Empresário nunca mais: Durval Lelys mais assinava cheque do que fazia música

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 23/10/2014 às 20:25
Fotos: Reprodução
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Desde abril que a relação Durval Lelys-Asa de Águia não é a mesma. Fundador e líder artístico e empresarial da banda baiana que, junto com outros artistas e grupos, pôs o axé nos trilhos do sucesso, sobretudo nos anos 90, "Durvalino, meu rei" pôs ponto final na história iniciada em 1987, embora nunca admita o fim. Em conversa com o Social1, contou sobre a sua motivação para a virada na carreira - Não quer mais, de jeito nenhum, ser empresário. Confessa que, diante das burocracias de dono de empresa, estava fazendo música de forma acomodada, e adianta que seu primeiro CD solo será acústico. Acompanhe:

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Qual a raiz dessa carreira solo?

Essa carreira é continuidade do processo com o Asa de Águia. Quando a gente decidiu parar a estrutura, percebeu que o novo projeto seria uma oportunidade de abrir o leque: cantar outros estilos, participar de uma renovação artística e preservar a nossa história. Não tivemos briga interna. A gente entendeu que o mercado do axé sofreu uma transformação... Tanto que vários artistas do ramo fizeram isso. Eu fui, talvez, o último a dar o pulo. Por eu entender que, estando envolvido há vários anos com a criação de um império - posso falar disso com humildade, porque temos superestrutura de trio, bloco, camarote, e corremos o mundo inteiro -, daqui a um tempo eu não estaria trabalhando mais com música. Eu acordava e ia dormir tendo assinado cheques, resolvido burocracias... A música estava sendo conduzida de forma acomodada. Eu já sabia a fórmula do sucesso, o pá-pá-pá, como ganhar dinheiro. Mas tinha perdido afinco com a música.

E agora?

Sendo Durval e mudando a gestão, alem de cumprir compromissos morais, fiscais e trabalhistas com o grupo, me coloquei como prestador de serviços para a Ner Produções, com quem eu já trabalhava, do meu irmão Ricardo Lelys. Só sou responsavel pelo lado musical. Ganho meu cachê artístico. O resto ele conduz. Há mais de seis meses que eu me encontrei com a arte; que eu não tenho mais contato com processos burocráticos, a não ser com opiniões. Virei um conselheiro. Estou quase morando no meu estúdio, fazendo música o tempo todo, criando novas concepções, sendo mais eclético. Eu agreguei novo valor com menos responsabilidade. Isso foi fantástico.

Seus ganhos diminuíram?

Proporcionalmente, não. Meus encargos eram bem altos. Hoje tenho receita mais filtrada, com menos despesas do que quando sustentava a estrutura que eu tinha. A maioria dos grandes empresários, hoje, praticamente não tem empregado nenhum. O custo dele é a capacidade dele. Não penso no dinheiro, penso na criatividade. Como é que eu fiquei famoso? Com a música. Vou sempre ser restituído com o resultado do meu trabalho. E quem vai fazer a música? Se eu conseguir fazer bem minha atividade, tenho perspectiva de ganhar mais do que como executor de tarefas.

Adeus ao Durval empresário?

Já me realizei nessa área. Não teria mais para onde ir, só me encheria de pepinos. Quero tocar, fazer música. Minha fortuna cultural e capital vem da minha música e da liberdade de criar, ter tempo para isso. É investir 100% na perspectiva do meu negócio.

Mas, você ainda é sócio da pousada Triboju em Noronha?

Essa é uma das minhas realizações empresariais. Está lá bombando. Tenho muitas coisas desse tipo espalhadas por aí. Ela é um xodó, por minha relação com Noronha, mas meu irmão é quem faz toda a parte executiva; se deixasse na minha mão e na de Ju [sócio], a gente estaria acampado e não sairia de lá [risos].

A última formação do Asa de Águia A última formação do Asa de Águia

Você disse que está musicalmente mais eclético...

Chegou da masterização em Miami meu primeiro disco solo, Meu verão, com 12 músicas acústicas. Tem uma até que é a da minha filha Luma, de oito anos. Ela fez quase toda. É um disco como eu nasci: tocando violão, cajón... Os fãs que já curtem a minha música vão pirar. Ele é minha essência. Queria que meu primeiro projeto fosse o mais simples possível, com total de verdade. Faço todas as minhas músicas tocando gaita ou violão. Fiz esse CD no processo nativo da minha criação. O hitmaker e o showbusiness fui a vida inteira; queria que conhecessem minha música do jeito que eu faço. Não queria fazer grandeza comercial; queria mostrar uma grandeza interior.

O que mudou no axé?

Quando comecei, há 27 anos, a música baiana tinha uma caracerística: todo mundo que vinha, dizia: 'eles tocam de tudo, rock, lambada, música internacional, em ritmo de Carnaval'. Era uma música de trio elétrico, de micareta, de Carnaval, como uma banda de baile, mas com ritmo de Carnaval. A gente ganhou o Brasil, era algo novo, virou celebridade, ganhou até visibilidade internacional. O trio elétrico era uma propriedade baiana. Mas o mercado percebeu que o trio não era só trio, era um palco móvel. Começaram a subir políticos, nos showmícios, depois forró, sertanejo, samba... Hoje, o Carnaval da Bahia tem até David Guetta. O patrimônio virou da humanidade. Deixou de ser "guetual". É filho daquele local, mas é internacional. Quem está embaixo começou a absorver outros tipos de música: reggae, samba, sertanejo universitário, forró. Nós viramos uma peça dessa música. Somos respeitados, mas somos um estilo. Não é mais, essencialmente, a essência do negócio. Isso é uma evolução do equipamento. Essa queda do axé, de que as pessoas falam, tem muito a ver com essa unificação.

Asa de Águia pode voltar?

Isso fica em aberto, porque para o Asa voltar, em forma de turnê ou projeto especial, é preciso que a gente primeiro finalize o ciclo da finalização efetiva. Não é muito rápido. Não acho que leve menos de dois anos. Tem que indenizar todos os funcionários, encerrar o ciclo da empresa que regulava a marca... É uma estrutura grande, mas está tudo sendo feito, a gente se preparou para isso. Não se acaba banda, acaba a estrutura, que pode ser regida amanhã por um royaltie, por exemplo. A marca está ali, preservada, e o grupo é fácil de se reestruturar porque tem repertório sólido.

https://youtu.be/bIaeYXHzctg

Durval Lelys é atração, sábado (25), do Trynave, que começa às 17h, na área externa do Centro de Convenções, em Olinda. Além dele, tocam Eva, Leo Verão e Danel Freitas, Forró Pegado e Forró dos Plays.

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