Filme sobre Hebe Camargo destaca "a estrela do Brasil" para além do brilho

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 25/09/2019 às 19:35
Andréa Beltrão como Hebe - Foto: Divulgação
Andréa Beltrão como Hebe - Foto: Divulgação

Vamos dizer que os realizadores da cinebiografia sobre Hebe Camargo, "Hebe - A Estrela do Brasil", tinham o caminho do espetáculo e o do drama. Pelo primeiro deles, a atriz Andréa Beltrão, que vive o desafio de ser Hebe, iria de braços dados com a maior apresentadora que a TV brasileira já transmitiu, falecida em 2012 e ainda vivíssima no imaginário do País com figurinos deslumbrantes, um par de pernas de fora aos 80 anos, joias preciosas e carisma suficiente pra tocar de A a Z, entre selinhos, risadas e adjetivos como "gracinha!".

O outro caminho não desmontaria a imagem espetacular de Hebe, sacralizada na memória coletiva do País, mas relembraria páginas da vida da artista esquecidas pelo tempo; quem sabe, ofuscadas por tanto brilho. Esse foi o escolhido - e, por isso, o filme deve surpreender muitos dos telespectadores que forem ao cinema nesta quinta-feira (dia 26, quando entra em cartaz) em diante.

Dirigido por Maurício Farias, com roteiro de Carolina Kotscho, a obra resgata uma certa Hebe ao trazer à tona dramas familiares e profissionais. Na tela do cinema, Hebe na intimidade. A gente deixa a sala com uma Hebe mais complexa (como são as pessoas de carne e osso). O longa, sobretudo, torna a apresentadora relevante aos dias de hoje. E essa é uma escolha inteligente: a figura deslumbrante, ainda que vestida chiquérrima na tela, é desnudada, mas cresce.

Hebe é atualíssima

"Hebe - A Estrela do Brasil" faz um recorte da vida da atriz, cantora e apresentadora nos anos 1980 - especificamente, 1985. Situa, então, a estrela no ínterim entre o fim da ditadura e o início da redemocratização do Brasil. O fim (ou não) da censura, as plenárias pró-Constituinte em Brasília e o início de um debate público sobre orientação sexual (no sentido de se falar, uma vez que a discussão ainda se arrasta), catapultado pela alta incidência e mortalidade por aids entre gays, são temas tratados com destaque.

A depender da empatia com esses assuntos ou do apego à ideia mais popular sobre quem foi Hebe, pode até haver impressão de que há uma forçação nesses debates atualíssimos. Mas não há: Hebe, de fato, sofreu com a censura - inclusive, por levar ao seu programa Roberta Close -, e isso lhe custou; Hebe, sim, foi ameaçada por fazer, ao vivo, críticas ao Congresso, e isso também lhe custou; Hebe foi mesmo expiada/espiada pela sociedade por defender gays (como mostra trecho, abaixo, do programa "Roda Viva", da TV Cultura, de 1987), e isso lhe foi questionado. A propósito, o livro "Hebe - A Biografia", de Artur Xexéo, conta mais sobre esses episódios.

Além da força do debate sobre censura, que move boa parte do roteiro, o filme aproxima Hebe do Brasil de hoje em outros momentos - num deles, ela desabafa em seu programa ao vivo algo como "defender aposentados e ser contra a corrupção é crime".

Assista ao trailer de "Hebe - A Estrela do Brasil":

Andréa Beltrão, a Hebe

É corajosa a atuação de Andréa Beltrão como Hebe Camargo. Uma vez que a imitação da apresentadora não seria o melhor recurso, a atriz construiu a própria Hebe, com referências e reverência. Um belo trabalho.

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