Pernambucana premiada é promessa no cinema nacional

Anneliese Pires
Anneliese Pires
Publicado em 29/10/2014 às 7:07
DN241014016 FOTO:

Com uma trajetória atípica na carreira, a atriz pernambucana Clarissa Pinheiro fez um curioso caminho inverso para a descoberta de seu nome. Estreou seu primeiro longa, no Rio de Janeiro, já sendo premiada como melhor atriz coadjuvante no Festival de Paulínia, em julho. Revelada como a grande promessa do cinema brasileiro neste ano, a intérprete impactou o circuito com sua atuação em Casa Grande, do diretor Fellipe Barbosa, que será exibido nesta quarta (29) no Janela Internacional de Cinema, no São Luiz.

Ainda experimentando os louros do reconhecimento de público e crítica, Clarissa, que há cinco escolheu o Rio de Janeiro como endereço, retorna ao Recife para encontrar o publico daqui sem nunca ter estrelado nenhuma produção local. Antes do premiado filme, havia feito só um curta.  Na competição em Paulínia, a atriz concorria com grandes nomes como Fernanda Montenegro (indicada ao Oscar em 1999) e Sandra Corveloni (vencedora da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2008).

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Formada em jornalismo perla  Universidade Católica de Pernambuco, enquanto vivia no Recife, Clarissa começou a atuar por hobby. Para contar um pouco sobre essa descoberta enquanto atriz, o Social1 bateu um papo  com a moça no recém inaugurado Seu Boteco, no Recife Antigo, um dos endereços de que a atriz mais gosta.

Quando você começou a se interessar pela carreira de atriz?

Eu não tive acesso ao teatro nas escolas onde estudei, mas eu sempre fui muito ligada a arte. Foi na faculdade de jornalismo que um amigo me disse um dia: você leva jeito para teatro, vamos fazer teatro comigo? Aí comecei por hobby.

Onde você começou a estudar teatro?

No Barreto Júnior, com Carlos Sales e Normando Roberto e cheguei a fazer uma oficina lá na Barra, no Rio, mas era tudo muito novo e era hobby mesmo esse começo. Comecei na carreira de jornalista fazendo direção e edição de vídeo, mas olhando filmes e novelas era sempre o ator que me chamava atenção. Quando fui para o Rio, em 2010, comecei a estudar direção cionematográfica, porque como eu estava trabalhando com edição e direção de comercial, fui com a ideia de fazer isso lá também. Lá também comecei a fazer aulas na Escola Nacional de Circo.

Por que resolveu mudar-se para o Rio?

Fui para o Rio para tentar a vida, mas tive a facilidade de o meu pai estar num período de ser transferido para ir morar lá aí eu aproveitei. Mas já queria explorar novas coisas fora do Recife. Lá na Escola de Circo, onde tinha aulas de trapézio, dança e interpretação,  mais uma vez uma colega de turma me perguntou: você é atriz? Aí eu brinquei: não, só estou esperando que me descubram (risos). . E aí o Fellipe (Barbosa, diretor de Casa Grande),  foi meu professor também e sempre comentava que eu tirava risada de todo mundo.

E como aconteceu o convite para o filme?

Depois que eu terminei a escola de cinema Darcy Ribeiro, onde me descobri atriz, pensei:  tenho que experimentar ! Foi quando fui para uma escola de teatro, a Cau, Casa de Artes de Laranjeiras e outros workshops. Fiz aulas com Hugo Moss, fiz com Sérgio Pena e Ana Kfouri (preparadores de elenco da Globo). Quando Fellipe me ligou eu estava no meio desse estudo ainda me sentindo verde.

Clarissa em Casa Grande Clarissa em Casa Grande

Foi a sua primeira experiência cinematográfica, não é?

Para um longa, como atriz, sim. Já tinha feito um curta, onde eu tive o primeiro contato com set.

Como foi a preparação para a personagem de Casa Grande, a Rita?

A Rita  é a empregada da casa rica. Aqui no Recife, várias empregadas domésticas passaram pela minha vida e eu sempre fui próxima a elas. Era um universo que me deixava curiosa, o jeito de ser, o jeito de falar. Quando eu tinha oito anos havia na minha casa uma que ligava às vezes do motel para avisar que estava lá. Convivi muito com essas pessoas que têm esse jeito tão peculiar, foi meu grande laboratório anterior sem eu nem imaginar que ia precisar resgatar. O resto foi construção mesmo de buscar uma Rita que é fogosa.

CasaGrande_Rita2

Como foi para você receber um prêmio tão importante assim, logo de cara, no primeiro longa? 

Foi uma surpresa porque você fica muito crítica no primeiro trabalho. Cheia de dúvidas. O prêmio veio para me fortalecer. Ainda imagino eu que vá percorrer muitos percalços porque é uma área muito difícil, mas agora eu encaro de outra forma. É uma profissão como qualquer outra que você vai ter que batalhar e correr atrás.

Clarissa Pinheiro recebeu o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival Paulínia Clarissa Pinheiro recebeu o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival Paulínia

Te abriu portas?

Abriu possibilidades. Depois dele eu recebi um convite da globo para fazer um comercial para a Globo Filmes quepassou no Festival do Rio. Uma homenagem ao cinema nacional, dirigido por Cacá Diegues, uma brincadeira com títulos de filmes. Foi uma experiência diferente. Tenho recebido troca de contatos e interesses.

Você pensa em fazer TV e teatro ou seu foco é cinema?

Eu gosto de interpretação como um todo. Em qualquer  meio me interessa. Tudo depende do projeto e de você comprar a ideia.

Com quem você gostaria de trabalhar?

De ator, Wagner Moura. Acho que seria uma troca maravilhosa. Para mim ele é um ícone com quem eu gostaria de contracenar, num set, numa TV ou num teatro. De diretor, são muitos. Daqui de Pernambuco, uma infinidade: Kleber Mendonça Filho, Daniel Aragão, Leo Lacca, Cláudio Assis. Nesse momento eu estou muito focada em Pernambuco. Essa vinda para o Janela me fez respirar a cidade, eu tava na contagem para chegar aqui.

Fotos: Dayvison Nunes/JC Imagem Fotos: Dayvison Nunes/JC Imagem

Você chega ao Recife com outro olhar depois de tudo isso?

Por ser essa área muito incerta acho que muita gente pensou, talvez, que era loucura da minha parte ir para o Rio tentar. Vir para cá com essa receptividade que eu estou tendo agora é muito bom. E o que eu vejo é como o Recife cresceu em termos de cidade, de infraestrutura, mas cresceu também lá fora. Eu tenho ido para festivais e eu estou sempre vendo filmes pernambucanos. Eu me sinto muito orgulhosa e volto com olhar de paixão pela cidade.

Confira o vídeo produzido por Isabelle Figuerôa para o portal NE10 com a atriz:

https://youtu.be/IZloBPEzQiU

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