Porta-voz dos Bombeiros de MG, Pedro Aihara ganha admiradores e agradece o carinho e apoio

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 30/01/2019 às 20:26
Pedro Aihara é chamado de Japa, internamente, no Corpo de Bombeiros de MG - Foto: reprodução do Instagram
Pedro Aihara é chamado de Japa, internamente, no Corpo de Bombeiros de MG - Foto: reprodução do Instagram

Há um rosto profissionalmente sereno e uma fala humanizadamente clara emergindo do lamaçal de Brumadinho, provocado pelo rompimento da barragem da Vale. A postura do porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, o tenente Pedro Aihara, tem sido vista como o respiro de algum respeito naquele cenário mais do que desrespeitoso com vidas humanas, animais e meio ambiente.

Desde que a tragédia criminosa no município mineiro deixou perplexa toda gente sensível, Aihara, de apenas 25 anos, tem enfrentado uma variedade de jornalistas e câmeras. E tem cumprido com (novamente) profissionalismo e humanidade a missão de dar informações e fazer esclarecimentos sobre as buscas de vidas e o resgate de corpos. O jovem belo-horizontino é, então, o rosto-símbolo do trabalho nobre feito pela corporação que ele representa.

A quantidade de elogios nas redes é gigante. O número de seguidores no Instagram inflou nesses dias (no intervalo de uma hora, enquanto redigia esse texto, foram mais de dois mil novos seguidores). Devido à tamanha projeção, Pedro Aihara agradeceu na rede social: "Não desejo nem mereço nenhum tipo de reconhecimento ou aplauso, desejo apenas que meu trabalho seja capaz de transmitir o meu respeito e a minha solidariedade por tantas pessoas que sofrem agora com essas perdas tão abruptas". A tal postagem, até a publicação deste post, soma cerca de 45 mil curtidas e quase quatro mil comentários.

Pedro Aihara numa das muitas entrevistas que já concedeu à imprensa, em Brumadinho - Foto: reprodução da TV Globo

Trajetória

Pedro Aihara ingressou no Corpo de Bombeiros em 2012. É formado em direito pela UFMG, especialista em prevenção de desastres pela Universidade de Yamaguchi, no Japão, e também especializado em gestão de projetos, pela USP. Em 2015, participou das operações de busca na tragédia de Mariana, quando a barragem da Samarco (também da Vale, como a de Brumadinho) rompeu matando 19 pessoas, destruindo comunidades, rios e vegetação.

Tornou-se porta-voz da corporação depois de ter demonstrado talento para articulação em missões que pediam diálogo. Estreou no posto num caso que também comoveu o País - o incêndio na creche Gente Inocente, em Janaúba, interior de Minas, que matou oito crianças, além da professora Helley de Abreu Silva Batista, morta ao tentar salvar os pequenos.

A força

No post de agradecimento no Instagram, Pedro Aihara diz que as orações e gentilezas que têm recebido são combustível para continuar a missão em Brumadinho, e conta de onde vem a força: "Peço a Deus, todos os dias, que ilumine a mim e aos meus companheiros para que possamos exercer nossa profissão de modo a diminuir um pouco do sofrimento das vítimas e de suas famílias. Para mim, isso nunca foi e nunca será apenas uma profissão. Cada vida conta e conta muito. E dói".

O bombeiro também deixa mensagem empática - que diz respeito à capacidade de a gente se colocar no lugar do outro. "Tragédia não escolhe classe social, cor, preferência política. Hoje é a família de outra pessoa, mas poderia ter sido a minha. E é também tendo isso em mente que nós continuaremos incansavelmente, pois maior que qualquer tragédia será sempre a nossa esperança e a nossa fé."

A projeção de Pedro Aihara, baseada na admiração que o jovem tenente tem despertado, sustenta-se na missão nobre, na postura humanizada, mas também num sobre-esforço: as pouquíssimas horas de sono (cerca de três ou quatro por noite) que o trabalho tem imposto e, ainda, a precarização das condições de trabalho da corporação, que tem recebido salário em parcelas e aguarda o 13º de 2018, sem perspectiva.

Ele é um herói. Eles são heróis.

Leia o post publicado pelo bombeiro Pedro Aihara na íntegra:

É impossível responder a todas as mensagens nesse momento tão triste e corrido. Só gostaria de agradecer, do fundo do meu coração, a cada manifestação de carinho e apoio que tenho recebido em nome da minha Corporação.

Peço a Deus, todos os dias, que ilumine a mim e aos meus companheiros para que possamos exercer nossa profissão de modo a diminuir um pouco do sofrimento das vítimas e de suas famílias. Para mim, isso nunca foi e nunca será apenas uma profissão. Cada vida conta e conta muito. E dói. Tragédia não escolhe classe social, cor, preferência política. Hoje é a família de outra pessoa, mas poderia ter sido a minha. E é também tendo isso em mente que nós continuaremos incansavelmente, pois maior que qualquer tragédia será sempre a nossa esperança e a nossa fé.

Não desejo nem mereço nenhum tipo de reconhecimento ou aplauso, desejo apenas que meu trabalho seja capaz de transmitir o meu respeito e a minha solidariedade por tantas pessoas que sofrem agora com essas perdas tão abruptas. Que vocês saibam que cada oração e gentileza recebidas tem sido combustível para que tente me fazer digno dessa missão.

Pedro Aihara

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