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Estante F.C. - O dia em que Pelé desfiou Deus. E perdeu

Ramon Andrade
Ramon Andrade
Publicado em 27/03/2016 às 9:05
Estante FC O Drible FOTO:

Estante F.C.

Toda semana, um dos repórteres de Esportes do Blog do Torcedor, do Jornal do Commercio, da TV Jornal e da Rádio Jornal vai escrever sobre o último livro que leu ou ainda está lendo, envolvendo temas esportivos. Nesta semana, Álvaro Filho mostra que literatura e futebol podem fazer uma boa tabelinha.

Estante FC O Drible

Nelson Rodrigues costumava dizer que ainda não tinha surgido um escritor brasileiro capaz de bater um escanteio ou nem mesmo um lateral. Era um reflexo de um ramo da cultura nacional onde o "país do futebol" não entra em campo. Ou não entrava. Há alguns anos, a literatura sobre o assunto vem crescendo, embora mais concentrada em biografias, enciclopédias e compêndios histórico e de estatística, além de um frutífero nicho de estudos sociológicos.

Mas faltava a ficção. Ou melhor, não falta mais.

"O Drible", do crítico literário e escritor mineiro Sérgio Soares, se não redime a literatura pelas décadas de esquecimento da paixão nacional, pelo menos é um pontapé inicial de respeito: já começou levantando uma taça. O romance venceu o prestigiado prêmio Portugal Telecom de Literatura, em 2014, mostrando que o apreço por futebol é dividido entre os patrícios, principalmente após o fenômeno Cristiano Ronaldo.

A trama de "O Drible" trata sobre a tabelinha mal feita entre pai, um narrador esportivo famoso, e o filho ofuscado pelo brilho paterno. Na eminência de pendurar as chuteiras desse plano, há uma tentativa paterna de reaproximação, que como sempre acontece remexe nos esqueletos que as famílias costumam guardar no armário.

Porém, mais do que a trama, "O Drible" se destaca pela escrita fina e pensada, com as palavras escaladas para as devidas posições. É com essa precisão que Sérgio Rodrigues descreve um dos lances mais emblemáticos da carreira de Pelé: o gol que ele não fez contra o Uruguai, na Copa de 70, após um desconcertante drible, o tal "o drible" do título, no goleiro Marzukiewski, que após a jogada fica tão desnorteado quanto tivesse levado um gancho no queixo.

O trecho abaixo descreve a cena, numa conversa entre pai e filho, com o lance do drible sendo repetido exaustivamente no tape.

"O velho detém o vídeo. Pousa o controle remoto no braço do sofá, olha nos seus olhos outra vez e diz, o que houve aqui, Neto, foi simples. Pelé desafio Deus e perdeu. Imagine se não perdesse. Se não perdesse, nunca mais que a humanidade dormiria tranquila. Pelé desafio Deus e perdeu, mas que desafio soberbo. Esse gol que ele não fez não é só o maior momento da história de Pelé, é também o maior momento da história do futebol"

Um livro para quem gosta de futebol e talvez não goste de literatura. E vice-versa.

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