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Conheça a história de Ney Silva, o influencer que elevou o patamar do futebol de várzea em Pernambuco

Davi Saboya
Davi Saboya
Publicado em 03/12/2020 às 18:36
Ney Silva ao lado do lateral-esquerdo Reinaldo (E) e meia Daniel Alves (D) no vestiário do São Paulo. Foto: Reprodução/Instagram
Ney Silva ao lado do lateral-esquerdo Reinaldo (E) e meia Daniel Alves (D) no vestiário do São Paulo. Foto: Reprodução/Instagram

Um celular na mão, a cara e coragem, além da necessidade de gerar uma renda extra para custear o tratamento do filho, portador de um leve grau de autismo. Foi assim que Waldney, mais conhecido no Instagram como Ney Silva, virou a "Voz da Várzea" e elevou o futebol amador em Pernambuco. Aos 28 anos, o recifense, influencer digital e torcedor do Santa Cruz convive com a fama entre os fãs, estrelas e peladeiros do mundo da bola. Morador do Sítio das Palmeiras, no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife, ele não precisa mais empurrar o carrinho, onde vendia cd's piratas, e conta com 12 patrocinadores que investem em um dos perfis de maior sucesso do esporte.

A explosão é tão grande, que até o craque brasileiro Neymar, por intermédio do ex-jogador de futsal, Falcão, enviou um vídeo parabenizando pelo sucesso e se tornando um dos 534 mil seguidores. Sem contar que Dani Alves, Hernanes (São Paulo), David Luiz, Aubameyang (Arsenal), Diego Tardelli, Diego Souza (Grêmio), Everton Cebolinha (Benfica), Keno (Atlético-MG), Ronaldo Fenômeno, Rivaldo, Ricardo Rocha... e vários outros nomes de sucesso trocam mensagens com Ney e acompanham diariamente as coberturas e narrações das partidas nos "terrões", que cada vez mais viralizam na internet. Ney Silva tem até música criada pelo MC Nuno Boladão chamada de "1x1".

"Ver grandes jogadores me seguindo é um prazer enorme. Poder comprar a feira da minha casa, o remédio do meu filho, trabalhar sem dor de cabeça pensando de como pagaria as contas... poder fazer essas coisas simples é muito gratificante para mim, pois eu não tinha nada disso"

Ganhar o camisa 10 da seleção brasileira e PSG, Neymar, por sinal, foi especial para Ney Silva. O filho dele leva o nome do jogador. Tudo porque poucos dias antes do nascimento do herdeiro, o jovem atleta, e promessa na época, marcou um lindo gol na final entre Santos x Santo André no Campeonato Paulista de 2010. O suficiente para o influencer batizar o filho em homenagem ao craque.

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"Me vejo hoje em um momento que Deus é bom o tempo todo. Represento a comunidade, aquele pessoal que teve poucas oportunidades, porém, que abraçou as chances obtidas. Represento a favela, a simplicidade do povo pobre, negro. Sou filho de mãe solteira (Dona Selma Maria), meu pai nunca ligou para mim. Agradeço a Deus por tudo que está acontecendo na minha vida. Esses jogadores enxergam no meu trabalho o que a maioria viveu lá atrás no começo da carreira. Não tem explicação o sentimento que sinto quando chego no meio dessa galera (os jogadores profissionais)"

"Eu precisava de uma renda extra e fui transmitir os campeonatos. Só que eu vi que estava um pouco morno. Então, comecei a entrevistar o pessoal. Foi aí que começou a resenha. Fazia pela 'grea' mesmo. Não me inspiro em ninguém. Iniciei no Facebook, mas foi através do story do Instagram que tudo começou e viralizou com as narrações engraçadas. Foi com isso que vi que o negócio foi pegando corpo"

INÍCIO

Quem acompanha o sucesso de Ney Silva atualmente não imagina a dificuldade que ele sofreu no começo da vida. "Filho de mãe solteira", como o próprio se define, precisou conviver com a fome nos primeiros anos de vida. A dificuldade era tão grande que o na época garoto só comia quando não aguentava mais o vazio na barriga. Ainda garoto, foi morar com a mãe Selma Maria na comunidade de Tejucupapo, em Goiana, Região Metropolitana do Recife, a 64 km da capital. Também viveu por muito tempo na comunidade de Roda de Fogo, no bairro dos Torrões, Zona Oeste do Recife.

