Possibilidade de relação entre transtornos psiquiátricos e arboviroses é investigada

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 23/03/2016 às 11:18
(Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)
(Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem) FOTO: (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)

Aedes aegypti transmite dengue, chicungunha e zika (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem) Vírus transmitidos pelo Aedes aegypti, como chicungunha e zika, podem ter relação com desenvolvimento de transtornos psiquiátricos agudos pós infecção (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)

Médicos começam a observar pacientes que passam a apresentar transtornos psiquiátricos agudos em até 15 dias após terem iniciado um quadro sugestivo de infecção por chicungunha e zika. Confusão mental, irritabilidade, agitação e ideias distorcidas são alguns dos sinais que esse grupo de pacientes manifesta e que podem estar relacionados a arboviroses, mas é preciso iniciar uma investigação para esclarecer a relação de causa e efeito.

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“Chama a atenção o fato de os casos relatados pelos colegas não apresentarem histórico pessoal anterior e familiar de quadros psicóticos. Mas ainda não podemos atestar relação com chicungunha ou zika sem resultados de exames”, diz a psiquiatra Kátia Petribú, professora da Universidade de Pernambuco. Ela reforça que, apesar de terem surgido quadros confusionais possivelmente relacionados a arboviroses (com base nos sintomas apresentados pelo paciente), é preciso olhar com cautela. “Seriam esses casos coincidência, já que estamos em surto epidêmico? Por outro lado, precisamos considerar que vírus tão neurotrópicos (afinidade pelo sistema nervoso central) como chicungunha e zika – que podem causar síndromes neurológicas – também poderiam levar a manifestações psiquiátricas”, pondera Kátia.

Ela e outros médicos passaram a discutir mais esses casos quando tomaram conhecimento de uma adolescente de 11 anos, internada no Hospital da Restauração (HR), em fevereiro, após tocar fogo nas roupas. Antes do acidente, ela apresentou sintomas sugestivo de chicungunha. “No Carnaval, teve febre alta e dores no corpo. Ficou sonolenta, debilitada e foi atendida em uma Unidade de Pronto Atendimento. Dias depois, apareceu com as roupas em chamas. A queimadura foi profunda. Fez enxerto de pele e teve alta. Está fazendo curativos”, conta a pediatra Elizane Laurentino, da Unidade de Queimados do HR. A médica informa que aguarda os resultados dos exames para dengue e chicungunha. “É uma menina sem histórico anterior de distúrbios de comportamento, mas que hoje tem dificuldade para manter uma conversa.”

O psiquiatra Amaury Cantilino, professor da Universidade Federal de Pernambuco, também tem conhecimento de pacientes que evoluíram com quadros psicóticos possivelmente associados a arboviroses. “Colegas têm comentado sobre essas situações, e já atendi uma idosa com quadro psicótico cerca de um mês após chicungunha. Precisamos ponderar muitos pontos em casos como esse”, diz Amaury.

O clínico geral Carlos Brito, membro do Comitê de Arboviroses do Ministério da Saúde, salienta que os médicos têm atendido atualmente nas urgências mais casos de chicungunha, que pode ser acompanhada por alterações de humor, sono e memória. "Por si só, a dor da chicungunha alteraria neurotransmissores relacionados a comportamento e humor, o que levaria a distúrbios psiquiátricos na fase aguda da doença", acrescenta.

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) esclarece que foi informada de um caso de paciente que apresentou quadro psiquiátrico agudo, possivelmente relacionado a arboviroses. “Assim como toda hipótese, essa será analisada e investigada pela equipe da vigilância epidemiológica do Estado.” A SES acrescenta que é prematuro fazer qualquer tipo de afirmação sobre o que pode ter provocado esse quadro clínico.