O vasto mundo da coquetelaria

Anneliese Pires
Anneliese Pires
Publicado em 29/05/2016 às 10:03
World Class Competition 2016 (23) FOTO:

Por Flávia de Gusmão

Especial para o Social1

Os bartenders tiveram seu momento Hollywood quando, em 1988, foi lançado o filme Cocktail, uma comédia romântica estrelada por Tom Cruise. Entre uma paquera e outra, o galã impressionava a audiência com incríveis malabrarismos com coqueteleiras e garrafas que voavam, despejando líquidos que se misturavam em drinques coloridos. O ambiente era vivaz, pontuado por uma trilha sonora de fazer remexer na cadeira: Don't Worry, Be Happy (Bobby McFerrin), Kokomo (Beach Boys), Tutti Frutti (Little Richard) e Shelter of Your Love (Jimmy Cliff), para citar apenas algumas.

Na vida real, no entanto, a profissão mistura ao glamour, em maior proporção até, o trabalho duro e, sobretudo, conhecimento. O vasto mundo da coquetelaria exige, apenas para começar, a capacidade de preparar com perfeição os chamados drinques clássicos - como o Negroni, o Manhattan, o Cosmopolitan e o Bellini. Estes somam, no máximo, 100, se consideramos apenas os oficialmente catalogados como tal. Por outro lado, para começar a trabalhar num bar especializado em coquetéis, como o famoso Bar Ponto (Rua Joaquim Antunes, 248 - Jardim Paulistano - São Paulo), o candidato ao balcão precisa comprovar habilidade para elaborar, pelo menos, 400 misturas distintas.

A última World Class Competition, realizada nos dias 23 e 24/05 na capital paulista, revelou os nove top barmen do Brasil. Promovido pela empresa Diageo - que detém marcas icônicas de bebidas como o gim Tanqueray, a tequila Don Julio, o rum Zacapa, a vodca Ketel One e o uísque Johnnie Walker - o evento envolveu provas que testavam a expertise dos candidatos, pinçados de um contigente de 400 inscritos em todo o país. O vencedor, Marcos Félix, vai representar o Brasil , ao lado de 68 bartenders de outras nacionalidades, na final global que acontecerá em setembro, em Miami.

Confira abaixo a lista dos melhores bartenders do Brasil, segundo a World Class Competition. Dois pernambucanos estão no ranking.

CURITIBA

Diego Bastos Diego Bastos

Diego Bastos (Officina)

Diego Bastos impressiona com seus movimentos atrás do balcão. A figura longilínea, vestida com elegância, de gestos firmes, e preciso na execução técnica, é apaixonado por gim e tende a criar coquetéis mais amargos, com toques ácidos e pouco açúcar. Apesar da pouca idade, tem presença marcante e é um prazer para os olhos assistir ao seu balé.

RIO DE JANEIRO

Alice Guedes Alice Guedes

Alice Guedes (Brigite's)

Uma das poucas mulheres a se impor neste reduto ainda essencialmente masculino, ela marca presença com suas lindas tatuagens, os cabelos vermelhos e roupas pretas. Sua formação em artes cênicas ajuda na teatralidade essencial àfunção. Gestos firmes e, ao mesmo tempo, suaves pontuam sua apresentação. É do tipo que pergunta "O que você gostaria de sentir hoje", antes de preparar o drinque certo para cada cliente.

World Class Competition 2016 (18) _ Miguel Paes

Miguel Paes (Caverna)

É bom anotar este nome. MJiguel costuma despertar admiração com seus coquetéis aparentemente simples, mas de grande impacto no paladar. Aliás, "Simplicidade" foi o nome de uma das misturas criadas para o certame. Nela, ele misturou xarope de melado de cana, casca de laranja, e abacaxi com o destilado de sua escolha. É fã dos sabores brasileiros.

