São Paulo - Não só de desfiles é feito o São Paulo Fashion Week. Debaixo do guarda-chuva da transformação por que vem passando, o evento de moda abriga nesta temporada o Projeto Estufa, para pensar a moda e o mercado. Na estreia, quarta (15), Renato Meirelles, fundador do Data Popular e do Instituto Locomotiva, falou sobre “Novos comportamentos e mercados”, quando cravou: “O preconceito atrapalha os números”.
O comunicólogo, que integrou comissão de estudos sobre a nova classe média brasileira, na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, defende a diversidade como necessária ao mercado de hoje e do futuro, ao contrário da segmentação feita pelas marcas por critérios como renda, gênero, idade... "Você já se perguntou o que as próprias pessoas consideram para definir elas mesmas?", indagou.
Meirelles prega que, por trás de números, há pessoas – “Existe amor no Excel” – e alerta que “ainda tem muita gente olhando a sociedade contemporânea, no século 21, com olhos do século 20”, quando ela é muito mais complexa, fruto de grandes mudanças.
O especialista em consumo e opinião pública explica, por exemplo, que, em 2007, a classe AB agregava 14% da população e agora, 25%. Nesse grupo, fermentado pelos empreendedores, 2/3 não cursaram ensino superior, só 1/5 já viajou para fora do País e 61% deles utilizaram transporte público no último mês. "O capital financeiro não caminha mais com o capital cultural...", resumiu.
A mensagem de Meirelles é direta: não cabem rótulos no mercado. "Estereótipos servem para entender as pessoas?", questionou. Estudos feitos pelo Locomotiva apontam que as pessoas não pertencem a determinado "cluster", mas que elas podem estar em determinado "cluster"; é algo flutuante - “Na prática, as coisas são menos cartesianas, e a diversidade tem de estar presente nas estratégias das marcas. Se não por justiça, que seja por inteligência.”
"Durante anos, as marcas atuaram de um jeito perverso"
Renato Meirelles ilustrou, ainda, relações de perversão e falta de representatividade entre o mercado - no caso, as marcas na sua construção de perfil e clientela - e os brasileiros, devido ao bloqueio à diversidade. "Durante anos, as marcas atuaram de um jeito perverso", falou, em referência à prática de uma marca "x" desqualificar quem não é seu público-alvo, discurso tão comum na propaganda.
Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva apenas 1/3 das famílias brasileiras se consideram do tipo “família margarina”; 70% dos jovens acreditam que marcas que ridicularizam a homossexualidade estão ultrapassadas; 65% dos negros não se veem representados nas propagandas. “O jeito com que o mercado tenta dialogar com as pessoas não é como as pessoas se enxergam. O mercado perde dinheiro”, disse o consultor. “Ainda se gasta milhões com propagandas que não geram identificação. Não existe mais espaço para importar padrão europeu, por exemplo. O brasileiro está, cada vez mais, acreditando em si".
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*Repórter viajou a convite do SPFW