Waldney chegou a buscar emprego em São Paulo, mas não deu certo. No retorno à Pernambuco, em 2011, decidiu se alistar no Exército, onde passou um ano. Logo, em seguida, casou e dois anos depois virou pai. O maior desafio da vida dele. Neymar, o filho, foi diagnosticado com a síndrome de epilepsia, que posteriormente, gerou um grau leve de autismo. Cada caixa do remédio para o tratamento custava cerca de R$ 300. Precisando de dinheiro, Ney não pensou duas vezes.

Montou um carrinho, que guarda até hoje e diz que serve para lembrar de todo o sacrifício do início, e foi para a rua vender cd's piratas. Só que a atividade autônoma não era o suficiente para atender as necessidades. Precisando de uma renda extra, ele foi até o amigo "Dudu Society" pedir uma oportunidade. Após ouvir toda a história do futuro "A Voz da Várzea", o empreendedor ofereceu o primeiro trabalho: cobrir, na época no Facebook, um dos vários torneios organizados por ele nos seus campos.

Foi aí que surgiu o "Cordeiro Fut 7". Aos poucos, de competição em competição, o trabalho de Ney foi crescendo e tomando uma proporção inimaginável. Consequentemente, ele foi querendo mais. Antes de migrar para o Instagram, decidiu estudar os influencers digitais de sucesso. Como, por exemplo, Whinderson Nunes e Carlinhos Maia. Além disso, buscou apoio na literatura. Segundo ele, o livro "Como fazer amigos e influenciar pessoas", do americano Dale Carnegie, mudou tudo. E, também com humor, começou a virar um fenômeno.

VÁRZEA

"Foi uma revolução no futebol de várzea. Nunca imaginei que jogador profissional seria fã de peladeiro. Isso só acontece quando existe uma visibilidade. Mas tem também carinho, elogio, crítica. Tudo isso é fruto da audiência"

No Instagram, o nome de um dos perfis de maiores sucesso do mundo da bola começou sendo chamado de "Cordeiro Fut 7". Mas não durou muito tempo. Rapidamente, para fortalecer o nome, virou Ney Silva. Apelido esse que ganhou nas ruas das comunidades do Recife e atualmente já ultrapassou as fronteiras do Brasil. Até então, ninguém queria saber na internet do futebol de várzea. Porém, trazendo o humor para as transmissões, o pernambucano conseguiu inverter a ordem da bola "nadando contra a maré".

Provavelmente, você que está lendo essa matéria e gosta de futebol já ouviu bordões como "você é feinho", "é de verdade", "não é lusa", "zuada", entre outros criados por Ney Silva. Como também já deve ter ouvido falar de figuras como Bráulio Noronha de Morais, polêmico goleiro, Mané que não é otário, para alguns o melhor jogador da várzea de Pernambuco, Cinho, dono de uma potente perna esquerda e forte personalidade, Michel Platiny, o Rei do Interior, Willian Oliveira do Nascimento, mais conhecido como Vassoura.

Esse último nada mais, nada menos que o melhor jogador de Fut 7 do mundo em 2018. Figura conhecida também no futebol pernambucano. Já passou pelo time profissional do Náutico, entre outros clubes do interior, mais não conseguiu se firmar no campo. Foi nas quadras e no society que brilhou pelo mundo. Ele e todos esses jogadores viraram estrelas. Ganharam fãs, que antes torciam apenas para os jogadores dos clubes profissionais, como também as estrelas do futebol nacional e mundial.

