Após morte do neto em operação policial, Neguinho da Beija-Flor pretende deixar o país

Anneliese Pires
Anneliese Pires
Publicado em 21/10/2020 às 16:58
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Após a morte do neto Gabriel Ribeiro Marcondes, de 20 anos, baleado durante uma operação policial, o sambista Neguinho da Beija-Flor considera a possibilidade de deixar o Brasil. O jovem, sepultado nesta segunda-feira, foi morto baleado durante um tiroteio no Morro da Bacia, no Ambaí, em Miguel Couto, no município de Nova Iguaçu. A decisão vem também da busca por oferecer outras condições de vida para a filha Luisa Flor Morena, de 12 anos. "No Brasil, basta nascer preto para ser suspeito. Por isso, estou metendo o pé do país", disse o sambista.

O artista, porém, não deu data de quando pretende deixar o Brasil. O plano não é novo. Foi interrompido pela chegada da pandemia mundial de Covid-19. "(Penso) Há muito tempo. Só não aconteceu com a pandemia. Sem show, tive que gastar tudo, só saiu. O suporte que eu tinha, com essa finalidade, foi tudo. Não vou criar minha filha aqui depois do que aconteceu com o Gabriel. Não vou mesmo" afirmou o cantor ao jornal O Globo. Ir para o exterior era plano também para Gabriel, caso tivesse investido profissionalmente no futebol. O jovem era alegre e bom de bola, como descrito por amigos e familiares.

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Neguinho falou da abordagem a moradores de comunidades e que, se um dia a pena de morte for implantada no Brasil, "não sobra um negro". Segundo o cantor, a família está "arrasada" desde a morte de Gabriel, no último domingo, dia 18. O caso intensificou a vontade de Neguinho deixar o país. "Ter filho negro no país, se pensar legalzinho, é uma responsabilidade muito grande. A gente fica preocupado", lamentou.

O sambista ainda disse que o filho Paulo Cesar Marcondes, pai de Gabriel, vai buscar justiça. "Meu filho vai processar o Estado. A justificativa é a seguinte: "seu neto estava no lugar errado, na hora errada". Queria que ele estivesse onde? Num shopping na Barra? Aqui em Copacabana? Se todo lugar no Rio é perigoso. É muito fácil fazer justiça em cima do negro sem defesa. Uma vez perguntei a um amigo, um grande jurista, sobre o que aconteceria se a pena de morte fosse aceita no país. Ele disse: "só vão viver os brancos, vão matar todos os negros". Negros já nascem suspeitos. Em negro, atiram primeiro para depois saber quem é", desabafou.

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