"A mulher tem que estar sempre se afirmando", analisa Joana Lira, aos 25 anos de carreira

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 17/07/2018 às 8:00
Joana Lira - Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem
Joana Lira - Foto: Dayvison Nunes / JC Imagem

Já são 25 anos de carreira na conta de Joana Lira, 42. A gente celebra a obra da designer e artista visual com o papo que segue. Acompanhe:

Você já falou publicamente sobre entraves quando chegou a São Paulo, por ser mulher, nordestina e de baixa estatura. E agora, com 25 anos de carreira?

Claro que hoje há um reconhecimento, e ele introduz qualquer negociação, porque há uma trajetória – se você ‘dá um Google’, vê um tanto de trabalho realizado –, mas a mulher tem que estar sempre se afirmando. Mesmo 25 anos depois.

E como você se afirmou e se reafirma enquanto uma artista mulher?

Eu sou uma artista que gosta de negociar. Mas não é que eu goste... eu aprendi para me defender! Ouvia muitas propostas de trabalho de graça, só pra me divulgar, e nunca aceitei, porque todo trabalho precisa ser remunerado. Minimamente que seja. Sempre fui atenta, afirmativa e confiante no que fazia, e isso me ajudou a negar várias coisas e ter certeza de que estava indo pelo caminho certo.

A sua linguagem visual é mesmo um caminho que deu certo...

Sim, mas a imagem se desgasta muito rápido. Eu achei minha linguagem visual cedo, mas ela virou uma prisão também muito rápido. Eu me vi agradando um público, mas com capacidade de desenvolver outras coisas. Ainda bem que sou intuitiva e, quando acho que tenho de fechar um ciclo, fecho. Em geral, acontece quando estou no ápice, mas é que sou movida a desafios. E criatividade é isso: começa com a angústia, até achar um caminho.

A decoração do Carnaval do Recife é um ciclo fechado?

Sim! E não é que eu vire a cara; eu transformo.

A propósito, a mostra com peças do Carnaval do Recife vem pra cá?

Dia 15 de janeiro, no Centro Cultural Cais do Sertão. Só preciso de patrocínio! Consegui algum, mas não para a exposição toda, que será maior do que foi em São Paulo. Vai ocupar uma sala de 400 metros quadrados e todo o vão.

Por que vive em SP?

São Paulo aconteceu por acaso, e como gosto de desafios... Ela é curiosa, porque são várias cidades numa só. E, por mais austera que pareça, você cria uma relação: anda a pé, o paulistano, que tem fama de ser mais frio, é acolhedor... Como tem gente do Brasil e do mundo todo, há uma curiosidade sobre o outro. É, óbvio, um lugar com muitas oportunidades, e pra mim está superconfortável: o ateliê fica perto de casa, nem tenho mais carro. De dois anos pra cá minha vida é a pé, adoro andar de ônibus e metrô, encontrar gente na rua...

Tem a ver com os 40 anos?

Tem sim. A gente vai seguindo um fluxo, que é quase um comando, e perto dos 40 eu questionei fatos que a vida foi dando. O carro, na verdade, eu queria trocar, até que surgiu uma oportunidade de venda e me vi andando de Uber, depois a pé, até que peguei um carro e tive que me preocupar onde estacionar. O carro não é uma liberdade. Isso foi só o começo de uma quebra de padrões.

Uma transformação?

É a tal da maturidade. Mais novo, você não tem segurança nem distância de si mesmo para se questionar. Você não se vê. Está tão apavorado em cumprir um padrão, que não questiona sobre quem você é. E a vida não pode ser isso.

Últimas notícias