Recife avança no combate ao fumo, mas é preciso dar mais alguns passos

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 06/08/2016 às 8:46
cigarro_Destaque FOTO:

Imagem de cigarro (Foto: Free Images) Não há níveis seguros para exposição à fumaça do cigarro (Foto: Free Images)

Há 15 anos, o Recife passou a reconhecer o tabagismo como a maior causa de morte isolada evitável do mundo num momento em que 28% dos adultos que moravam na capital eram fumantes. Para fazer cair esse índice, a cidade resolveu abraçar ações de prevenção e combate ao tabagismo, especialmente com a implantação de ambientes livres de fumo. Com esse controle, a capital pernambucana ganhou o título da cidade onde se registrou a maior queda na prevalência de fumantes no Brasil: passou de 15,9% em 2007 para 10,4% no ano seguinte. Depois disso, nunca mais houve redução tão expressiva na frequência das pessoas expostas ao tabagismo, mas o percentual pelo menos tem se mantido.

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Atualmente, 10,3% dos adultos recifenses têm como hábito acender o cigarro. “Essa é uma prevalência favorável. Se formos comparar com o cenário que observamos no mundo, o Recife é um local de poucos fumantes. Houve uma queda muito expressiva nos últimos 20 anos”, explica o pneumologista Alfredo Leite, do Hospital Barão de Lucena.

Ainda assim, a capital desponta entre as 10 cidades com o maior percentual de fumantes no Brasil. É preciso avançar mais, já que não há níveis seguros para a exposição à fumaça do tabaco, segundo instituições que mais alertam em relação ao consumo.

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O preocupante é que 4,5% das pessoas do Recife que têm esse comportamento consomem 20 ou mais cigarros por dia, o que faz a capital assumir a terceira posição no ranking das cidades brasileiras onde os fumantes não aliviam nas tragadas. Para as pessoas que precisam de quantidades cada vez maiores do cigarro, a dependência química é o principal obstáculo. “Há indivíduos que fazem a tentativa de abandonar o fumo, mas não conseguem se manter sem o cigarro por causa da crise de abstinência. O cérebro estava habituado à estimulação decorrente da nicotina e, com a suspensão do cigarro, vêm irritabilidade, dificuldade de concentração e insônia”, explica Alfredo Leite.

E para enfrentar essa dificuldade, é preciso apoio. Sem ajuda, a chance de parar de fumar é de 1% ao longo de um ano de tentativa. “Com ajuda médica e psicológica, esse percentual sobe para 40%. A questão é que o acesso aos tratamentos pelo Sistema Único de Saúde ainda é errático. Os programas de controle do tabagismo começam e param de funcionar”, acrescenta.

Outro detalhe é que as ações de combate ao tabagismo precisam deixar de ser esporádicas e não se limitar a datas comemorativas. “As políticas públicas não podem ser interrompidas. É importante fazer programas de continuidade e manter o tema em evidência”, frisa a assistente social Maristela Menezes, que esteve à frente da Política de Controle do Tabagismo do Recife de 2001 a 2009. “A pandemia do tabagismo continua sendo construída socialmente por interesse econômico e precisa ser enfrentada com decisão política pelos governos. Se não for mantido monitoramento das ações da indústria, pode-se começar a ver aumentar a prevalência de fumantes”, complementa Maristela.