Literatura: ‘Sarah’ aborda tecnologia e vivências da mulher negra

Samantha Oliveira
Samantha Oliveira
Publicado em 09/10/2019 às 13:30
Livro 'Sarah', de Diego Garcez (Foto: Reprodução/Divulgação)
Livro 'Sarah', de Diego Garcez (Foto: Reprodução/Divulgação)

“Eu sou Sarah e neste momento estou sentada embaixo de uma árvore de tronco entrelaçado que deve ter o dobro da minha idade. Esse ano completo cinquenta anos e resolvi começar a riscar no papel um pouco do que vivi”. Este é um trecho da obra ‘Sarah’, de Diego Garcez, que aborda a história de uma mulher negra ficcional que reflete sobre o seu meio século de vida.

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Cronista, Diego Garcez escreveu para o NE10 e para o portal PorAqui nos últimos anos. Agora, ele lança seu primeiro livro intitulado 'Sarah'. A obra é voltada para ficção e é uma publicação independente que já se encontra em pré-venda na Amazon Kindle. O lançamento será no dia 15 de outubro, data do aniversário de Diego.

Inspiração

‘Sarah’ é voltada para o compartilhamento de emoções e nuances para que atinja o máximo de pessoas no texto. Segundo o autor, a inspiração veio das mulheres negras do Recife, que habitam os quatro cantos da cidade. “É preciso percebermos a força e importância que essas mulheres carregam”, reflete e faz um recorte não apenas de raça, mas também de classe, “a maioria das casas nas periferias da cidade são lideradas por uma mulher negra. Como a maioria da população da cidade está na periferia, podemos dizer que Recife é uma mulher negra”.

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No entanto, essas são características que Diego Garcez não possui. Sendo um homem branco, ele alega que, de início, o processo de elaboração da obra foi intuitivo. Após dias produzindo a estrutura principal do texto, o autor descreve que o processo de produção foi algo visceral e intenso. “No começo eu não sabia muito bem o que estava fazendo. Cheguei a perder peso durante esse período”, revela.

Uma dessas mulheres que compõem o Recife foi Sarah Marques, a líder comunitária de Caranguejo Tabaires, em Afogados. Ela foi peça chave para a construção do livro e entrou em contato com Diego por conta do interesse em compartilhar suas vivências e, coincidentemente, carregar o mesmo nome da protagonista.

Lugar de fala

Esse compartilhamento de emoções e vivências entre Diego Garcez e Sarah Marques foi um fator crucial para a construção da Sarah ficcional. O autor salienta a importância do lugar de fala e da luta feminista que a obra traz consigo. “Aqui precisamos tratar um lugar que é caro para a luta feminista negra no Brasil e necessita ser compreendido e respeitado, o lugar de fala”, destaca, “só percebi onde tinha me metido quando terminei o texto e enviei para amigas e amigos negros e levei umas porradas bem dadas”.

A coletividade das experiências ajudou a construir Sarah de uma maneira com que se conectasse com a realidade recifense, mas ao mesmo tempo se mantivesse no campo da literatura ficcional. No livro, a protagonista veio do interior para a capital pernambucana e disserta sobre maconha, sexo e tecnologias enquanto mulher negra.

Falando sobre essa troca, a recifense Sarah Marques, pouco tempo após o livro ser finalizado, tinha um encontro com a escritora negra premiada pelo Prêmio Jabuti, Conceição Evaristo, e a fez conhecer a história da Sarah ficcional. “Não consigo acreditar que se trate somente de coincidência. De alguma forma eu senti a força do encontro delas e me senti autorizado e abençoado por ambas”, disse Diego Garcez emocionado.

"Sarah"

Trata-se de uma publicação independente que acaba de entrar em pré-venda no Amazon Kindle com o preço de R$5,99. O objetivo é compartilhar as emoções e nuances depositadas no texto com a maior quantidade de pessoas possível. O livro é propositalmente curto - tem apenas 46 páginas estrategicamente pensadas pelo autor e colocadas para rivalizar com o tempo que se gasta nas redes sociais.

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