Defesa das supostas vítimas de Marcius Melhem declara: "atuou de forma violenta"

Anneliese Pires
Anneliese Pires
Publicado em 25/10/2020 às 8:47
Reprodução/TV Globo
Marcius Melhem concedeu entrevista ao 'Domingo Espetacular' e se disse inocente no caso envolvendo Dani Calabresa - FOTO: Reprodução/TV Globo

Marcius Melhem está afastado da direção do núcleo de humor da Globo desde agosto sob acusação de assédios a atrizes. O caso tomou repercussão quando a atriz Dani Calabresa, que procurou o compliance da emissora para fazer a denúncia, em dezembro do ano passado. Humorista talentoso com assinatura estampada em sucessos da casa como “Zorra”, “Escolinha do Professor Raimundo” e “Tá no Ar: A TV na TV”, ele foi demitido depois de quase duas décadas de trabalho no maior canal do país.

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Outras mulheres buscaram o mesmo canal para relatar fatos semelhantes. Descreveram tentativas de as agarrar à força, envio de mensagens inconvenientes, ambiente tóxico de trabalho. No comunicado emitido pela Globo sobre o afastamento de Melhem, a emissora não citou as denúncias de assédio. E afirmou que ali então se encerrava uma “parceria de sucessos”.

Insatisfeitas, algumas das mulheres se organizaram para reclamar sobre o desfecho com a direção da emissora. O apoio a elas cresceu, e um grupo de mais de 30 funcionários ou parceiros da empresa participou de reuniões internas na empresa sobre esse assunto.O Jornal Folha de São Paulo conversou durante dois meses com quatro atrizes que se dizem vítimas de assédio e que formalizaram as acusações. Ouviu também o relato de cinco outras pessoas que afirmam ter testemunhado os fatos narrados pelas vítimas.

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Os nomes das supostas vítimas não foram revelados a pedido delas, que contrataram a advogada criminalista Mayra Cotta para assessorar no caso. Em entrevista à jornalista Mônica Bérgamo, ela afirmou que são seis vítimas de assédio sexual e seis testemunhas. Há vítimas de assédio moral. E há um grupo de apoio a elas, de mais de 30 pessoas. Segundo ela, Melhen se valia de sua posição para tentar usar o poder que tinha de contratar ou demitir para as constranger a se envolver com ele. " Houve um comportamento recorrente, de trancar mulheres em espaços e as tentar agarrar, contra a vontade delas. De insistir e ficar mandando mensagem inclusive de teor sexual para mulheres que ele decidia se iam ser escaladas ou não para trabalhar, se ia ter cena ou não para elas [nos programas de humor]. De prejudicar as carreiras de mulheres que o rejeitaram. De ficar obcecado, perseguindo mesmo. Foi um constrangimento sistemático e insistente, muito recorrente", contou

"Ele isolava as atrizes, tinha o poder de não as deixar ir para outros lugares [na emissora], fazer outras coisas. E criava um ambiente de trabalho tóxico. As pessoas se sentiam presas, sem conseguir se livrar daquilo. Ele usava situações de trabalho para as tentar agarrar à força, inclusive usando violência, completou.

 Sobre o fato de as vítimas se recusarem a dar entrevistas, a advogada informou que elas têm medo. "As pessoas têm medo, muito medo. Um chefe assediador tem essa capacidade de criar um temor permanente nas pessoas. Mesmo ele não estando mais lá, elas têm medo de ele se vingar, de continuar sabotando as carreira delas. Não tem um ambiente seguro para todo mundo se expor, todo mundo falar. É difícil.", explicou.

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