Pesquisadores da Fiocruz Pernambuco e da Universidade de Glasgow (Reino Unido) sequenciaram, pela primeira vez, o genoma do vírus zika circulante em Pernambuco. O sequenciamento do vírus coletado de um paciente, em 2015, mostra que a cepa do vírus existente no Estado é semelhante ao circulante no continente asiático e no Sudeste do Brasil. O estudo revela também que o zika produz uma molécula inibidora de parte do sistema imunológico do doente. Isso dificulta o organismo de se defender, assim como ocorre com a dengue e a febre amarela. Essas constatações estão relatadas no artigo Sequência completa do genoma e caracterização da atividade antagonista de interferon do vírus zika do Recife, Brasil, publicado na edição deste mês de outubro da revista PLoS Neglected Tropical Diseases.
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A inibição do sistema imunológico do paciente é provocada pela partícula do vírus denominada sfRNA (RNA subgenômico de Flavivirus – um pequeno RNA produzido durante a infecção pelo vírus zika) e pode ser a chave para a compreensão de como o vírus causa a doença. "Sabendo como o vírus subverte o sistema imunológico podemos testar drogas já existentes ou novas para evitar esse tipo de mecanismo e usar como terapia da infecção", explica o pesquisador da Fiocruz Pernambuco Rafael França, que é um dos autores do artigo. Quando comparado o bloqueio do sistema imunológico provocado pela zika com o gerado pela dengue, a pesquisa mostra que o poder de inibição é maior no caso do zika.
De acordo com Rafael França, o sequenciamento do vírus, que foi depositado num banco de dados de genoma público (Genbank), acessível a pesquisadores de todo o mundo, também ajudará a gerar vacinas usando técnicas de engenharia genética e kits de diagnóstico. Ele destaca que o vírus sequenciado, por ter sido coletado de um paciente com a doença, representa melhor o que está na natureza do que um vírus replicado em laboratório, que sofre mutação com o tempo. A intenção do grupo de pesquisa, formado por pesquisadores de várias instituições, é caracterizar dezenas de genomas para verificar a evolução do vírus.
SAIBA MAIS
Além de Rafael França, assinam o artigo, pela Fiocruz Pernambuco, os pesquisadores Lindomar Pena e Marli Tenório, todos do Departamento de Virologia e Terapia Experimental da instituição. Os demais autores são profissionais das universidades de Glasgow, Yale (EUA) e Oxford (Inglaterra); da University South Bohemia (República Checa) e do Instituto Pasteur de Dakar (Senegal).
Os dados do artigo são resultantes da pesquisa The emergence of zika virus in Brazil: investigating viral features and host responses to design preventive strategie, coordenado por Rafael França. O projeto é financiado pelo Fundo Newton e pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe).