Estudo brasileiro comprova eficácia de ressonância para preservar mamilo em mastectomia

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 31/05/2016 às 13:56
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Imagem de mulher segurando a mama (Foto: Divulgação) Ressonância magnética aliada à técnica de congelação de fragmento do mamilo pode ajudar a diminuir o número de mastectomias mutiladoras (Foto ilustrativa: Reprodução)

Por Malu Silveira

Um estudo feito por pesquisadores da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) comprovou que a ressonância magnética é eficaz para identificar se, em casos de câncer de mama, houve ou não a invasão do tumor no mamilo. O levantamento foi feito ao longo de um ano com 165 mulheres diagnosticadas com câncer de mama e em tratamento no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A descoberta pode ajudar a diminuir o número de mastectomias mutiladoras, já que agora os médicos conseguirão realizar o procedimento preservando a região com total segurança.

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Todas as pacientes foram submetidas à ressonância magnética antes da cirurgia e quase 90% apresentaram resultado negativo para comprometimento do mamilo. O número surpreendeu os médicos. "O ideal é manter o mamilo nos casos onde o tumor não chegou na região. Tentamos empregar a ressonância neste sentido, avaliando caso a caso. Dessa forma, a gente consegue programar de maneira mais satisfatória a cirurgia para o câncer de mama, preservando o mamilo com segurança oncológica", explica o mastologista José Roberto Piato, coordenador do estudo e membro da SBM.

Segundo o especialista, o mamilo é a principal causa de insatisfação da paciente após as reconstruções mamárias, afetando principalmente a autoestima da mulher que se recupera da batalha contra o câncer. "A mama, composta basicamente pela auréola e o mamilo (já que o resto é mais volume), compõe a imagem corporal da mulher. A preservação do mamilo tem um impacto psicológico muito grande na paciente. Por isso é tão importante", explica.

Os dois métodos conseguiram identificar em até 100% dos casos se o mamilo foi comprometido pelo câncer (Ilustração: Bruno de Carvalho / NE10) Os dois métodos conseguiram identificar em até 100% dos casos se o mamilo foi comprometido pelo câncer (Ilustração: Bruno de Carvalho / NE10)

Uma outra técnica, a da congelação, foi utilizada durante o estudo para complementar a eficácia da ressonância magnética na diminuição de mastectomias mutiladoras. Os dois métodos associados elevam em mais de 98% o diagnóstico correto. "Na segunda técnica, removemos na sala de cirurgia uma porção do tecido mamário que corresponde à confluência de todos os ductos principais. O fragmento é analisado pelo patologista em um microscópio para detectar se o tumor se estendeu pelo ducto até chegar no mamilo. Com os dois métodos, conseguimos identificar o tumor em quase todos os casos. Somando os dois exames, a chance de deixarmos o mamilo com algum tumor não detectado é muito pequena", esclarece o representante da SBM.

Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil terá 57.960 novos casos de câncer de mama em 2016. Estima-se que hoje 10 mil mulheres ao ano que precisam de mastectomia (retirada da mama) para tratar o câncer da mama. Por enquanto, o procedimento só está sendo realizado no Hospital das Clínicas de São Paulo. A ideia é que a técnica de comprovação da preservação do mamilo sem o tumor se espalhe por todo o Sistema Único de Saúde (SUS). Os exames, segundo o especialista, podem ajudar a diminuir a insatisfação das pacientes com a reconstrução mamária ou evitar que o mamilo seja retirado sem necessidade.

O estudo sobre a ressonância magnética foi publicado na American Journal of Roentgenology (AJR) em março deste ano. Já a técnica da congelação foi publicada no ano passado, na European Journal of Surgical Oncology.