"A própria palavra diz tudo. A 'Voz da Várzea', da comunidade. Na verdade, eu não sou a 'Voz da Várzea. A 'Voz da Várzea' são os jogadores. Eu dou voz a cada um deles. É muito fácil entrevistar, falar com jogador profissional. Quero ver fazer matéria com quem ninguém conhece"

"É muito difícil sair da várzea e jogar no profissional. O torcedor que está do lado de fora assistindo fala sempre que quer ver o peladeiro jogar no clube. Só que, quando a diretoria contrata, ele reclama, desce a lenha, diz que o clube não tem dinheiro. A direção que desejar passar uma oportunidade precisa aguentar uma pressão grande dos torcedores, pois é muito difícil"

1X1

"Mexe muito com o ego. A gente tem mania de comparar quem é melhor: fulano ou siclano. O 1x1 veio para acabar com tudo isso. No futebol, o que se mais fala é a comparação de que um jogador é melhor que o outro. Porém, às vezes, fulano que é muito bom, pegava um time fraco. E sicrano que não era tão bom, pegava uma equipe melhor e vencia. Aí começava aquela resenha. Agora não tem mais isso. Por isso está dando muito certo. É um jogo bastante intenso"

Na grama sintética, no barro, na areia - futvôlei e beach soccer - Ney Silva cobre todas as modalidades derivadas do futebol. Mas, o que estourou e elevou o patamar dele e dos peladeiros, foi o jogo conhecido como "1x1". Um jogador e um goleiro de cada lado e está formada a chamada pelo influencer de "arapuca". Peladeiro x profissional, peladeiro x peladeiro e até MC x MC estão brilhando nas transmissões e narrações do ex-Waldney.

Recentemente, no duelo entre o pernambucano MC Dadá Boladão e o paulista MC Livinho, a transmissão ultrapassou a marca de mais de 90 mil expectadores. O recorde de Ney Silva até o momento. Nas lives, o público é o mais diversificado possível. E, claro, não faltam estrelas do futebol. Já marcaram presença figuras como Gabigol, do Flamengo, o meia Pedro Victor, ex-Corinthians e atualmente no Benfica, Roberto Carlos e Cafu, ex-laterais da seleção brasileira, Lucas Silva, ex-volante do Real Madrid e atualmente no Grêmio.

O nome e considerado melhor jogador do "1x1" é o pernambucano Vassoura. O nome a ser batido. No entanto, o que move o desafio são as apostas oficiais e extraoficiais. Muitos dos duelos valem uma premiação. Só que fora da "jaula" as quantias chegam a bater a casa de 30, 40 mil reais. Tudo isso motivado e fruto do sucesso que virou Ney Silva no Instagram. O sonhador rapaz faz questão de nunca esquecer as origens. Hoje, não passa as dificuldades do início. Não vende cd's piratas há quatro anos, mora em um lugar humildade, e segue sonhando, querendo mais, não se contentando com a fama atual e a amizade que criou com os craques que antes assistia apenas na TV.

"O que eu almejo para o futuro é fazer uma final não só aqui na minha comunidade. Na verdade, o futuro já está começando. Fui para Goiânia (atendendo ao convite do atacante do Flamengo, Michael, para cobrir o torneio dele de várzea), Rio Grande do Sul (a estreia de Falcão no Fut 7 do Grêmio) e São Paulo (duelo entre os MC's). Meu sonho é fazer uma final em uma favela no Rio de Janeiro. Rocinha, Complexo do Alemão, aquele clima grande de comunidade mesmo"

"Penso muito na responsabilidade que carrego. Deus me deu o poder de influenciar e tento levar isso sempre da maneira correta. Influenciar para o bem. Falar para as crianças que é preciso estudar, pois o futebol ilude bastante. Nem sempre quem tenta vira profissional. Deus me deu uma responsabilidade e preciso usar da melhor maneira"

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