"Hoje tudo é racismo, preconceito e assédio", diz Glória Maria, que completa: "Não dá pra generalizar; leia críticas

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 28/09/2020 às 15:59
Gloria Maria - Foto: reprodução
Gloria Maria - Foto: reprodução

Glória Maria concedeu entrevista a Joyce Pascowitch, do site Glamurama, quando falou sobre o isolamento - antes por causa do tumor no cérebro, de que está curada, e depois devido à pandemia -, além de trabalho, racismo e assédio. Sobre os dois últimos assuntos, a fala da jornalista - que está no título - pode chocar por vir de uma mulher negra, mas há que se ponderar.

Na verdade, há que se colocar em perspectiva que Glória Maria, na TV brasileira, chegou a um lugar privilegiado, tendo sido, por décadas seguidas, a única jornalista negra com destaque no telejornalismo nacional; experiência, que, sim, pode tê-la blindado de certas manifestações racistas e de assédio. Portanto, sua fala pode partir da experiência própria, e não coletiva. Ainda que, para ocupar esse tal lugar, tenha "lhe custado" mais caro do que "o que se cobra" a jornalistas brancas. No início da carreira como repórter, por exemplo, ela fez terapia para encarar o vídeo por medo da reação do público por ser preta.

"Eu acho tudo isso um saco. Hoje tudo é racismo, preconceito e assédio. A equipe com que trabalho me chama de ‘neguinha’, de uma forma amorosa e carinhosa. Estou há mais de 40 anos na televisão, já fui paquerada, mas nunca me senti assediada moralmente. O assédio é algo que te fere, é grosseiro, desmoraliza. Existe uma cultura hoje que nada pode. Tem que ter uma diferenciação, não dá para generalizar tudo. O politicamente correto é um porre. Acredito que o politicamente correto é o caráter, a honestidade. Esse mundo que a gente está vem muito da amargura das pessoas, não aceito", disse Glória Maria a Joyce Pascowitch sobre o assunto.

Talvez calhasse perguntar a Glória Maria de onde vem a amargura das pessoas.

Glória Maria, inclusive, já teve de responder comentário preconceituoso, em rede social, sobre o cabelo afro das suas filhas.

A fala da jornalista foi motivo de postagens críticas no Twitter; leia algumas:

Novo normal?

Sobre a pandemia, Glória Maria contou que discorda do termo "novo normal". Ela fala com a propriedade de quem está há dez meses em isolamento - primeiro por causa do tratamento de um câncer e depois pelo coronavírus:

"Não vi um mudo novo surgir nesse período. Viajei 40 anos sem parar e, de repente, estava em casa quietinha, observando. Vi coisas inacreditáveis, desamor, um mar de lama… Ou é novo, ou é normal, vamos ter que partir de novos olhares. Nada mudou, mas algumas pessoas se viram melhor, começaram a se observar. Será que é preciso uma pandemia para olhar para o outro? Isso é uma coisa da sua alma, não acredito nessa ajuda só porque é hora de ajudar. Ou você olha sempre para o outro, ou você não olha nunca."

Glória Maria já voltou ao trabalho, na apresentação do especial de 70 anos da TV brasileira do "Globo Repórter".

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