Boechat: adeus, querido mestre da notícia

Anneliese Pires
Anneliese Pires
Publicado em 12/02/2019 às 10:10
Foto: Reprodução
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Por Mirella Martins

Conheci Ricardo Boechat há muitos anos numa convenção em São Paulo, onde faria cobertura jornalística. Ele seria o mediador de um encontro. Lembro que, ao encontrar o âncora, gelei. Poucos sabem, mas ele iniciou sua carreira como colunista social, em 1971, ajudando Ibrahim Sued, por 24 anos, a criar uma das mais aclamadas colunas do Brasil, no Diário da Noite, depois em O Globo e no Jornal do Brasil. Segurei meu ímpeto de admiradora, cumprimentei e fui cumprir minha missão. Enquanto apurava, observava o âncora do Jornal da Band e radialista da BandNews FM. “Que emoção. Estou no mesmo lugar que Boechat”, pensava. Não queria perder nada: olhava como ele agia, lidava... Em algum momento, ele percebeu. Rimos umas duas ou três vezes com a “coincidência”.

Boechat conseguia dizer o que todo mundo queria. De forma objetiva, apurada, leve e comprometida. Na hora do coffee break, não me contive e o abordei: “Desculpe, faço coluna social e sei de sua origem. Queria uma dica; uma inspiração, uma luz”. Ele olhou nos meus olhos, sério, e caiu na gargalhada. Segurei a respiração. Fiquei nervosa. “Não deveria ter abordado. O cara é uma celebridade e não deve aguentar essa tietagem”, refleti. No fundo, bem no fundo, sou tímida. Para quebrar o gelo, emendei: “É porque luto muito para quebrar o estigma de que coluna social é uma subespécie de jornalismo e sinto que vocês foram os primeiros a romper esse paradigma...”.

Boechat, ainda sério, segurou nos meus ombros – como um pai que quer dar conselho ao filho – e disse: “Sou o jornalista que eu sou hoje por conta da minha época de colunista social. Nunca escondi isso. Sei o que é apuração pelo que fazíamos lá atrás. Enquanto um repórter apurava uma matéria por dia, tínhamos o mesmo tempo para fazer quatro, cinco ou seis. Tudo vira notícia. Com apuração e credibilidade. O que eu posso dizer para você? Conte histórias. Nunca esqueça de contar histórias”. Falou em meio a uma risada debochada.

Nesta segunda cinzenta, em que recebi a notícia da morte do mestre Boechat, tenho a certeza de que nunca esqueci e nunca esquecerei o seu conselho. Jamais! Vá em paz!

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