Glaucoma em bebê com zika congênita é documentado pela 1ª vez no Brasil

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 30/11/2016 às 15:53
Pesquisadores da Unifesp publicaram primeiro estudo sobre presença de glaucoma congênito em bebê infectado pelo vírus zika (Foto: Diego Nigro / JC Imagem)
Pesquisadores da Unifesp publicaram primeiro estudo sobre presença de glaucoma congênito em bebê infectado pelo vírus zika (Foto: Diego Nigro / JC Imagem) FOTO: Pesquisadores da Unifesp publicaram primeiro estudo sobre presença de glaucoma congênito em bebê infectado pelo vírus zika (Foto: Diego Nigro / JC Imagem)

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) identificaram a presença de glaucoma congênito em um bebê com comprovada infecção pelo vírus zika. Caracterizada pelo aumento da pressão intraocular, a doença nas crianças diagnosticadas com má formação nos olhos pode levar à cegueira permanente. A descoberta foi descrita pela primeira vez na literatura científica, em trabalho publicado na revista Ophthalmology, da Academia Americana de Oftalmologia. A pesquisa foi realizada em conjunto por pesquisadores da Unifesp, do Hospital Roberto Santos (Salvador/BA), da Universidade de Yale (EUA) e dos laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Evandro Chagas.

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No artigo, os autores relatam o caso em um bebê de três meses de idade, nascido em Salvador (BA), com sorologia positiva para vírus zika e negativa para dengue e outras possíveis causas de infecções congênitas. A criança apresentava microcefalia, alterações dos membros inferiores, além de outras alterações cerebrais, como o desenvolvimento incompleto do corpo caloso (parte do cérebro que liga os hemisférios esquerdo e direito) e lisencefalia, também conhecido como “cérebro liso”, devido à falta de sulcos e reentrâncias que observamos em um cérebro normal.

De acordo com os pesquisadores, a criança apresentava aumento do globo ocular direito, associado à fotofobia (sensibilidade e intolerância à luz) e lacrimejamento persistente, além de irritabilidade à exposição e à luminosidade. Os exames oftalmológicos acusaram aumento do diâmetro da córnea no olho direito, enquanto no olho esquerdo apresentava-se dentro da normalidade. A pressão intraocular do olho alterado foi duas vezes superior (30 mmHg) ao normal de 14 mmHg, encontrada no olho esquerdo. A córnea do olho direito também apresentava um aspecto ‘azulado’, consequência do importante edema causado pelo aumento da pressão intraocular.

Rubens Belfort Jr., professor do Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), um dos autores do estudo, explica que a possibilidade de um vírus causar o glaucoma congênito abre novas perspectivas na pesquisa sobre a síndrome da zika congênita e em outras situações onde não se esperaria haver infecção viral associada. Estudos anteriores já haviam identificado outras lesões oculares em bebês infectados pelo vírus zika, principalmente na retina e no nervo óptico.

O bebê avaliado foi submetido à trabeculectomia, cirurgia para tratar o glaucoma congênito do olho direito, o que normalizou a pressão intraocular e melhorou a irritabilidade, a fotofobia e o lacrimejamento, além de reduzir o edema corneano. “Por ser uma doença de alto potencial de perda visual irreversível é de extrema importância que todos os profissionais de saúde estejam atentos à possibilidade da ocorrência de mais essa manifestação da infecção congênita pelo vírus zika, com diagnóstico rápido e cirurgia, muitas vezes, imediata”, afirma Belfort Jr.

Casos de bebês com síndrome congênita do zika que também apresentavam glaucoma também foram descritos em trabalhos desenvolvidos pela Fundação Altino Ventura (FAV), mas ainda não foram documentados em artigos científicos.