O Todos com a Nota está perto do fim.
E se não acabar, não ficará do mesmo jeito, provavelmente sofrendo redução do número de ingressos disponíveis para a troca, do valor repassado aos clubes e com a extinção das campanhas publicitárias na mídia.
Pode sobreviver, sim, mas agonizando, respirando com aparelhos.
Em parte, a "culpa" é da atual crise.
O Governo do Estado não tem condições de medir o resultado do programa, pois o dinheiro arrecadado com as notas fiscais em todas as transações entram numa conta única, sendo impossível precisar de onde veio o dinheiro, inclusive, se oriundo do TCN ou não.
Mas o Governo tem uma suspeita que o valor investido vai além do que é arrecadado. Até porque o TCN surgiu no governo Arraes, em meados da década de 1990, quando a sonegação fiscal era grande e fazia sentido que a população cobrasse a emissão da nota, auxiliando a fiscalização.
Nunca é demais lembrar: o Todos com a Nota é um programa de "educação fiscal", não uma forma de os torcedores entrarem sem pagar nos estádios.
Do governo Arraes para cá, a fiscalização se modernizou e há tempos que os sistemas de emissão nota fiscal eletrônica e outras ações de "inteligência fiscal" reduziram drasticamente a sonegação.
Boa parte dos usuários do programa não pede a nota fiscal, não exige a emissão no balcão, não trabalha como fiscais do Governo, e sim, recebe a nota de forma automática, sem esforço algum para obtê-la.
Em outras palavras, não há mais lógica em se manter um programa de "educação fiscal".
Essa visão é compartilhada pelo secretário da Fazenda de Pernambuco, Márcio Steffani, que segundo fontes no Governo, se não anda por aí pregando o fim do programa, também não mexe uma palha para que ele continue.
A verba destinada no Campeonato Pernambuco foi cerca de R$ 5 milhões, isso apenas aos clubes, sem incluir o que é gasto com publicidade em meios de comunicação, na forma de anúncio e testemunhais.
A violência nos estádios é outro golpe no TCN.
Quem defende essa tese é, nada mais, nada menos, que o secretário de Segurança de Pernambuco, Alessandro Carvalho, um dos membros do primeiro escalão do Governo favoráveis à extinção do programa.
O caso não é relacionar o torcedor de baixa renda, principal usuário, com a prática da violência.
A lógica é outra: os clubes recebem um número fixo por jogo e nem sempre, dependendo da partida, há a troca total dos ingressos. Para não devolver os tíquetes - e o dinheiro - as agremiações disponibilizam os bilhetes para as torcidas organizadas, garantindo receita e um grau de influência sobre esse tipo de torcedor.
Isso se dá em parte pela baixa ou nula fiscalização do próprio Governo em relação ao TCN.
A mesma falta de fiscalização permite, na maioria das vezes com os clubes do interior, a existência de usuários "fantasmas" do TCN. A estratégia é a mesma: para não devolver os bilhetes (e o dinheiro), as equipes divulgam públicos que não condizem com a lotação dos estádios, fingindo que houve a troca total.
As críticas que o Todos com a Nota vêm sofrendo levaram um dos homens mais fortes do Governo, o secretário da Casa Civil, Antônio Figueira, a pensar que em vez de trazer uma imagem positiva, o TCN desgasta a imagem da gestão Paulo Câmara.
Por todos os motivos, mas principalmente pela falta de recursos da atual gestão, que vem cortando na carne em áreas mais sensíveis, como educação, saúde e segurança, o Todos com a Nota deve acabar.
A Secretaria de Finanças divulgou uma nota afirmando que a primeira rodada do Brasileiro não contará com o TCN por falta de tempo hábil, ao mesmo tempo em que divulga extraoficialmente que o programa vai acabar, a fim de medir o impacto da notícia.
Se o desgaste não for enorme, descanse em paz TCN.
Um dos fortes indícios do fim do TCN é que os clubes, que geralmente têm informação privilegiada, já começaram a criar saídas em versões próprias do programa, contemplando o torcedor de menor renda. Náutico e Santa Cruz já se adiantaram.
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Caso o TCN resista, a saída será diminuir drasticamente o número de ingressos disponíveis, assim como o valor repassado pelo Governo aos clubes por cada ingresso, aumentando ainda a fiscalização.
Outro corte certo será na publicidade, tanto na verba gasta com mídia quanto com os testemunhais em programas de rádio e TV.
Que deixará o Todos com a Nota respirando, mas sem lembrar o vigoroso programa que foi.