Severidade da microcefalia está relacionada com lesões oculares, comprova pesquisa

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 02/06/2016 às 14:07
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Imagem de mulher segurando bebê com microcefalia (Foto: Diego Nigro / JC Imagem) Pesquisa também apontou que lesões em regiões mais profundas do olho, como a retina e o nervo óptico, são mais encontradas em recém-nascidos cujas mães apresentaram sintomas do zika vírus nos primeiros três meses da gestação (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)

Um estudo inédito realizado por cientistas da Fundação Altino Ventura (FAV) comprovou que quanto menor for o diâmetro da cabeça de bebês com microcefalia, maior a chance da criança apresentar alterações oculares graves. A pesquisa também apontou que lesões em regiões mais profundas do olho, como a retina e o nervo óptico, são mais encontradas em recém-nascidos cujas mães apresentaram sintomas do zika vírus nos primeiros três meses da gestação. Os dados foram publicados na JamaThe Journal of the American Association, uma das publicações mais importantes na área.

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O levantamento também foi o primeiro a comprovar por sorologia que as lesões oculares foram causadas pelo zika vírus. As 40 crianças envolvidas no estudo, nascidas entre maio e dezembro do ano passado, passaram pelo exame do líquido cefalo-raquidiano (líquor/LCR), que comprovou que 22 bebês tinham alterações oculares graves. As crianças que apresentaram lesão na visão tinham, em média, perímetro encefálico de 28,8 centímetros. Já as demais tinham, em média, o perímetro cefálico de 30,3 centímetros.

A evidência pode ajudar a nortear desdobramentos nas novas etapas do estudo. “Essas crianças precisam de atenção especial e um diagnóstico criterioso. Mas para que possamos avançar no acompanhamento médico, precisamos primeiro entender a doença para conseguir desenvolver um tratamento específico. Nas próximas investigações, queremos saber qual é o grau de acometimento na visão dos bebês e se essas lesões levarão a uma baixa de visão importante”, ressalta a oftalmologista Camila Ventura, autora principal da pesquisa.

Entre as mães que apresentaram os sintomas da arbovirose nos primeiros três meses da gravidez, 20% tiveram dores nas articulações, 22% tiveram dor de cabeça forte e 70% relataram erupções na pele. Na análise retrospectiva, no entanto, nenhuma delas relatou ter apresentado problemas oculares durante a manifestação da doença.

Até o momento, as pesquisas já haviam identificado que a infecção congênita deixava cicatrizes no fundo do olho, atingindo principalmente a mácula, uma das regiões mais nobres da retina. “A mácula é a responsável pela visão central. Nós sabemos que as crianças terão uma alteração no meio do campo visual, mas ainda é necessário identificar qual o grau de severidade. Além da mácula, atinge também o nervo ótico, estrutura que leva as informações da retina para o cérebro. Se o nervo não está saudável, como nesses casos, haverá relação com baixa visão também”, explica a médica.

A especialista também destaca que as alterações de grau nos bebês, como hipermetropia e miopia, não têm relação direta com as lesões oculares. "Os bebês podem ter alterações do foco, o que se corrige com óculos, facilitando assim o uso de áreas da retina não afetadas”, esclarece.

O estudo foi feito em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) e o Hospital Barão de Lucena.