Karen Junqueira é mais uma famosa a relatar estupro

Anneliese Pires
Anneliese Pires
Publicado em 21/07/2020 às 15:14
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Karen Junqueira é mais uma famosa a relatar que já sofreu um estupro. Após depoimentos de Julia Konrad e Juliana Lohman, publicados recentemente à revista Claudia, ela relatou a agressão sexual que sofreu quando ainda era criança à mesma publicação. Hoje, com 37 anos, ela afirma ter sido estuprada pelo pai de uma amiga quando tinha apenas 12 anos de idade.

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“Aos 37 anos, decidi contar minha história. Senti necessidade de acalentar aquela menina que aos 12 anos sofreu abuso e ficou calada", escreveu a Karen. Nas redes sociais, Karen falou sobre o relato e fez um apelo por mulheres que são vítimas de abusos sexuais e violência. "Procurando transcender e quebrar o silêncio, tomei a decisão de dividir com vocês meu relato, pois tenho visto a violência contra mulher aumentar e muito. São tempos difíceis e a violência e o abuso contra mulheres, meninas e crianças não podem mais ficar impunes e silenciadas. Meu objetivo é encorajar, motivar a não se calarem. Denunciem! Quantas mulheres já conheceram com uma história parecida? Precisamos repensar as estruturas em que fomos criados, os preconceitos e as culturas destrutivas", afirmou.

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No texto, Karen lembra conta que morava em uma cidade pequena de Minas Gerais chamada Caxambu e, ainda naquela época, notava que o comportamento de certos homens próximos, sempre conhecidos como "tios" era inapropriado. Ela narrou que o estupro aconteceu quando passou a noite na casa de uma amiga.

"Era aniversário da minha melhor amiga e acabei passando a noite na casa dela. Eu me lembro de cada detalhe. Estávamos juntas, lado a lado, dormindo na mesma cama. Era tarde da noite, usávamos o mesmo pijama branco estampado com palhacinhos vermelhos. Foi quando meu sono foi interrompido pelo pai dela", conta.

"Naquele instante meu mundo parou. Eu congelei e sequer consegui abrir os olhos ou a boca para gritar. Lentamente, ele abaixou meu pijama e com seus dedos e língua começou a me tocar. Foram poucos minutos que se transformaram em uma eternidade massacrante", lembra.

Enquanto ele me abusava, sua filha dormia grudada em mim e eu escutava sua esposa tomar banho. Quando o chuveiro parou, ele rapidamente me vestiu o pijama e deixou o quarto. Eu me contorcia chorando e passei o resto da noite em claro, ainda estarrecida".Karen também afirmou que só mencionou o abuso para a mãe após o falecimento de seu pai.

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A atriz revelou que, agora, durante a pandemia, voltou à cidade natal e encontrou o abusador novamente. "Tive que cruzar com a pessoa que me abusou, vivendo livremente como se nunca tivesse feito algo tão monstruoso", disse, lembrando que seu relato é uma forma de tentar motivar outras pessoas a falarem sobre suas histórias de abuso e também um alerta aos pais sobre as pessoas que convivem com seus filhos.

Leia o relato na íntegra:

“Aos 37 anos, decidi contar minha história. Senti necessidade de acalentar aquela menina que aos 12 anos sofreu abuso e ficou calada. O objetivo deste relato é encorajar aos que foram abusados a não a não se calarem. Não podemos mais normalizar a cultura do estupro e do silêncio. Eu conheço os sentimentos que os permeiam: culpa, medo e muita vergonha.

Durante muito tempo a terapia me ajudou a enxergar a força que tenho. Decidi transformar feridas em combustível para seguir em frente. É uma longa estrada de erros e acertos comigo mesma. O abuso que que sofri me gerou muitas questões emocionais. Desconfiança excessiva e insegurança foram algumas delas. Durante muito tempo tive que procurar entender e reestabelecer meu valor e lugar no mundo. Poder falar abertamente sobre isso está sendo uma libertação pra mim. Não tenho mais vergonha de me expor.

Sou natural de Caxambu (MG). Na minha infância, já percebia coisas que não pareciam muito certas. A cidade é pequena e tinha sempre o “tio” da banca que me oferecia uma bala e, quando ia pegar, apalpava meu seio. Se é que posso chamar de seio essa parte do corpo de uma criança em desenvolvimento. São situações que, ainda criança, não se sabe discernir. Ainda mais quando o abusador é amigável. Não enxergamos a maldade e, por muitas vezes, esse assunto acaba não chegando ao conhecimento dos nossos pais. Mas o “tio” da banca foi só o início.

Era aniversário da minha melhor amiga e acabei passando a noite na casa dela. Eu me lembro de cada detalhe. Estávamos juntas, lado a lado, dormindo na mesma cama. Era tarde da noite, usávamos o mesmo pijama branco estampado com palhacinhos vermelhos. Foi quando meu sono foi interrompido pelo pai dela. Naquele instante meu mundo parou. Eu congelei e sequer consegui abrir os olhos ou a boca para gritar. Lentamente, ele abaixou meu pijama e com seus dedos e língua começou a me tocar. Foram poucos minutos que se transformaram em uma eternidade massacrante.

Enquanto ele me abusava, sua filha dormia grudada em mim e eu escutava sua esposa tomar banho. Quando o chuveiro parou, ele rapidamente me vestiu o pijama e deixou o quarto. Eu me contorcia chorando e estarrecida.

No dia seguinte, uma repulsa enorme tomou conta de mim. Fui embora e me afastei da minha melhor amiga na época. Senti muita vergonha de contar o ocorrido e ser culpada de alguma forma, afinal, aquela família era muito próxima dos meus pais. Minha cabeça não entendia.

Fiquei calada durante 10 anos até que, no dia do falecimento do meu pai, tomei coragem e finalmente contei para minha mãe. Alertei que aquela pessoa não era amigo da família, e sim um pedófilo que que me abusou. Pedi para que não tocasse mais naquele assunto comigo, pois me machucava. Um pacto silencioso começou entre nós duas. Ela não mencionou mais, me respeitou. Mesmo aquilo ficando em minha alma, sem expor, não cicatrizou sozinho.

O tempo passou, eu já não morava mais em Caxambu desde meus 18 anos. Meu costume era fazer apenas breves visitas em esporádicos finais de semana durante o ano. Quando a pandemia chegou, resolvi passar um mês com a família. Foi aí que veio tudo à tona novamente. Tive que cruzar com a pessoa que me abusou, vivendo livremente como se nunca tivesse feito algo tão monstruoso. Tomei a decisão de não mais me calar. Ter que relembrar questionamentos da minha mãe (“Será que isso não foi um sonho minha filha?”) me fez refletir profundamente a seriedade disso. É claro que ela não queria acreditar como alguém tão “legal e inofensivo” poderia fazer tal coisa. Não quero julgá-la. Ela é apenas mais uma vítima do machismo estrutural que impera na sociedade. A submissão sempre esteve encruada dentro da minha casa. Reservo à minha mãe sororidade."  


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