Responsável por epidemias de dengue hemorrágica, sorotipo 2 da doença preocupa em PE

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 28/05/2017 às 22:05
Monitoramento dos possíveis focos do mosquito e ações de vigilância são essenciais para combater dengue, chicungunha e zika (Foto: Ricardo B. Labastier/Acervo JC Imagem)
Monitoramento dos possíveis focos do mosquito e ações de vigilância são essenciais para combater dengue, chicungunha e zika (Foto: Ricardo B. Labastier/Acervo JC Imagem) FOTO: Monitoramento dos possíveis focos do mosquito e ações de vigilância são essenciais para combater dengue, chicungunha e zika (Foto: Ricardo B. Labastier/Acervo JC Imagem)

A primeira morte confirmada em 2017 por dengue, em Pernambuco, e associada ao sorotipo 2 da doença (DENV-2), desperta a atenção. “Ele foi responsável pelo maior número de casos em 2007 e 2011. Mas epidemia para valer mesmo, por DEN-2, só em 1998, quando esse sorotipo entrou no Brasil. Passamos esse tempo todo sem exposição a esse tipo do vírus. Por isso, hoje há muitas pessoas susceptíveis ao adoecimento por DEN-2”, destaca o clínico-geral Carlos Brito, membro do Comitê Técnico de Arboviroses do Ministério da Saúde.

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A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que, este ano, até o momento, só foi isolado o DEN-2. Mesmo assim,  ainda não é possível dizer que Pernambuco está sem circulação dos outros sorotipos: DEN-1, DEN-3 e DEN-4.

Certo mesmo é que não dá para descartar risco de epidemia. Importante também é ficarmos atentos  ao DEN-2, historicamente responsável pelas epidemias de dengue hemorrágica – forma grave da doença que merece cuidados especiais.

Morte

Em 2017, desde fevereiro, Pernambuco registra mortes associadas a arboviroses (dengue, chicungunha e zika), mas apenas ontem foi confirmado o primeiro óbito de 2017 causado pelo Aedes aegypti, mosquito presente em maior quantidade em 87 dos 184 municípios do Estado, o que favorece o adoecimento pelas arboviroses. O cenário levou a Secretaria Estadual de Saúde (SES) a reforçar a importância de se manter controle dos criadouros do mosquito.

"Quando começam a aparecer mortes causadas por arboviroses e desenvolvimento de formas graves relacionadas a essas doenças, podemos pensar numa possibilidade de instalação de epidemias", esclarece Carlos Brito (Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem)

A primeira vítima do ano é um idoso, morador do bairro de Afogados (Zona Oeste do Recife), tinha esquizofrenia e morreu em 21 de abril, aos 67 anos, em decorrência da infecção pelo sorotipo 2 da dengue (DEN-2). Ainda segundo a Secretaria de Saúde do Recife, o paciente evoluiu com pressão arterial baixa e se queixava de dor abdominal. O caso foi classificado como febre hemorrágica de dengue. A confirmação foi anunciada ontem, em boletim da SES. Há outros 28 óbitos pelo Aedes em investigação no Estado.

“Quando começam a aparecer mortes causadas por arboviroses e desenvolvimento de formas graves relacionadas a essas doenças, podemos pensar numa possibilidade de instalação de epidemias”, esclarece o clínico-geral Carlos Brito, membro do Comitê Técnico de Arboviroses do Ministério da Saúde.

O médico acrescenta que o risco de surto atual é semelhante ao cenário observado em 2010, quando as curvas de adoecimento por dengue fugiram do padrão. "Historicamente, o pico das epidemias acontece entre março e abril. Mas, em 2010, o número de casos começou a aumentar em maio, com foco maior em junho. A epidemia perdurou até agosto. Ou seja, esse cenário pode estar se repetindo agora. Por isso, não podemos afastar risco de surto.”

Os casos de dengue têm prevalecido nas notificações do Estado. Entre 5.459 pessoas que adoeceram com sintomas da doença, 1.101 tiveram o diagnóstico confirmado. No mesmo período de 2016, foram 104.261 casos suspeitos (redução de 94,8% em relação aos dados atuais). “Como tivemos, em Pernambuco, epidemias de zika em 2015 e de chicungunha em 2016, boa parte da população deve estar imune ao adoecimento por ambos os vírus. Isso pode explicar por que os casos de dengue (que estava sem predominar nos últimos anos) recrudesceram, em comparação à zika e chicungunha”, sublinha Carlos Brito.

No vermelho

Apesar de os casos de arboviroses terem reduzido bastante, em comparação com o ano passado, a SES se mostra preocupada com a quantidade de municípios que têm acumulado focos do mosquito. São 87 em situação de risco de surto para as doenças do Aedes, mais 52 em estado de alerta, como o Recife, e 19 em situação favorável.

“Este ano tem menos casos porque há menos pessoas susceptíveis ao adoecimento. São as que foram infectadas no ano passado, por exemplo, e teoricamente estão imunizadas. Mas há possibilidade de epidemia isolada, especialmente nas cidades do Sertão, onde houve poucas notificações de arboviroses em 2016”, salienta a gerente do Programa de Controle das Arboviroses da SES, Claudenice Pontes.

Para ela, o fato de existir muitas residências com a presença do mosquito, em quase metade dos municípios pernambucanos, revela que a população tem relaxado em relação à prevenção dos criadouros. “Não devemos descuidar. Com as chuvas dos últimos dias, seguidas de dias de sol, vamos ter mais focos do mosquito. Temos mais Aedes, e os vírus estão em circulação. Isso favorece uma nova epidemia. Não se pode relaxar”, alerta Claudenice.