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[Artigo] A pior das quedas

Karoline Albuquerque
Karoline Albuquerque
Publicado em 07/12/2018 às 10:02
Foto: JC Imagem
Foto: JC Imagem

Por Leonardo Coelho* **

Engana-se o torcedor rubro-negro que pensa que a queda para a série B foi o pior mal que poderia ter ocorrido ao Sport Club do Recife no ano de 2018. Descensos ocorrem sempre, inclusive em grandes clubes como o nosso. Acontecem principalmente em clubes que não administram adequadamente seu orçamento, não observando a otimização de despesas e a busca da eficiência plena. Esse desfecho é apenas a face aparente de uma gestão que, pela forma peculiar de sua condução, notadamente pelo isolamento autoimposto desde o princípio, em algum momento iria mesmo chegar aonde chegou. Mas existe ainda uma outra face pouco visível e até mais preocupante que pode deixar sequelas por um longo período e que, de logo, precisa ser objeto de terapia no inconsciente do torcedor.

Não estou falando da dilapidação do patrimônio físico do clube, já bastante degradado, expresso pelas cadeiras cativas abandonadas, pelo gramado em retalhos ou pelas demais áreas sociais que pouco ou nenhum conforto e segurança trazem. Também não estou falando do patrimônio imaterial entregue a concorrentes diretos por condições praticamente desconhecidas (Régis e Danilo Fernandes), valores questionáveis (Rithely, André e Éverton Felipe) ou importes sequer recebidos em decorrência de graves erros na condução e concretização das respectivas negociações (Rithely e Diego Souza), para ficar só nesses exemplos recentes. Igualmente não me refiro a contratações difíceis de entender pelo elevado risco e, quase sempre, em patamares incompatíveis com a má qualidade técnica adquirida (Mark Gonzáles, Mansur, Capa, Serginho, Lenis, Agenor, Henrique Mattos, Luís Gustavo, Vinícius Araújo, Christiano, etc). Há ainda as renovações efetuadas de caráter incompreensível, por longos períodos, como nos casos de Matheus Ferraz e Ronaldo Alves. Calma, ainda não é desse infeliz legado do qual falo.

O insucesso do futebol pode até parecer o mais grave, mas as circunstâncias que o cercam são piores. Os males acima narrados são preocupantes em demasia, mas há algo maior e que, enquanto não curado, tende a retardar bastante o soerguimento da instituição. Em primeiro lugar, cito a já tradicional dificuldade do torcedor rubro-negro de aceitar a renovação. O sócio do Sport é, por natureza, conservador, tendendo sempre a votar em nomes que já passaram pelo clube, principalmente se obtiveram sucesso com títulos no futebol, mesmo que isso tenha ocorrido tempos atrás, por vezes décadas. É a chamada “opção de segurança”. O atual mandatário do executivo rubro-negro é visto como “o novo que não deu certo”, criando o sentimento de insegurança no eleitor em relação a qualquer tentativa de renovação concreta. Esse mal, cravado na desconfiança coletiva, é por si só grave e precisa ser urgentemente remediado.

Pensar dessa forma, conservadora, é tão absurdo quanto desistir do vinho ao longo da vida porque não se gostou da primeira garrafa que foi provada na adolescência. Em segundo lugar, menciono o pior dos males: o rebaixamento de patamar. Sem dúvida, esse rebaixamento de status foi sentido que o rebaixamento de série no campeonato nacional. Caímos de cabeça erguida em campo, como nossos atletas lutando com garra na etapa final da competição, mesmo em condições de trabalho adversas, mas é certo que não caímos em pé fora dos gramados. De um clube creditável passamos a ser vistos com grande desconfiança no cenário futebolístico. Salários atrasados, promessas (muitas) não cumpridas, técnico pedindo demissão e dando declarações lastimáveis acerca do clima de trabalho interno, ex-atletas que não recomendam o clube para novos jogadores, assim como a perda de ídolos por falta absoluta de cuidado no trato e na condução estratégica de seus contratos (casos de Rithely, André, Nelsinho Batista e até do ídolo Durval).

Independente da queda, o Sport sai menor de 2018. Eis a verdade! Encará-la com humildade é o passo maior que se pode dar em busca de uma restauração, quiçá uma breve restauração. Embora o tempo seja inimigo, a certeza de que o possível pode se tornar provável é mesmo um grande alento. Todavia, primeiro é preciso deixar a soberba de lado e enxergar a realidade como ela é, ainda que muito dura. Um bom início será perceber que moramos no planeta Terra e não em Marte. Os olhos da memória e a dor da realidade estão aí para comprovar. As tentativas propositais de distorção são repugnantes ao apaixonado e simples dono da bola: o torcedor.

Quanto tempo durará tal recuperação? Além dos deuses do futebol, só um bom trabalho profissional poderá responder a essa pergunta. Mas uma conclusão se faz imperiosa e precisa ser logo compreendida: a renovação não é o problema, ao contrário, se apresenta como a única solução. Assim como no exemplo do vinho, negar essa necessidade é o mesmo que desistir do clube diante do insucesso momentâneo de um determinado elenco e/ou diretoria. E isso, estou certo, o torcedor rubro negro jamais o fará, simplesmente porque o Sport é, para todos que o amam, mais que um time, é “uma razão para viver”, aqui ou em Marte.

*Leonardo Coêlho é advogado, ex vice-presidente jurídico e atual candidato a presidente do Conselho Deliberativo do Sport Club do Recife.

**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Blog do Torcedor

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