Ex-'Bake Off Brasil' afirma que foi dopado, estuprado e roubado após encontro

Anneliese Pires
Anneliese Pires
Publicado em 25/10/2020 às 11:02
murilo_marques_bake_off_brasil FOTO:

O ex- participante do Bake Off Brasil Murilo Marques relatou em seu Twitter, neste sábado (24), que foi vítima de violência sexual após um encontro. Segundo ele, que é engenheiro químico, o crime aconteceu no último dia 21 em seu apartamento, no centro de São Paulo.

Murilo recebeu um homem em casa que, posteriormente, afirmou ser garoto de programa e pediu o pagamento. Com o susto e a reação dele, o criminoso teria o dopado e o forçado a consumir drogas. Em seguida, teve os cartões de quatro bancos roubados, com prejuízos que ultrapassam R$ 40 mil.

Murilo disse que as economias seriam destinadas à obra que faz no apartamento que comprou com o namorado, Renan Bajester, com quem tem um relacionamento aberto. Ele pediu nas redes sociais ajuda aos bancos para recuperar o dinheiro e procura um advogado. O engenheiro ainda conta que tem apoio da empresa em que trabalha e de seu namorado.

Confira o relato:

"Eu entrei para a estatística! Essa semana eu caí num golpe: fui dopado, violado e roubado na minha casa. No dia 21/10/2020 eu recebi um homem de aplicativo de relacionamento na minha casa, ele chegou às 12h04, me mandou fotos antes e chamei.  Eu [fiquei] sem entender nada, e começando a me sentir meio estranho, disse que não tinha dinheiro e nem tinha contratado ninguém, se soubesse não tinha nem chamado. Nisso ele sacou uma máquina e falou que aceitava cartão", começa.

"Eu moro sozinho no centro da cidade de São Paulo. Ele chegou, me cumprimentou e o ato começou a rolar. Rapidinho ele parou, se vestiu e anunciou que era Garoto de Programa, que precisava receber o pagamento e que eu deveria dar o dinheiro. Ele começou a se exaltar dizendo que queria receber o dinheiro dele, esse diálogo rolou e eu cada vez com mais dificuldade de organizar minhas ideias, já imaginando que estava drogado. Cada vez mais agressivo e gritando comigo", relata.

"Ele me forçou a passar a senha na máquina de todos os meus cartões, eu tentei recusar e nessa hora ele desferiu um soco na minha cara. Nem senti na hora, mas depois vi que ficou roxo", conta ele, que acrescentou ter cartões de quatro bancos.

"Em uma das tentativas eu errei a senha e disse que precisava olhar no celular, ele gritava que não era pra mexer no celular e pegou o aparelho, mais uma vez fui forçado a passar uma senha, dessa vez a do celular. Apesar de tonto e desnorteado eu estava de pé ainda. A essa altura eu já sabia que havia sido dopado e já havia apanhado, estava reunindo toda minha energia para tentar me proteger", relembra.

"Pedi pra gente descer a um caixa eletrônico para sacar dinheiro e ele ir embora, fui até minha cômoda para pegar uma camiseta e ele voltou a ser bem agressivo, me agarrou pelo braço, jogou um pó branco em cima dessa mesma cômoda, disse que era cocaína e me mandou cheirar. Eu só conseguia responder que não queria, mas ele insistia e ameaçou quebrar meu braço se eu não aceitasse. Eu resisti e, talvez pelo meu estado, ele não seria capaz de me forçar a cheirar. Fui jogado na cama de bruços, nesse momento o estupro aconteceu: Eu só lembro dele me estuprando com a mão enquanto eu me debatia. Não sei quanto tempo durou, não sei o quanto eu resisti, mas fui estuprado", lamenta.

"Eu acho que ele me estuprou para me dopar mais, porque depois disso eu perdi quase toda minha consciência. Entrei numa paranoia onde não sabia o que era realidade o que era pesadelo. Eu não conseguia andar, entrei em desespero pensando nos cartões, nas senhas", conta.

"Não sei quanto tempo durou essa paranoia, consegui ir até o banheiro e vomitei muito, eu estava preocupado dele estar lá ainda, mas não tinha capacidade mental de saber isso, não sei descrever o medo que eu estava sentindo. Eu parecia estar descolado da realidade e sem domínio do meu corpo, dos meus sentidos. Reuni força não sei de onde e fui cambaleando até a porta, que era a única forma pra eu saber se ele ainda estava lá, já que eu simplesmente não conseguia olhar pro meu apartamento e fazer esse julgamento. Eu estava muito dopado mesmo", afirma.

"A porta estava aberta, destrancada, ele tinha ido. Meu computador estava logado no WhatsApp, isso que me salvou porque consegui mandar algumas mensagens bem desconexas para meu vizinho, mandei um áudio pedindo ajuda também e consegui mandar mensagem para meu namorado. O agressor levou meu celular e eu consegui fazer isso antes do aparelho perder o sinal, ele devia estar no corredor ainda, e meu celular estava no Wi-Fi", acredita.

