Em Lisboa, a ex-repórter da Globo Wanessa Andrade vive em isolamento social há mais de uma semana: "Não é fácil, mas é necessário"

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 22/03/2020 às 11:25
Wanessa Andrade às margens do rio Tejo, antes da pandemia - Foto: acervo pessoal
Wanessa Andrade às margens do rio Tejo, antes da pandemia - Foto: acervo pessoal

As ruas de Lisboa esvaziaram-se – sobretudo, de quarta (18) à noite para cá, após o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, decretar estado de emergência, que inclui "dever de recolhimento domiciliário", para conter a proliferação do novo coronavírus. "Uma medida excepcional para um tempo excepcional", disse ele, em pronunciamento no Palácio de Belém.

A leitura do decreto foi acompanhada por apenas uma câmera, com sinal enviado às redes de TV. Pois o político, de 71 anos, colocara-se dias antes em isolamento social, por uma decisão de bom senso, após ter tido contato com uma criança infectada pelo vírus – embora seu teste tenha dado negativo.

A quarentena voluntária na capital lusa também já havia sido aderida pela jornalista Wanessa Andrade, ex-repórter da Globo Nordeste e da GloboNews em Pernambuco. Vivendo na cidade desde setembro, ela experimenta o isolamento social desde o último dia 12. Naquela data, o governo português declarava estado de alerta, enquanto na Itália, país ali próximo, o número de mortos passara de mil.

"A situação da Itália acordou muito as pessoas", conta ela, ao observar que os portugueses não têm oferecido resistência ao recolhimento.

Como antídoto para a reclusão, Wanessa – que é aluna de mestrado em estudos de internet, na área de comunicação – mantém a rotina com as adaptações que o momento impõe. Sem aulas presenciais desde o estado de alerta, continua estudando online. Tem sido disciplinada com os horários de acordar, dormir e fazer as refeições; e realiza exercícios físicos em casa e no prédio, como subir e descer escadas, para não parar de se movimentar.

A falta de contato com familiares e amigos vêm sendo amenizadas: "Mantenho as conversas por meio dos aplicativos. É a maneira de manter os laços". A importância de se preservar os afetos é a deixa para lembrar um trecho do discurso de Rebelo de Sousa: "Ele destacou que o maior inimigo é o desânimo".

"[o isolamento] Não é fácil, mas é necessário. Tem dias em que eu, mesmo mantendo toda a rotina, perco a orientação de qual dia é, de tanto ficar em casa. É importante elevar o pensamento; quem tem fé, rezar; manter alguma rotina, fazer as suas atividades e focar que vai passar."

Desde o isolamento voluntário, Wanessa saiu às ruas de Lisboa poucas vezes, pelo tempo mínimo. Nesses últimos dias foi ao supermercado. Do lado de fora, os portugueses têm mantido a distância que os órgãos de saúde pedem, para evitar o contágio. Entram aos poucos, conforme o tamanho do estabelecimento. Nas prateleiras, há quase tudo; exceto itens que, nesses dias, viraram de primeira necessidade, como luvas. O transporte público, por ora, continua, com frota reduzida, para atender a trabalhadores de serviços essenciais ainda em atividade.

Em Portugal, o primeiro caso da Covid-19 – a doença infecciosa causada pelo novo coronavírus – foi anunciado no dia 2. O número atualizado de casos, no momento da publicação deste post, é de 1.600, tendo havido 14 mortes. Na última sexta-feira (20), o país com população estimada em 10 milhões de pessoas registrava pouco mais de mil casos da doença, tendo seis mortes; na quarta (18), dia do decreto, eram 642 infectados e dois óbitos.

LEIA TAMBÉM:

Ex-Miss PE Bárbara Souza relata quarentena em Milão desde o dia 8 e orienta: "Não entrem em pânico; protejam-se"

Últimas notícias