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Consciência Negra: atletas contra o racismo

Karoline Albuquerque
Karoline Albuquerque
Publicado em 11/11/2018 às 13:07
Foto: AFP
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Gabriela Máxima, do Jornal do Commercio

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Embora a representatividade dos negros nos esportes seja expressiva, os relatos sobre racismo ainda marcam e traumatizam. Muitas vezes, a discriminação é responsável por encurtar trajetórias de atletas talentosos. Em outros casos, as ofensas são encaradas como uma ferramenta propulsora. Novembro é o mês para lembrar de forma mais enfática a presença dos negros na sociedade. Afinal, no próximo dia 20 é comemorado o Dia da Consciência Negra – a data foi escolhida porque marca a morte de Zumbi dos Palmares. Nos esportes, há atletas que também utilizam a cor da pele como uma forma de luta por igualdade racial (confira quadro ao lado).

Esse é o caso de Rafaela Silva, primeira brasileira campeã olímpica de judô, nos Jogos do Rio, em 2016. A atleta foi criada na Cidade de Deus e sempre carregou as cicatrizes do preconceito por ser mulher, pobre, negra e lésbica. Ainda em 2012, antes de faturar o ouro olímpico, ela foi bombardeada por ofensas racistas após ser eliminada dos Jogos de Londres. O trauma foi tão grande que Rafaela pensou em desistir do judô. Quatro anos depois ela estava no palco do Rio-2016 para dar a volta por cima com a medalha dourada no pescoço. “O macaco que tinha que estar na jaula hoje é campeão”, falou, em resposta ao racismo sofrido no passado.

De acordo com Liana Lewis, professora adjunta do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a questão do racismo é explicada porque existe uma dicotomia muito forte entre natureza, corpo e cultura, civilização. O corpo do negro é inscrito no âmbito da natureza e, dentro dessa perspectiva racista, o negro vai ser observado como um ser humano não completo. A situação fica ainda mais complicada quando o negro comete algum erro.

“É como se existisse a incapacidade para ele executar aquela atividade. A gente vê isso na medicina, a gente vê isso no esporte. Rafaela cometeu um equívoco e sofreu todo tipo de racismo. No futebol isso também é muito recorrente. No momento em que o negro comete algum equívoco é posto que ele falhou até onde ele poderia atuar de forma satisfatória com o corpo. No Brasil, a gente acaba não reconhecendo o racismo que os atletas negros sofrem por conta do mito da democracia racial”, esclareceu Liana.

Para ficar por dentro, o conceito de democracia racial prevê que existe respeito e tolerância na sociedade e que não há uma segregação nomeada como nos Estados Unidos, onde existem bairros de negros e bairros de brancos. “Aqui não existe a nomeação, mas existe a experiência, a vivência de segregação espacial. Mas a gente acaba nomeando essa questão como fatores econômico e social. A partir disso, acaba não reconhecendo a violência extrema que os esportistas negros sofrem. No futebol é muito recorrente também a associação do negro ao macaco. Isso é revelado da ideia da sociedade ocidental da não-suficiência humana do negro. O macaco se aproxima do humano, mas ele não é humano”, explicou a professora de sociologia.

Infelizmente a situação de Rafaela Silva não é um caso isolado. A judoca é apenas um entre os milhares exemplos de como os negros podem ser tratados no Brasil e no mundo. Nos Estados Unidos, Serena Williams é considerada a maior tenista de todos os tempos, mas é constantemente inferiorizada pela cor da sua pele. Apesar de todo preconceito, aos 37 anos, a atleta é símbolo de luta contra o racismo. “Ela sofre racismo de maneira recorrente. E um dos racismo que ela sofre é quando o corpo dela é comparado ao corpo masculino, como se ela fosse masculinizada. A mulher negra é inscrita sob uma dupla representação: ou ela é hipersexualizada, e aí ela vai operar como fetiche sexual, ou seu corpo vai ser equiparado à natureza e, portanto, um masculinizado”, concluiu Liana.

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