"Fiquei com rejeição sexual em relação à figura dos homens", diz Caetano Veloso sobre os efeitos da prisão

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 06/12/2020 às 12:22
Caetano Veloso - Foto: reprodução
Caetano Veloso - Foto: reprodução

Caetano Veloso participou de uma mesa na Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), neste sábado (5), junto com o filósofo trans Paul B. Preciado. Falaram sobre binarismo sexual e de gênero - quer dizer sobre o modelo binário de orientação sexual que delimita à pessoa ser heterossexual ou homossexual, senão bissexual; e o modelo binário de identidade de gênero, que se restringe ao masculino ou feminino.

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Ao falar sobre a prisão, em 1968 e 1969, quando ficou 54 dias detido pela ditadura militar sob a acusação de ser "subversivo e desvirilizante" (relato, aliás, de que trata o documentário e o livro "Narciso em Férias"), Caetano Veloso contou que a prisão - lugar essencialmente masculino, e violento - tolheu a atração sexual e sentimental por homens que até então sentia.

"O espaço muito masculino da prisão militar causou outro apagão no Narciso aqui, que foi da atração sexual e sentimental por homens. Fiquei com uma rejeição sexual em relação à figura dos homens, que eu não tinha."

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Sob a mira da vigilância sexual alheia, que questiona se toda pessoa é hétero ou homossexual, Caetano Veloso relembrou de paixões que teve por mulheres e homens durante a juventude, mas disse ter recusado o rótulo de bissexual. Ele relatou uma das experiências de paixão por um amigo:

"Aos dezenove, me apaixonei por um amigo. Apaixonar significa você sentir aquela imensidão dentro da sua alma na presença da pessoa, no pensamento, nos sonhos. Não teve história, porque ele não quis. Podia ter me casado com ele, e tenho certeza de que meus pais assimilariam muito bem. Mas muitas pessoas que eu conhecia usavam essa expressão 'bissexual' para efeitos muito inautênticos. Então eu dizia: 'também não quero esse [termo]'."

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