Fila da esperança: 1.179 pacientes sonham em celebrar vida nova após transplante de órgãos em PE

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 23/05/2017 às 9:19
O motorista de ônibus aposentado José Alexandre da Silva, 48 anos, é uma das 20 pessoas que passaram por um transplante cardíaco este ano, em Pernambuco, após um mês na fila de espera (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)
O motorista de ônibus aposentado José Alexandre da Silva, 48 anos, é uma das 20 pessoas que passaram por um transplante cardíaco este ano, em Pernambuco, após um mês na fila de espera (Foto: Diego Nigro/JC Imagem) FOTO: O motorista de ônibus aposentado José Alexandre da Silva, 48 anos, é uma das 20 pessoas que passaram por um transplante cardíaco este ano, em Pernambuco, após um mês na fila de espera (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)

"A doação de órgãos é mágica porque transforma certidões de óbito em certidões de nascimento." Foi com essa declaração que a enfermeira Noemy Gomes, coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco (CT–PE), encerrou a entrevista, na segunda-feira (22), à TV JC, em homenagem à Semana Estadual de Incentivo à Doação de Órgãos e Tecidos, aberta oficialmente nesta terça-feira (23), pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), na Base Aérea do Recife, no bairro do Jordão, Zona Sul da cidade.

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A mensagem de Noemy ajuda a sensibilizar a população para a prática de amor ao próximo através da doação. Em comparação com anos anteriores, os números atuais de Pernambuco revelam um cenário animador, mas a fila de espera permanece grande.

De janeiro a abril deste ano, o Estado realizou 553 transplantes – 20,2% a mais do que o mesmo período de 2016. "Mais pessoas estão sendo salvas, embora o trabalho ainda seja árduo. Há atualmente 1.179 pacientes que aguardam um órgão ou tecido e precisam sair da angustiante espera. A fila é heterogênea: há crianças, que aparecem em menor proporção, e adultos jovens, que representam a maior fatia da lista, como também idosos", diz.

Vida nova

O motorista de ônibus aposentado José Alexandre da Silva, 48 anos, é uma das 553 pessoas que passaram por um transplante este ano no Estado. Pela doença de Chagas, o procedimento foi o caminho escolhido para ele ganhar nova vida, após cinco anos em tratamento medicamentoso. “Felizmente, só passei um mês e dois dias na fila de espera. Fiz o transplante de coração em fevereiro. O cansaço passou e voltei a me alimentar bem”, comemora.

"Se fizermos uma pesquisa nas ruas, vamos constatar que o brasileiro quer ser doador. Mas, durante o internamento (do parente que faleceu), alguma coisa acontece que não deixa a família confortável a exercer o direito da doação", destacou Noemy Gomes (ao centro), em entrevista à TV JC (Foto: Guga Matos/JC Imagem)

Para mais pacientes serem beneficiados como José Alexandre, é preciso (também) vencer a negativa familiar – motivo pelo qual, em Pernambuco, cerca de metade das potenciais doações não é efetivada. Um detalhe que, para Noemy, precisa ser tratado em parceria com os profissionais que atuam no acolhimento das famílias. “Precisamos, cada vez mais, preparar as equipes dos hospitais para atender as famílias. São elas que podem autorizar a doação. Se fizermos uma pesquisa nas ruas, vamos constatar que o brasileiro quer ser doador. Mas, durante o internamento (do parente que faleceu), alguma coisa acontece que não deixa a família confortável a exercer o direito da doação.”

Com a meta de mudar esse cenário, a CT-PE realiza capacitações que ajudem profissionais de saúde a se sentirem preparados para lidar com a situação, já que a decisão (de autorizar ou não a doação) é delicada e precisa ser tomada num momento de dor e emoção, que é a perda pela morte. “Quando as pessoas se declaram (doadoras ou não doadoras) em vida, facilita muito o processo”, frisa Noemy, que tem abraçado a missão de mobilizar a população para essa causa solidária.