Antônio Geraldo. No Recife, o Samu 192 destina, desde abril do ano passado, uma ambulância para a assistência de casos psiquiátricos. “A demanda dessa viatura é muito alta. São situações que despontam entre as cinco principais causas de atendimento do Samu na cidade”, informa o médico Leonardo Gomes, coordenador-geral do Samu Metropolitano. Ele acrescenta que, com a ambulância para os casos psiquiátricos, a resolutividade do serviço saiu de 30% para 70%. “Ou seja, antes dessa viatura, de cada dez pessoas que precisavam de assistência (em saúde mental), só conseguíamos atender três. Agora, chegamos a sete”, acrescenta Leonardo.

O Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade sem fins lucrativos que atua gratuitamente, também oferece um apoio para a prevenção ao suicídio, através do número de telefone 188. O posto do CVV no Recife funciona na Rua Manoel Borba, 99, no bairro da Boa Vista. O atendimento não exclui a necessidade de as pessoas com comportamento suicida terem acompanhamento psiquiátrico.