Blog do Torcedor - Campeonato Paulista, Carioca, Copa do Nordeste, Libertadores e Champions League ao vivo, com notícias de Flamengo, Palmeiras, PSG e outros clubes
Torcedor

Notícias de Flamengo, Palmeiras, Corinthians, PSG, Real Madrid e outros clubes ao vivo. Acompanhe aqui o Campeonato Paulista, Carioca, Libertadores e a Champions League

Paixão pelo futebol faz de Evinho um exemplo de vida

Ramon Andrade
Ramon Andrade
Publicado em 11/11/2013 às 10:00

Por Pedro Costa

Especial para o Blog do Torcedor





Evinho passa instruções aos jogadores. Foto: Fábio Jardelino/NE10


Um sujeito agitado à beira do gramado, que reúne os jogadores antes de cada partida para uma oração. A preferência no ataque é pelo centroavante alto e definidor. Aos laterais não basta apenas marcar. Apoiar as investidas do time também é fundamental. A descrição costuma ser comum à grande parte dos treinadores de futebol. Mas quem olha para Evinho, logo percebe que ele não é um treinador comum. Sentado numa cadeira de rodas, ele coordena a equipe com palavras e o gesticular apressado do braço esquerdo.


Há 29 anos, na comunidade dos Coelhos, área pobre do centro do Recife, o serralheiro Brivan Marques tinha pressa. A esposa, Marluce, estava grávida do filho caçula e seria submetida a um parto de risco, com apenas seis meses e dez dias de gestação. Após inúmeras voltas no corredor da maternidade veio a notícia. A mãe estava a salvo, mas as chances de o bebê sobreviver eram pequenas.


Foram longos 90 dias na incubadora, sob os olhares atentos dos pais e da equipe médica. Batizado com o nome do progenitor e apelidado de Evinho, o menino teve alta, mas, recebeu o diagnóstico de paralisia cerebral. Foi um baque para a família, porém diante de toda a luta para se manter vivo, ele era um milagre.


Marluce e Brivan sabiam que, a partir daquele momento, seriam, mais do que quaisquer outros, responsáveis pela felicidade do garoto, que até então pesava pouco mais de um quilo.


Evinho sempre foi impulsionado pela vontade de participar. Não poderia ser diferente. Apesar da limitação, que lhe impõe uma cadeira de rodas, nunca deixou de lado a paixão que o move: o futebol. Na infância, fazia questão de jogar com os amigos. Sem poder chutar, era goleiro na pelada da Rua Bituruna, que de tão estreita mal permite o acesso a um carro de passeio. Ficava deitado na barrinha, tentando evitar os gols.


Ainda adolescente, em 1998, surgiu a ideia que mudou a vida dele e de vários garotos, que, assim como Evinho, sonhavam com o mundo lúdico da bola. Inspirado no poderoso Milan, campeão europeu, de Gullit, Van Basten e Baresi, que aprendeu a admirar pela televisão, fundou o “Milan dos Coelhos”. No projeto, ele é coordenador e técnico de 150 crianças que vão dos seis aos 17 anos. O sustento vem das aposentadorias dos pais e do apoio da prefeitura do Recife.


“Eu queria ser um agente de transformação social aqui na comunidade, trabalhando com a coisa que mais gosto. Conversei com meus pais e eles me apoiaram de imediato. Começamos sem incentivo nenhum e hoje fazemos parte dos Círculos Populares de Esporte e Lazer da cidade”, explica.


Em dia de jogo do Recife Bom de Bola, campeonato de várzea que reúne mais de 500 equipes e 13 mil jogadores, na capital pernambucana, Evinho lidera o time com uma personalidade forte.


“Me espelho no Felipão. Ele tem comando sobre os jogadores, mas consegue tratar todos como uma família. Além disso é muito inteligente taticamente. Procuro ter a força de vontade dele, por isso, nunca desisto de ser feliz e fazer o bem”, disse.




E foi assim que Evinho ajudou o garoto Fádson Lourenço a perseguir o desejo de seguir carreira como jogador de futebol. O volante, que se define como “pegador”, começou no Milan dos Coelhos e hoje joga no Sub-11 do Náutico.


“Viajei com o Náutico para participar de um campeonato em Portugal e foi muito bacana. Joguei contra equipes como o Sevilla e foi uma experiência e tanto. O Evinho, com certeza, colaborou para que isto fosse possível”, afirma Fádson Lourenço.


Thiago, também de 11 anos, ainda não recebeu a chance em um clube. Contudo, se mostra esperançoso em se tornar um atleta profissional e reconhece que o mais importante no projeto é dar uma nova perspectiva de vida e ajudar na formação do cidadão.


“Se eu não estivesse aqui treinando, estaria em casa, assistindo televisão. Quero muito ser jogador de futebol, mas sei que o mais importante é ajudar a família e ficar longe das drogas”, diz o garoto, citando a filosofia que define o Milan dos Coelhos.


Para treinar é preciso ter bom desempenho no colégio e levar os pais para uma conversa no Centro Social do bairro, onde também são realizado os treinamentos, duas vezes por semana.


Em uma comunidade onde a violência e o tráfico ainda fazem muitas vítimas, naquele dia 23 de março de 1984, há 29 anos, ao sobreviver e sair da incubadora, Evinho não salvou somente a própria vida, mas também a de muito outros meninos apaixonados por futebol.

VEJA MAIS CONTEÚDO

Últimas notícias