"Para você, que não gosta de falar sobre câncer", escreve jornalista após vencer tumor maligno na mama

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 30/10/2017 às 10:51
"Há oito meses, tive o meu diagnóstico. Foi tudo inesperado. Prontamente ergui as mangas e me lancei na guerra", relata Juliana Chaves (Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem)
"Há oito meses, tive o meu diagnóstico. Foi tudo inesperado. Prontamente ergui as mangas e me lancei na guerra", relata Juliana Chaves (Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem) FOTO: "Há oito meses, tive o meu diagnóstico. Foi tudo inesperado. Prontamente ergui as mangas e me lancei na guerra", relata Juliana Chaves (Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem)

Para você, que não gosta de falar sobre câncer

Por Juliana Chaves, 39 anos, jornalista, diagnosticada com câncer de mama há oito meses

A gente ouve falar tanto de câncer de mama... No mês de outubro, participamos de eventos, vemos outdoors, campanhas... Tudo para alertar as mulheres sobre a importância da prevenção. Mas a verdade é que, para quem não vive ou viveu este drama, falar do assunto incomoda, traz medo. Queremos manter a distância.

Mas é pra estas pessoas que peço a permissão para falar. O câncer deixou de ser aquele monstro. Os tratamentos estão mais direcionados e mais eficientes. E os seus efeitos colaterais, mais leves. Contudo, não posso deixar de lhe falar sobre alguns aspectos importantes.

Há oito meses tive o meu diagnóstico. Foi tudo tão inesperado. Mas, como numa batalha, a gente luta. Eu prontamente ergui as mangas e me lancei na guerra. Com Deus, dois filhos pequenos, um marido incrível, uma família e amigos amorosos, criei forças, mesmo com o fantasma de ter perdido a minha mãe para esta luta.

Juliana Chaves com os filhos na época em que estava em tratamento (Foto: Deborah Ghelman/Divulgação)

Descobri o câncer cedo, por meio de uma mamografia. Fiz poucas sessões de quimioterapia e várias de radioterapia. Decidi fazer uma mastectomia nos dois seios, preservando os mamilos. O pós é chato, confesso. A gente não se prepara para ele. Fisiologicamente falando, passei a ter mais dores musculares. Demorei a aceitar meus novos seios e a encarar que, sim, eles são meus.

Nesse processo, a drenagem linfática e a fisioterapia foram (e são) bem necessárias porque me ajudam, a princípio, a reduzir os edemas, as fibroses e a relaxar os músculos. O que acontece é que, como o corpo é todo interligado, a mudança na área das mamas, com a inserção dos silicones também, afeta a flexibilidade de alguns músculos, que repuxam outros. Sinto, por exemplo, muitas dores nos ombros por causa das alterações posturais. Isso tem sido resolvido com algumas terapias manuais e muito exercício físico.

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Mas, vamos lá! Sigamos em frente porque há muita vida ainda pra se viver e muitos sonhos pra se sonhar e realizar. Peraí, falei de sonhos?!? Onde eles estão? Quem passa por um tratamento de câncer ou por qualquer outra doença que possa ser terminal, dá uma pausa no cronômetro e refaz tudo. E aí, meus amigos, é que quero alertá-los. Somos um corpo, que é suprido de várias formas.

Alimentação é uma das mais importantes. Descobri, nessa caminhada, que eu estava aprendendo, só agora, a verdadeiramente cuidar de mim. Foi o tempo de parar a máquina e rever meu combustível. Reavaliar o que eu ingeria. Na parte física, muito açúcar. Só que o açúcar está ligado à maior produção de células inflamatórias - entre elas, as cancerígenas. E como comemos açúcar em nosso dia a dia... Aquele chocolatinho inofensivo que me dava um prazer danado... Aquele bolo com as crianças... Bem, passei a tentar enxergar como um desprazer. É um processo muito difícil, mas que eu peço que todos, mesmo os que não tiveram câncer, ponderem, diminuam a ingestão desses produtos industriais superaçucarados, cheios de conservantes e outras substâncias químicas. Ainda quanto à alimentação, teria uma lista de coisas a compartilhar, mas para ser mais breve, sugiro a leitura do livro Anticâncer, de David Servan Schreiber.

Precisamos procurar os nossos prazeres no que faz bem ao nosso corpo. E aí eu enxerguei os benefícios do exercício físico, talvez pela primeira vez na vida. Longe de estéticas. Passei a movimentar o corpo todos os dias. Somos como uma máquina que precisa se mover para não enferrujar. Isso passou a ser prioridade. Aquela velha desculpa de: "não tenho tempo ou não tenho dinheiro" não cabe mais. Afinal, se o meu corpo parar, de que me adiantará? É um dos principais investimentos que devo fazer em mim mesma.

Por fim, tenho reavaliado a minha psique, a minha alma, as minhas emoções; sonhado novos sonhos, tentado ser mais aventureira e, digamos, menos responsável comigo mesma, corrido da ansiedade e do estresse... E nesse ponto, o alimento espiritual é essencial. Eu diria até imprescindível. Entendi que fui formada por um criador, que o relacionamento e a confiança nEle fazem parte do meu ser. É diretamente ligada ao meu conteúdo. Então também me faz bem, me dá prazer e me torna uma pessoa bem feliz.

Apesar das inseguranças que a vida nos traz, seja por que for, tenho mantido a fé num Deus que me ama e que cuida de mim. Vejo isso todos os dias, em pequenas coisas ou grandes coisas, e me alegro. Há um propósito maior. Assim, sigo tranquila, querendo me relacionar cada vez mais com Ele e com todos, para aprender a viver o amor verdadeiro.

Outubro não é só tempo de se prevenir com exames. É tempo de refletir. Sobre a vida. Sobre o sentido da vida. E sobre a maneira que você tem lidado com ela. Viva a vida verdadeiramente e, para isso, lembre-se de cuidar de todas as partes que te formam sempre, equilibrando os combustíveis que tem dado ao espírito, ao físico e à alma.