"O humor é sempre oposição", diz Gustavo Mendes, após defensores de Bolsonaro se incomodarem com piadas

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 01/09/2019 às 13:47
Gustavo Mendes - Foto: reprodução do Instagram @gustavomendestv
Gustavo Mendes - Foto: reprodução do Instagram @gustavomendestv

Gustavo Mendes - humorista que ficou famoso por imitar a ex-presidenta Dilma Rousseff - publicou vídeo comentando um fato ocorrido em Teófilo Otoni, cidade mineira. Numa apresentação, sexta-feira (30), após fazer piadas com Bolsonaro, parte da plateia resmungou, gritando, incomodada. O humorista, então, rebateu dizendo que essas pessoas poderiam se retirar. "Eu devolvo seu dinheiro", falou. E parte do público deixou o teatro.

No vídeo, Gustavo Mendes defende seu ofício com garra: "Parte da plateia, insatisfeita com as piadas sobre Bolsonaro, se sentiu no direito de dizer o que eu posso ou não posso falar nos meus shows. E isso nunca, amiguinhos, nunca vai acontecer, porque isso se chama censura, e eu não vou aceitar essa tentativa de intimidação. Principalmente vindo de pessoas que se articularam para isso".

O humorista, ainda, refletiu sobre o papel do humorista perante qualquer governo: "O humor é sempre OPOSIÇÃO. [sic] Esse é o papel do artista e, principalmente, o do comediante: incomodar os poderosos". "Eu amo meu público, mesmo aqueles que votaram no Bolsonaro, mas não vou me calar diante do que está acontecendo hoje no Brasil", continua.

Gustavo Mendes também questiona: "Onde estavam essas pessoas quando eu debochava da Dilma? Debochava do Temer?".

Leia na íntegra a transcrição do vídeo publicado por Gustavo Mendes:

Censura e Bolsonaro

É possível que você já tenha sabido o que aconteceu durante o meu show em Teófilo Otoni.
Parte da plateia, insatisfeita com as piadas sobre Bolsonaro, se sentiu no direito de dizer o que eu posso ou não posso falar nos meus shows. E isso nunca, amiguinhos, nunca vai acontecer, porque isso se chama censura, e eu não vou aceitar essa tentativa de intimidação. Principalmente vindo de pessoas que se articularam para isso.

O problema daquelas pessoas não eram as piadas políticas.

Ora, eu sou Gustavo Mendes. Minha trajetória sempre foi de assumir posições com força e transparência, mesmo sabendo que isso incomodava muita gente. O humor é sempre OPOSIÇÃO.
Esse é o papel do artista e, principalmente, o do comediante: incomodar os poderosos.

Onde estavam essas pessoas quando eu debochava da Dilma? Debochava do Temer?

Eu amo meu público, mesmo aqueles que votaram no Bolsonaro, mas não vou me calar diante do que está acontecendo hoje no Brasil: os milhões de desempregados continuam sem ver nenhuma medida que lhes dê esperança; nossa maior riqueza – a Amazônia – sendo devastada, e um governo que incentiva o desmatamento; a promessa de acabar com a corrupção e um governo que tem seus corruptos de estimação; milhões passando fome e um governo que nega a existência da miséria.

Quem não está cumprindo o que prometeu não sou eu. Onde está o Brasil melhor que foi prometido? Violência, corrupção, desemprego, nepotismo; tudo continua e piora porque o presidente está sempre mais ocupado em causar polêmica que governar.

As pesquisas mostram que os que consideram seu governo ruim ou péssimo já são 40%. Amigos, não sou eu que invento esses números, nem sou eu que faz o povo deixar de gostar desse governo. O pior inimigo do Bolsonaro é ele mesmo. E os que apoiam os erros dele.

Isso que aconteceu contra mim, infelizmente não é um privilégio meu. É uma nova onda de intimidação à liberdade de expressão: Roger Waters, do Pink Floyd, e Caetano foram vaiados; Miriam Leitão foi impedida de lançar seu livro numa feira; Gleen – que denunciou a vaza jato - sofreu foguetaço em Paraty; professores são filmados por alunos que se acham no direito de ser uma patrulha ideológica; e por aí vai.

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