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Morre o ex-técnico de futebol Cidinho

Ramon Andrade
Ramon Andrade
Publicado em 20/10/2013 às 17:07

Faleceu no sábado, o ex-técnico de futebol Cidinho, que nos anos 70 e 80 atuou no Sport, Náutico e Santa Cruz. Ele tinha 74 foi vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). O enterro aconteceu na manhã deste domingo, no Cemitério de Santo Amaro, centro do Recife.


O texto abaixo é uma homenagem que o escritor e jornalista Sidney Nicéas fez ao amigo Cidinho.

 

Cidinho: o dom da palavra

Por Sidney Niceas*

O mundo da bola é cruel. Aqui e acolá encontramos casos de ex-profissionais do futebol à mingua, esquecidos, ignorados. Atletas, dirigentes, funcionários dos clubes, treinadores do passado... Assim foi com Cidinho, uma das figuras mais excepcionais que tive o prazer de conhecer.


Cidinho foi treinador de futebol. Cria da casa. Formado pela antiga CBD, foi colega de grandes nomes da época, como Cilinho e Evaristo de Macedo. Treinou os três maiores clubes do Recife nos anos setenta e oitenta e ficou conhecido no meio pela sua grande capacidade motivacional. Era um cara de conversa boa e riso fácil. Estudava o futebol, mas tinha no valor humano a sua maior marca. Dadá Maravilha afirmou, certa vez: “Cidinho tem o dom da palavra”. E era verdade.


No início da vida adulta começou a se destacar pelas observações táticas que fazia – afinal, era ruim de bola e ninguém queria dar vez a ele nas equipes amadoras da Encruzilhada, bairro em que residiu durante muito tempo. Aliás, Cidinho não gostava de futebol. Preferia dançar o então novo Rock’n Roll a correr atrás da pelota – até que um dia, convencido a participar de uma pelada, não largou mais o vício pelo futebol.


Não à toa acabou se formando treinador. E no tal mundo da bola fez muitos amigos, mas faleceu quase esquecido.


Cidinho ficou conhecido dentro e fora do Brasil por possuir o primeiro contrato profissional de Pelé. Ele contava que havia encontrado o raro documento no lixo algumas décadas atrás e que nutria o sonho de leiloá-lo um dia e, com o dinheiro, construir um imenso centro de esportes para crianças carentes (pena que ficou apenas no sonho). Dono de um coração gigante, mesmo com as dificuldades financeiras que o perseguiu durante os últimos anos de vida, sempre ajudava as pessoas em situação pior.


O cinéfilo Cidinho, fã dos filmes de faroeste, também foi funcionário da AABB Recife durante muitos anos. Foi lá que o conheci (e acabei descobrindo que ele fora amigo de infância do meu pai, uma grande e honrosa coincidência). Das equipes de Futebol Society da AABB, Cidinho foi treinador. Também coordenou as peladas do clube por mais de uma década. E sempre foi um cara muito querido por todos – tanto que existe há alguns anos uma competição de confraternização dos peladeiros do clube em sua homenagem, a Copa Cidinho, que sempre o deixava emocionado durante a premiação (e que agora, após o seu falecimento, tenho certeza, ganhará um sentido ainda mais significativo).


Conversar com Cidinho era uma aula de história do nosso futebol. Seu falecimento é um retrato da ordem natural da vida, mas também, infelizmente, indica que o mundo da bola costuma, vez por outra, esquecer aqueles que não merecem ser esquecidos.


Figuras humanas que transcenderam a atividade profissional. Enfim, seres ímpares que vez por outra chegam a este planeta para deixar lições de vida, humildade e grandeza.


Vá em paz, eterno amigo Cidinho. O mundo da bola segue – mas entristecido...


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* Sidney Nicéas é escritor.

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