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Goleiros passam a usar mais os pés, mas maioria ainda enfrentam dificuldades

LOURENÇO GADÊLHA
LOURENÇO GADÊLHA
Publicado em 22/11/2020 às 9:32
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem

Em meio às constantes mudanças no futebol, a posição de goleiro é uma das que mais evoluíram nas últimas décadas. Conhecido por ter a responsabilidade universal de defender o gol com as mãos, esse jogador agora passou a utilizar de forma mais ativa também os pés. Ou seja, essa habilidade deixou de ser um diferencial como alguns goleiros tinham no passado e passou a ser uma obrigação. No contexto dos times que prezam por uma saída de bola mais elaborada, o goleiro precisa ter a qualidade com os pés, saber jogar adiantado, ter leitura de jogo para saber atuar como último homem da defesa e entender que ele é parte importante do modelo de jogo. 

A iniciativa visa fazer com que a bola chegue com mais qualidade ao ataque para ter uma finalização mais efetiva. Com essa construção inicial, o goleiro causa uma superioridade numérica no setor defensivo, auxiliando taticamente o time para sair de uma marcação imposta pelo adversário. De acordo com Nílson, ex-goleiro de Santa Cruz e Náutico, e atualmente treinador de futebol, apesar da ideia positiva, é preciso que esse tipo de fundamento seja trabalhado desde a base. 

“O futebol evoluiu e o goleiro entrou nesse processo evolutivo de jogar também com os pés e ser elemento utilizado para a construção do jogo desde trás. Com isso, é preciso trabalhar os goleiros bem com os pés, mas é preciso se trabalhar desde a formação. Por isso, a importância de ter uma filosofia de trabalho no clube, como é executado no Barcelona, onde todas as categorias de base jogam da mesma forma que o time profissional, com os mesmos conceitos de jogo e o goleiro está inserido nesse processo”, avaliou.

EXEMPLOS DE SUCESSO

O maior expoente dessa evolução é a escola alemã de goleiros, principalmente com Manuel Neuer, do Bayern de Munique, e Ter Stegen, do Barcelona. O "novo" comportamento ficou em evidência na Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil e vencida pela Alemanha. Na ocasião, Neuer desfilou toda sua habilidade com a saída da área, domínio da bola, posicionamento, atuação com os pés e, claro, a grande capacidade de fazer defesas com as mãos. Para ilustrar isso, é possível observar o jogo das oitavas de final entre a Alemanha e a Argélia, onde o goleiro cortou um total de 20 ataques dos argelinos com os pés ou a cabeça, como se fosse um líbero. 

Mas a mudança na função não ficou restrita apenas aos alemães. Atualmente, os principais arqueiros da Seleção Brasileira também são referências mundiais no fundamento que caracteriza o goleiro moderno. Alisson, do Liverpool, e Éderson, do Manchester City, têm grande habilidade na saída de bola e são peças fundamentais no esquema de Jürgen Klopp e Pep Guardiola, justamente por ajudarem na construção das jogadas da equipe desde o início. Alisson, inclusive, deu um lançamento para Mohamed Salah no início do ano que se transformou numa assistência, já que o egípcio recebeu a bola de frente para o gol e finalizou com precisão. 

Esse talento, no entanto, não é novidade. Isso porque desde a década passada, Rogério Ceni já se destacava justamente com essa característica. O goleiro marcou época no São Paulo não apenas pelos 131 gols marcados, que o consagrou como o maior artilheiro da posição no mundo, como também ajudava a equipe com sua qualidade de passes, domínios e lançamentos. Um talento genuíno que abriu portas para que outros pudessem trilhar o mesmo caminho no futebol brasileiro, a exemplo de Weverton (Palmeiras), Éverson (Atlético Mineiro), Felipe Alves (Fortaleza), Santos (Athletico Paranaense) e Tiago Volpi (São Paulo). 

DIFICULDADES

O problema é que apesar dessa facilidade que alguns brasileiros têm para desempenhar tal função, os demais goleiros da Série A não compartilham da mesma habilidade. Por isso, com essa nova exigência do futebol onde os protetores do gol passam a ser peça ativa na construção das jogadas, se tornou cada vez mais comum os erros que resultam em bolas na rede para o adversário. O caso mais recente no futebol brasileiro foi o do jovem goleiro Hugo Souza, do Flamengo, que foi tentar driblar o atacante Brenner, do São Paulo, na quarta-feira da semana passada em jogo da Copa do Brasil, e no lance acabou desarmado, com o atleta tricolor marcando o gol que deu a vitória aos paulistas. Erro capital que culminou na derrota. 

Ex-goleiro de Santa Cruz e Náutico, e atual técnico de futebol, Nílson avalia que a tomada de decisão do jovem goleiro rubro-negro foi equivocada, justamente porque o atleta tinha uma linha de passe para iniciar a construção da jogada. “Aquilo não é jogar com os pés. Ele tentou driblar. Isso é uma irresponsabilidade, imaturidade da parte dele, porque ele tinha linha de passe para poder jogar e tentou o drible ninguém sabe porque. Dentro do processo evolutivo, existem os erros e com eles nós crescemos. Óbvio que o Hugo não voltará a cometer este tipo de erro”, analisou. 

Vencedor de praticamente todos os títulos possíveis com o Corinthians, o goleiro Cássio possui uma extrema dificuldade nesse quesito. Sempre que a bola chega aos pés do arqueiro torna-se um momento de aflição para os torcedores alvinegros. Ainda assim, desde o ano passado, trabalhos específicos de aperfeiçoamento foram realizados para que o atleta pudesse evoluir esse fundamento. Além dele, outros guarda-redes também apresentam dificuldades, como Luan Polli (Sport), Marcelo Lomba (Internacional), Diego Cavalieri (Botafogo), entre outros. Para Nílson, esse tipo de dificuldade deve ser avaliado pelo treinador, se realmente vale a pena correr o risco. Isso porque, em alguns casos, como o do próprio Cássio, é muito difícil tornar possível uma evolução.

“Tudo que nós vamos fazer existe um risco e todos esses riscos são calculados. A cobrança por parte da imprensa vai sempre existir. O que não pode existir é a cobrança do treinador para esse goleiro, porque foi ele quem pediu, com sua ideia de jogo e sabe do risco que é. Para quem gosta desse tipo de construção desde trás, vale a pena. Agora o treinador tem que ter atenção para saber se tem goleiro para isso. Se pedir isso pro Cássio, vai ter dificuldade, porque a probabilidade dele errar é muito grande. O treinador é que tem que ser inteligente em saber se o seu goleiro tem qualidade para ajudar na construção do seu jogar, desde a primeira linha de construção”, finalizou.

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