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Hwang Bo-ram, a coreana que representará as mães na Copa do Mundo

Karoline Albuquerque
Karoline Albuquerque
Publicado em 04/06/2019 às 12:56
Foto: Jung Yeon-je / AFP
Foto: Jung Yeon-je / AFP

Da AFP - A zagueira Hwang Bo-ram é a única mãe da seleção feminina da Coreia do Sul que disputará a Copa do Mundo da França a partir desta sexta-feira (7). Uma condição que obriga a jogadora a ser exemplar em campo, em uma sociedade patriarcal que oferece pouco espaço para mães.

As disparidades salariais entre homens e mulheres são grandes na Coreia do Sul e uma gravidez pode paralisar completamente uma carreira. Então, quando ela deu à luz uma menina há 14 meses, ninguém esperava que Hwang Bo-ram pudesse voltar a jogar por seu clube, o Hwacheon KSPO, muito menos pela seleção nacional.

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Mas as pessoas não contavam com a garra dessa zagueira, que também é a única jogadora da Coreia do Sul casada e, aos 31 anos, a mais experiente da equipe. "Voltar a treinar foi muito difícil" depois do parto, explicou. "E eu preciso dar o bom exemplo, não quero ouvir as pessoas dizerem: 'Ela teve um bebê', ou: 'Ela é velha demais para jogar agora'".

"Então não procurei desculpas, escondi meus sentimentos e treinei ainda mais duro", explicou a zagueira, que já tinha visto a vida pessoal se tornar pública quando o noivo a pediu em casamento dentro de campo após uma partida da Coreia do Sul na Copa do Mundo de 2015, no Canadá.

No Campeonato Sul-coreano, no qual somente uma outra mãe de família havia jogado no passado, Hwang Bo-ram voltou a jogar em dezembro, antes de retornar à seleção em abril e de ser convocada para a Copa em maio.

Sociedade patriarcal

A Coreia do Sul é a quarta maior economia asiática e um peso pesado do esporte na região, um dos únicos países, junto com o Japão, a ter sediado os Jogos Olímpicos de verão e inverno. Mas a sociedade ainda é muito patriarcal em diversos aspectos, como no mercado de trabalho, no qual 82% dos homens casados trabalham, contra somente 53% das mulheres casadas.

As esposas e mães de família estão acostumadas a lidar com a descriminação por parte dos empregadores, reticentes na hora de lhes oferecer um cargo com medo de que não tenham condições de cumprir as longas horas de um dia de trabalho normal na Coreia do Sul.

As disparidades salariais estão entre as maiores entre países desenvolvidos: em média, as mulheres recebem 63% do salário dos homens. E o futebol não é exceção.

Kim Shin-wook, o jogador mais bem pago da K-League, o Campeonato Sul-coreano, recebeu 1,6 milhão de euros na temporada passada. Mas, na liga feminina, o teto salarial é de 38 mil euros, ou seja 3% do salário de Kim.

A Federação Coreana (KFA) também teve que lidar com críticas em 2015: a equipe masculina viajou de classe executiva, enquanto as mulheres iam de econômica. "Os homens rendem muito mais dinheiro para a federação", se defendeu na época a KFA.

"Chorei de alegria"

Ver Hwang se tornar a primeira mãe a disputar uma Copa do Mundo "é um grande feito para a sociedade coreana em geral, na qual tantas mulheres têm muita dificuldade para encontrar um emprego após dar à luz", analisou Choi Dong-ho, diretor do Centro para a cultura esportiva, um grupo de pesquisa coreano.

Hwang seguiu algumas etapas para voltar a jogar em alto nível. Primeiramente, uma retomada gradual do esforço físico cinco meses após o parto, na base de sessões de pilates. Em seguida, treinos com uma equipe de estudantes três meses depois.

"Foi uma viagem longa", lembra seu marido, Lee Du-hee. "Como atleta profissional, interromper a carreira por quase dois anos é um grande sacrifício, até para quem não engravidou ou deu à luz. Ela teve que lidar com muita pressão, porque o corpo não é o mesmo após o parto. Ela não sabia se conseguiria voltar a jogar como antes".

Mas o retorno de Hwang não surpreendeu o técnico de seu clube, Kang Jae-son, que elogia "a velocidade, a força, a determinação e a experiência" de sua zagueira.

O marido de Hwang toma conta da filha enquanto a mãe está jogando longe de casa, o que acontecerá durante a Copa do Mundo. "Eu chorei de alegria quando fiquei sabendo que ela tinha sido convocada pela seleção", sorri Lee. "Eu sei o quanto ela trabalhou duro, apesar de todos os obstáculos. Não posso descrever o respeito que tenho por minha mulher".

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