Romero de Andrade Lima pelas lentes de Felipe Ribeiro/JC Imagem
Romero de Andrade Lima mudou de endereço temporariamente. Ele trocou por algumas semanas o seu ateliê no charmoso Poço da Panela, bairro que, aliás, considera ideal para o trabalho de um artista, por Candeias. Numa tarde à beira-mar, com o sol já querendo baixar, ele recebeu a equipe do Social1 para falar dos seus novos trabalhos: uma montagem teatral do Auto da Compadecida e a série de pinturas que intitulou de Praianas.
Esta é a paisagem que tem inspirado Romero de Andrade Lima
O artista e a beira-mar de Candeias
Toda a família de Romero costuma veranear nessa praia de Jaboatão dos Guararapes; alguns estabeleceram residência fixa por lá. O tio e padrinho, o escritor Ariano Suassuna, é um dos que, de tempos em tempos, passa uma temporada por lá. O mestre do Armorial foi figura fundamental em sua formação. Foi frequentando a casa do escritor, local de encontro de vários artistas na década de 70, que Romero deu os primeiros passos para se tornar quem é hoje: pintor, escultor e diretor de teatro. “Era uma casa muito cheia de arte e tinha muito ensaios e encontro de artistas. Desde essa época, eu comecei a fazer uns desenhos e mostrar a tio Ariano; sempre influenciado pelas conversas que eu ouvia lá”.
Na instalação em que se transformou um dos quartos da casa em Candeias
Hoje, aos 57 anos, Romero, cuja carreira de fato começou aos 23 anos, dedica-se a homenagear o célebre tio e umas das suas mais famosas obras, Auto da Compadecida, que em 2015 completa 60 anos. Junto ao grupo paulista mambembe Circo Branco, com o qual trabalha há 21 anos, prepara nova montagem do texto, utilizando recursos audiovisuais, teatro, música, bonecos e oito atores em cena. A peça, explica, é, na verdade, uma cantoria em formato de cordel. “Como ele fez o texto originalmente baseado nesse tipo de folhetim, eu quis andar para trás e fazer uma homenagem ao texto com espírito de cordel. É simples como uma cantoria de feira”, explica.
O artista plástico mostra os bonecos de barro de Ariano Suassuna e da Compadecida
Romero esculpiu em barro os bonecos-personagens do Auto e que entram em cena de acordo com a uma tradição oriental em que o intérprete fica aparente. Com eles, vai criando, montando e filmando cena-a-cena, com câmera caseira e jogando no Youtube. O primeiro, com seis minutos, já está no ar, no canal da Olíndia Filmes, que ele criou. “É uma coisa experimental e envolve todas as técnicas que a gente vem trabalhando A ideia é ir fazendo os fragmentos e ir juntando. No final de 2015 pretendo fazer uma apresentação maior com os atores e bonecos misturados. Depois que eu conseguir um apoio, trago para o Recife”, diz.
A Compadecida, Jesus, Ariano, Chicó e João Grilo, personagens do Auto da Compadecida
A estreia acontecerá em São Paulo, no teatro Brincantes, do multiartista Antônio Nóbrega, na Vila Madalena. A parte musical é um trabalho coletivo. Todos, atores e diretor, contribuem. “A gente pega melodias de domínio público, normalmente nordestinas, e encaixa o texto de Ariano lá. Como é também a tradição dos cantadores de cordel, você pega a base melódica e vai mudando a letra de acordo com a necessidade”
Romero de Andrade Lima pinta a paisagem da praia de Candeias
Paralela a este trabalho, a pintura continua presente e está espalhada por toda a casa. Atualmente, Romero de Andrade Lima tem como inspiração a paisagem que vê todos os dias quando acorda: a praia. “Ainda estou rabiscando, mas quero fazer uma referência direta ao mar e lançar exposição no segundo semestre deste ano”. Ele, porém, não é de se prender a um tema só. "Gosto de passear pelo meu repertório, às vezes alguém me pede para fazer uma releitura de uma obra de alguma fase minha e pinto", afirma. E dá pra ver na casa de Candeias a quantidade de temas que ali habitam a julgar pelo rascunho de um painel em que Romero faz releituras de músicas dos beatles e que devem virar uma série também.