Modelo expõe racismo na moda e cita a estilista Glória Coelho: "sempre foi extremamente preconceituosa"

Anneliese Pires
Anneliese Pires
Publicado em 09/06/2020 às 10:08
Thayná Santos Foto: Instagram/reprodução
Thayná Santos Foto: Instagram/reprodução

Uma das principais estilistas do Brasil, Gloria Coelho tem sido acusada,por modelos, de racismo. Ela é uma das profissisonais da moda que se colocaram contra o mecanismo de cotas para modelos negras em desfiles da São Paulo Fashion Week. Funcionários de agências sabiam,s egundo elas, que muitas meninas choravam após castings para a Gloria e também Reinaldo Lourenço, seu ex-marido, pois eram desmerecidas na frente de todos.

A modelo Thayná Santos foi a primeira a falar abertamente sobre o assunto e usou, recentemente, suas redes sociais para denunciar posturas consideradas racistas de marcas, empresários e estilistas brasileiros que, em suas redes, apoiaram a ação #BlackOutTuesday e o movimento #BlackLivesMatter / #VidasNegrasImportam. Além de relatar diversos episódios que viveu ou testemunhou, a top abriu espaço para compartilhar histórias de outros modelos.

"Estou amando essa nossa união, estou amando o apoio das modelos com as próprias. A gente deveria ter feito isso há muito tempo (...), mas o importante é correr atrás do tempo perdido né? Continuem mandando seus relatos e suas histórias", disse a top em um vídeo nos Stories que está salvo nos destaques de seu perfil.  Em um dos vídeos, ela citou a estilista. "Glória Coelho sempre foi extremamente preconceituosa e não aceitava nem morenas, tinha que ser BRANCAS. Eu morava na casa de modelo em época de FW, eles nem mandavam as mais escuram para o casting dela porque todos já sabiam que ela não queria no casting", afirmou. Os comentários da modelo reverberaram entre outras profissionais de pele negra.

Glória respondeu. "Parabéns pelo trabalho que você está fazendo, de amplificar vozes tão importantes. Sinto muitíssimo que você ou qualquer outra menina tenha se sentido desprivilegiada ou sem acesso às mesmas oportunidades dentro da minha marca e do sistema de moda. Reconheço que por muitos séculos a moda privilegiou padrões de beleza eurocentristas, e que eu ou pessoas da minha equipe no passado possamos ter compactuado com isso, ou sido interpretados dessa forma. Estou aqui me comprometendo a ser melhor, a garantir que minha equipe seja melhor. Está nas nossas mãos desmantelar o racismo sistêmico..."

Gloria continuou: "...Eu tenho genuína e profunda admiração pela beleza, criatividade e ancestralidade preta e indígena. Recentemente a capa do meu catálogo de Verão 2019/2020 foi estampada por uma modelo preta, a Savannah... Estou comprometida em ouvir, me educar, educar aos que me rodeiam, e incluir mais criatividade e diversidade em minha marca."

Reinaldo Lourenço, ex-marido de Gloria e também estilista, foi também apontado pelas profissionais como perpetuador de práticas discriminatórias em diversas situações, mas ainda não se pronunciou sobre a situação embora sua própria página no Instagram esteja recebendo comentários que cobram mudanças e expõem condutas inaceitáveis. Seu post de #BlackOutTuesday, que reunia a maior parte dos comentários, não pode ser mais encontrado no feed. 

O Criador da SPFW, Paulo Borges também se pronunciou pelo Instagram de Thayná. O empresário ressaltou que tem acompanhado todas as movimentações nas redes e que tem lutado nestes 25 anos pela causa dos pretos, indígenas e pela máxima diversidade no país. Ele, inclusive, realizou uma live neste sábado (6) só com modelos negras. Após a transmissão, Thayná publicou Stories chorando e agradecendo o apoio de todos. "Estou muito grata, emocionada com tudo isso que está acontecendo".

Várias revistas e sites de moda do país também repercutiram o caso:

Veja o comunicado de Gloria Coelho na íntegra:

“Sinto muitíssimo que qualquer menina tenha se sentido desprivilegiada ou sem acesso às mesmas oportunidades dentro da minha marca e do sistema de moda. Reconheço que por séculos a moda privilegiou padrões de beleza eurocentristas, e que eu ou pessoas da minha equipe no passado possamos ter compactuados com isso, ou sido interpretados dessa forma. Estou aqui me comprometendo a ser melhor, a garantir que minha equipe seja melhor. Está nas nossas mãos desmantelar o racismo sistêmico.

Eu tenho genuína e profunda admiração pela beleza, criatividade e ancestralidade afrodescendentes e indígena. Estou comprometida em ouvir, me educar, educar aos que me rodeiam, e incluir mais criatividade e diversidade em minha marca. Estou ouvindo todas vocês, e quero que tenhamos este canal aberto para fortalecermos essa luta e traçarmos um novo caminho, mais justo e inspirador, para a moda brasileira.

Me comprometo a incluir mais modelos afrodescendente, indígenas nos meus desfiles. Me comprometo a partir de agora.  Eu e minha equipe estamos unindo forças para ampliar nosso casting e garantir que todas as meninas tenham experiências positivas em castings e fittings.  Me comprometo a incluir meninas pretas"

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