"Os meninos correram para me acolher e me ajudaram a bloquear os cartões, mas eu ainda estava incapaz de entender o tamanho do estrago. Notei compras no débito de três cartões. Eu chorava muito, me senti sujo, culpado, me senti um lixo mas sabia que a saga não tinha terminado, precisava ir à delegacia fazer BO. A delegacia é um ambiente nada acolhedor. Eles me ouviram, mas minha privacidade foi violada, tive que contar a história diante de vítimas de outros crimes. Você está fragilizado, traumatizado, sujo e durante seu depoimento ouve piadinhas paralelas, é deprimente", lamenta.

"Fui encaminhado para o IML para fazer exame sexológico, toxicológico e busca de DNA. Já eram 20h30 quando cheguei lá. Esperamos e a médica me chamou, me sentou na cadeira dela e disse que seu jantar tinha acabado de chegar, que era pra eu voltar para recepção e esperar mais um pouco... depois desse 'acolhimento' tão cheio de empatia voltei pra recepção morto por dentro. Fiz os exames, tirei a roupa, ela examinou meus órgãos sexuais, mais um pouco de humilhação, mas ok né, não é como se eu tivesse uma opção. Fui liberado e fui para casa do meu namorado", detalha.

"No dia seguinte, peguei a papelada e fui para o primeiro banco. Dentre muito constrangimento e pouca empatia, contabilizei o prejuízo: R$ 8 mil passados no débito, abri procedimento de contestação, 10 dias úteis para avaliação. Fui na loja da operadora retomar meu número e depois fui para o segundo banco. O procedimento do banco digital é fazer uma carta de próprio punho contestando as transações. Anexei o BO, o estrago foi maior aqui: R$ 15 mil em TEDs e um empréstimo pessoal de R$ 33 mil que ele fez, novamente 10 dias úteis para avaliar", conta Murilo.

"No terceiro banco foi tudo por telefone. Eeportei e me instruíram sobre como contestar. Foram várias compras no débito e também uma TED, mais R$ 15 mil de prejuízo. No outro banco, só consegui ir na manhã do dia 23, mesmo procedimento de escrever a próprio punho. Levantei o extrato e aqui me levaram R$ 1.300", contabiliza o engenheiro.

"Fui até a portaria do meu prédio no dia 22 para solicitar as imagens de segurança e registro do visitante na portaria. Consegui descobrir que ele chegou às 12h04 no meu apartamento, às 13h54 foi quando consegui mandar mensagem para o meu amigo. O condomínio só libera as imagens de segurança mediante solicitação da polícia. Só pude ver na tela o horário de chegada", diz.

"Este ano eu e meu namorado compramos um apartamento. Todo esse dinheiro roubado era pra pagar nossa casa. Economias de uma vida toda pro nosso lar foram roubadas por alguém que não só levou meu dinheiro, mas também me violentou, levando minha dignidade. Os investigadores e a própria técnica de um dos bancos a me disseram que é praticamente impossível desfazer as transações", lamenta.

"Aparentemente para os bancos pouco importa se você foi dopado e estuprado, pouco importa as transações suspeitas em sequência e os valores altos, ou se sua integridade física foi ameaçada. Se você entregar sua senha, problema seu. Não reaja em assaltos, mas se for pra pegar sua senha reaja sim, você está sozinho! Eu quero muito estar errado sobre isso", aconselha.

"No momento, estou negativo em todas as minhas contas, sem dinheiro nenhum para honrar os compromissos com os prestadores de serviço que estão reformando nossa casa e absolutamente traumatizado. Estou recebendo apoio psicológico da empresa que trabalho", conta.

"Meu namorado é a melhor pessoa do mundo e está do meu lado me guiando, ajudando e apoiando. Tenho também minha família pra me dar apoio, tenho todas as ferramentas para superar isso.  Mas no momento eu estou apavorado, o mesmo banco que me disse que não era para eu ter esperanças do estorno está prontíssimo para tirar minha casa se eu não pagar prestação do financiamento. Tenho dívidas com lojas de construção, com marmoraria, com marceneiro, nós estávamos montando nosso lar!", diz.

"Eu decidi contar essa história porque eu preciso ser capaz de compartilhar isso sem medo, sem vergonha, apesar de me sentir humilhado e culpado eu sei que sou uma vítima, eu tenho que superar. Me ajudem a espalhar esse relato, façam chegar aos bancos. Eu não estou pedindo para ganhar dinheiro, eu só preciso que eles devolvam o que é meu e que foi tirado de mim durante um crime", apela.

"Não consigo mais acompanhar as notificações, estou me sentindo mto acolhido nos comentários mas estou silenciando. Tem, sim, gente falando bosta, mas a maioria está me confortando. Sigo buscando indicação de advogado especialista em crimes assim, agradeço quem tiver", pede.

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