Qual o impacto da fama repentina na saúde mental?

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Augusto Tenório

Publicado em 27/05/2021 às 15:06
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Após Juliette Freire, querida de Norte a Sul do Brasil, abrir o jogo sobre sua saúde mental, acenderam-se questionamentos nas redes sobre os cuidados demandados pela fama repentina. A paraibana conta ter acompanhamento psicológico duas vezes por semana e, inclusive, procurou um padre para falar sobre endeusamento.

Há quem enxergue a fama como uma luz no fim do túnel, um estado no qual problemas desaparecem. Mas, como percebe-se pela fala de Juliette, não é bem assim. Isso é o que nos conta Amaury Cantilino, doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atual Presidente da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria.

"A fama impõe visibilidade ampla de suas ações com consequente vulnerabilidade ao julgamento dos outros. Na ânsia de ser aceito, é frequente que o indivíduo acabe assumindo um papel público que esteja em consonância com o que se espera dele. É como se, dentre as suas características, o sujeito passasse a tentar revelar apenas aquelas que são validadas pelo ideal depositado nele. Ocorre que após algum tempo ele pode acabar confrontando a sua identidade pública com o seu eu privado, entrando numa confusão de papeis, de sentimentos e de autocobranças. Eventualmente não conseguem mais distinguir o que é necessidade do outro e o que é necessidade própria", diz o psicoterapeuta.

Como ele nos conta, cada vez mais pessoas percebem o valor da saúde mental, principalmente os mais jovens, público mais aberto a procurar tratamento com psiquiatras e psicólogos e discutir o assunto com familiares e amigos. Mas, além deles, a sociedade também demonstra mais respeito com as formas de tratamento, sejam elas farmacológicas ou psicoterápicas. A superação dos preconceitos em relação aos transtornos psiquiátricos e aos seus tratamentos é importante para cortar o sofrimento adicional a quem já vive atormentado com a própria dor. Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.

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Nesse sentido, é importante famosos como Juliette Freire falarem, também, sobre a necessidade desse cuidado. "Eles prestam um serviço fabuloso para a sociedade. Como os famosos exercem influência sobre o comportamento das pessoas, acabam por desmistificar os tabus relacionados ao tratamento na nossa área. Tendem a 'normalizar' o processo de busca por um profissional".

E as redes sociais?

Usuários das redes sociais precisam estar atentos não somente às fotos e aos vídeos exibidos na tela do smartphone, mas também à sua própria interpretação do mundo existente para além do recorte do Instagram, por exemplo.

"As redes sociais podem criar um padrão de referência de vida bem acima das possibilidades do indivíduo. Mesmo advertidos de que o que se posta no Instagram é um instantâneo do melhor momento do melhor dia daquela pessoa que estamos seguindo, tomamos aquela cena como modelo. Na inviabilidade de reproduzirmos aquele ideal nas nossas vidas cotidianas, passamos a achar, por meio da comparação, que a nossa existência está ordinária, rasteira", alerta o psicoterapeuta.

Além disso, claro, existe o risco sempre iminente de cancelamento: "Um segundo aspecto diz respeito à disposição dos internautas às criticas severas. Qualquer discordância pode ser motivo de linchamento público, sem nenhuma preocupação com a dignidade, a história ou os sentimentos do indivíduo. Muitas pessoas sofrem verdadeiras violências na internet. As reações podem ser as mais diversas, desde raiva, retraimento, até adoecimento mental".

Nesse sentido, é válida a procura por um profissional não somente quando enfrenta-se algum problema claro: "O sofrimento e o medo podem ser mobilizadores na busca de ajuda. No entanto, algumas pessoas chegam apenas demonstrando interesse no autoconhecimento e no desenvolvimento de suas potencialidades. As diversas abordagens terapêuticas hoje disponíveis procuram dar conta das diferentes demandas e necessidades das pessoas que nos procuram. Como as pessoas estão mais bem informadas, muitas já chegam com algum entendimento sobre os métodos", alerta Amaury.

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