Sex Shop feito por e para a terceira idade

Victor Augusto
Victor Augusto
Publicado em 06/09/2019 às 12:25
A-terceira-idade-vai-ao-Sex-Shop FOTO:

O Sex Shop muda conforme as noções de prazer se transformam e se abrem. Assim como o sexo saiu das quatro paredes para se tornar assunto nos mais diversos espaços, o comercio que antes encontrava-se nos becos mais obscuros dos centros urbanos deixou de ser tabu e hoje pode ser visto em galerias e locais acessíveis ao diverso público que deseja inovar na hora "H". Agora, o setor encontra no grupo da terceira idade boa parte da sua clientela.

Vânia Molinari, empresária de aproximadamente 60 anos — a aproximação foi o máximo que ela revelou sobre a idade —, comanda a Love Sex Store. A loja de produtos eróticos, localizada no bairro de Indianópolis, São Paulo, foi montada através da experiência da empresária no ramo e do seu conhecimento prévio como cliente de produtos eróticos.

Vânia Molinari tem 60 anos e é dona do sex shop "Love Sex Store" (Imagem: Cortesia)
Vânia Molinari é dona do sex shop "Love Sex Store" (Imagem: Cortesia)

"Sou cliente também. No começo, eu tinha resistência. Minha criação foi a de que sexo é algo sujo, feio e pecaminoso. Mas, ao estudar, me aprofundei e aprendi que sexo é prazer e saúde. Foi assim que comecei a me libertar e me descobrir", comenta Vânia, que comanda sua própria loja há seis anos.

Sobre sua clientela, ela explica: "Há 15 anos o cliente era homem e mais promíscuo. Conforme tudo vai liberando, se torna mais comum. Então as mulheres começaram a procurar mais o sex shop. Então hoje temos clientes tanto jovens como mais idosos".

Sex Shop se transforma e alcança público mais diverso (Ilustração: Thiago Lucas / Artes JC)
Sex Shop se transforma e alcança público mais diverso (Ilustração: Thiago Lucas / Artes JC)

Enquanto concedia entrevista para a reportagem, uma cliente que se encaixa nesse grupo entrou na loja. Vânia explicou que tratava-se de um exemplo do que leva esse público específico para o sex shop: "ela chegou com vergonha e disse 'a médica me pediu para comprar produtos de pompoar. Vale lembrar, porém, que motivos de saúde não são os únicos que levam pessoas de idade mais avançada às lojas (confira abaixo).

Começo e relação com o público

Apesar do conhecimento, a ideia de montar um sex shop não foi espontânea. Ela surgiu quando Vânia encontrou a porta do seu emprego trancada. Desempregada e com dois filhos, ela pensou em algo que não lhe rendesse preocupação com funcionários e com a reposição de produtos perecíveis.

Apesar dos avanços quanto ao tema, ser dona de um sex shop ainda rende alguns problemas, principalmente com os desinformados: "Na época foi muito constrangedor pra mim. Uma pessoa desinformada acha que aqui tem  serviços, que no caso seria prostituição. Um homem que, por exemplo, entra falando o que não deve, é obvio que eu coloco ele pra fora".

No sentido de restringir a clientela e atrair um público diferente do óbvio, o que inclui a terceira idade, muitas lojas de produtos eróticos tentam conversar mais com os clientes, principalmente os tímidos, e se reinventam como "boutiques sensuais". Entenda:

O renascimento do Sex Shop como boutique sensual

Um vidro revestido com uma película que mostra imagens em preto e branco ajuda a manter o mistério do que se encontra dentro da Lola Sex Store. Quando a porta abre, o cheiro de chocolate toma o olfato do visitante e a cor vermelha, ao contrário do que se espera, deixa o protagonismo para os tons escuros.

"Como sexo já é tabu, já é visto como algo errado e sujo, a maioria das lojas acabam indo pelo mesmo caminho. Acabam ficando feias e não possuem um ambiente leve. Elas tem uma parede de 'pintos', que apesar de ser o que mais vende, acabam espantando a clientela. Claro que aqui tem prótese, mas são sempre escondidas, pois quem vem comprar uma, vai achar, mas quem não quer não deve se sentir constrangido", explicou Camilla Vargas, dona do sex shop de luxo recifense.

Camilla Vargas, dona da Lola Sex Store (Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem) - Camilla Vargas, dona da Lola Sex Store (Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem)
Camilla Vargas, dona da Lola Sex Store (Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem) - Camilla Vargas, dona da Lola Sex Store (Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem)
Camilla Vargas, dona da Lola Sex Store (Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem) - Camilla Vargas, dona da Lola Sex Store (Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem)
Camilla Vargas, dona da Lola Sex Store (Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem) - Camilla Vargas, dona da Lola Sex Store (Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem)

Ela explicou que montar a loja no formato de uma boutique sensual fez com que públicos diferentes fossem atraídos pela ideia: "O consumidor mais velho, de classe alta, não entrava em loja, ele queria algo que levasse o produto na casa dele, pois tinha vergonha e se sentia constrangido".

Sobre o que eles procuram, Camilla explica: "O pessoal mais velho gosta de comprar próteses. Tanto as mulheres quanto os homens. Muitos deles não conseguem mais ter ereção e, pra continuar tendo uma vida sexual ativa sem viagra, recorrem às próteses. Eles adoram a loja, são aqueles clientes que já conhecem todas as vendedoras e são muitos simpáticos. Muitos deles fazem questão de comprar em dinheiro, pois acham que o nome do sex shop vai sair no cartão".

Além das próteses, mulheres e homens mais velhos também procuram o sex shop por questões médicas e para resgatar a vida sexual. Camilla afirma que a procura por ajuda tem aumentado bastante, assim como a especialização médica sobre assoalho pélvico, cuidando de doenças — algumas psicológicas e emocionais — que recaem na vagina e no pênis.

"Muitas mulheres nos procuram . Muitas delas, por algum problema, não conseguem mais receber penetração, pois machuca. Para elas, existem os dilatadores vaginais. Tem outras que sofrem com incontinência urinária e não conseguem o orgasmo de jeito nenhum. Para essas existem os massageadores terapêuticos. São várias coisas que as mulheres mais velhas compram, muitas até com prescrição médica ou indicações de psicólogos", conta Camilla Vargas.

Dessa forma, a empresária pensou em como atrair a clientela com idade mais avançada: "Não tinha como ganhar dinheiro vendendo para cerca de 15% da população. Tive que inventar uma fórmula para trazer o resto do público pra cá. A receita parece ter funcionado e, atualmente, Camilla já tem duas unidades: uma em Boa Viajem e outra nas Graças.

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