RECIFE

luciano Luciano Guimarães

Luciano Guimarães (Loft Boa Viagem)

Gosta de viajar no conceito do coquetel antes de prepará-lo e, com isso, reforça o caráter artístico da profissão. Inspirou-se, por exemplo, no artista plástico Gustav Klimt para inventar um drinque feito com uísque Johnnie Walker Gold Label, cordial de blue berry, ácido cítrico, harmonizado com chocolate meio amargo com laranja. A bebida aquece como um abraço, ou como o famoso beijo imortalizado no quadro de Klimt.

Márcio Felipe Márcio Felipe

Márcio Felipe (Buhdakan)

Extremamente elegante e perfeccionista na sua prática, Márcio Felipe é daqueles bartenders que amam os drinques clássicos, caminho por onde começou sua formação. Não deixa, no entanto, de revelar uma imensa criatividade quando chega o momento. Na competição, surpreendeu os juízes ao servir o copo sob uma lamparina, que acendia quando se colocava a mão por cima.

SÃO PAULO

World Class Competition 2016 _ Adriana Pino (Méz - SP) Adriana Pino

Adriana Pino (MéZ)

Delicada, cativante, assim é Adriana Pino atrás do balcão. Mas, que ninguém se engane, ela está na profissão há 12 anos e sabe muito bem aonde quer chegar. Seu estilo é voltado para o afeto, para os elementos retrôs, inspirações que vêm da cozinha da avó, tudo isso temperado com toques modernos e um extremo comprometimento com a sustentabilidade. Acredita no cultivo de orgânicos e reforça conscienciosamente a ligação entre bar e cozinha.

World Class Competition 2016 _ Adriano Lima (Barê - SP) Adriano Lima

Adriano Lima (Barê)

Um admirador dos clássicos e defensor de uma apresentação impecável como elemento primeiro para atrair cada vez mais admiradores para a coquetelaria. Capricha na beleza e variedade de copos e taças para apresentar os drinques, sem esquecer, é claro ,do valor do conteúdo. Uma linha tradicional com toques de contemporaneidade.

World Class Competition 2016 (15) Rogério Souza

Rogério Souza (Subastor)

Conhecido como Frajola, este cearense repete a história de tantos bartenders: começou da base, trabalhando como lavador de copos, até começar a enveredar, e aprender, os macetes da profissão de bartender. Tem uma destreza incrível, coroada por gestos amplos e uma sofisticação natural. Apresenta seus drinques com desenvoltura e sempre tem na manga um elemento exótico para surpreender.

World Class Competition 2016 _ Marcos Felix (Bar Marcos Félix

Marcos Félix (Bar Ponto)

O campeão da World Class Competition 2016 nasceu na Paraíba e mora em São Paulo desde 2002. Arrumou trabalho como lavador de pratos e terminou ficando e aprendendo outra profissão. Marcos trabalha num bar que colocou o gim no mapa da preferência dos paulistanos. A casa é especializada em coquetéis com esse destilado, mas ele adora fazer variações em cima de todos os clássicos.

BRASIL NO COPO

Bel Coelho Bel Coelho

Se depender da chef Bel Coelho, do Bar Clandestino (SP), uma das palestrantes da World Class Competition, as plantas alimentícias não convencionais (Panc) vão passar da cozinha para o copo. Pesquisadora incansável do tema, Bel Coelho descortinou para os bartenders o panorama infinito de possibilidades que existe em todo território nacional no que diz respeito a ingrredientes nativos para composição de coquetéis. Um dos seus favoritos é o jambu. A planta, muito utilizada na culinária típica do Pará, confere um sabor “elétrico”, meio picante, às misturas e é muito apreciada pelos turistas. Outras citadas pela especialista são: poejo, ora-pro-nobis, vinagreira (hibisco), maria-gorda e coroa-de-frade. Bel até tem um drinque que ela mesma criou: gim tônica com vinagreira, cumaru ralado e limão-cravo. “A gente precisa se apropriar do que é nosso, criar uma rede de divulgação sobre essas plantas maravilhosas, que eram tão mais conhecidas quando os núcleos familiares moravam mais próximos da zona rural”, diz ela, que, em seu restaurante mantém um menu inspirado nos biomas brasileiros.

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