Pesquisa também apontou que lesões em regiões mais profundas do olho, como a retina e o nervo óptico, são mais encontradas em recém-nascidos cujas mães apresentaram sintomas do zika vírus nos primeiros três meses da gestação (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)
Um estudo inédito realizado por cientistas da Fundação Altino Ventura (FAV) comprovou que quanto menor for o diâmetro da cabeça de bebês com microcefalia, maior a chance da criança apresentar alterações oculares graves. A pesquisa também apontou que lesões em regiões mais profundas do olho, como a retina e o nervo óptico, são mais encontradas em recém-nascidos cujas mães apresentaram sintomas do zika vírus nos primeiros três meses da gestação. Os dados foram publicados na Jama – The Journal of the American Association, uma das publicações mais importantes na área.
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O levantamento também foi o primeiro a comprovar por sorologia que as lesões oculares foram causadas pelo zika vírus. As 40 crianças envolvidas no estudo, nascidas entre maio e dezembro do ano passado, passaram pelo exame do líquido cefalo-raquidiano (líquor/LCR), que comprovou que 22 bebês tinham alterações oculares graves. As crianças que apresentaram lesão na visão tinham, em média, perímetro encefálico de 28,8 centímetros. Já as demais tinham, em média, o perímetro cefálico de 30,3 centímetros.
A evidência pode ajudar a nortear desdobramentos nas novas etapas do estudo. “Essas crianças precisam de atenção especial e um diagnóstico criterioso. Mas para que possamos avançar no acompanhamento médico, precisamos primeiro entender a doença para conseguir desenvolver um tratamento específico. Nas próximas investigações, queremos saber qual é o grau de acometimento na visão dos bebês e se essas lesões levarão a uma baixa de visão importante”, ressalta a oftalmologista Camila Ventura, autora principal da pesquisa.
Entre as mães que apresentaram os sintomas da arbovirose nos primeiros três meses da gravidez, 20% tiveram dores nas articulações, 22% tiveram dor de cabeça forte e 70% relataram erupções na pele. Na análise retrospectiva, no entanto, nenhuma delas relatou ter apresentado problemas oculares durante a manifestação da doença.
Até o momento, as pesquisas já haviam identificado que a infecção congênita deixava cicatrizes no fundo do olho, atingindo principalmente a mácula, uma das regiões mais nobres da retina. “A mácula é a responsável pela visão central. Nós sabemos que as crianças terão uma alteração no meio do campo visual, mas ainda é necessário identificar qual o grau de severidade. Além da mácula, atinge também o nervo ótico, estrutura que leva as informações da retina para o cérebro. Se o nervo não está saudável, como nesses casos, haverá relação com baixa visão também”, explica a médica.
A especialista também destaca que as alterações de grau nos bebês, como hipermetropia e miopia, não têm relação direta com as lesões oculares. "Os bebês podem ter alterações do foco, o que se corrige com óculos, facilitando assim o uso de áreas da retina não afetadas”, esclarece.
O estudo foi feito em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) e o Hospital Barão de Lucena.